Crítica | Kakegurui — 2ª Temporada é uma aposta até a loucura
Livros, filmes, animes e HQs oferecem ao público infinitas possibilidades de referências (não é mesmo, Capitão América?). Aproveitando esta alusão a Marvel, utilizarei o pensamento de um grande vilão contemporâneo da Cultura Pop, para reforçar uma ideia. Se “a realidade tende a ser decepcionante“, o oposto de “realidade” tende a ser agradável? Usar tal frase para legitimar a proposta de um anime é válido, porque o “irrealismo” de Kakegurui nunca decepciona (entendeu, Thanos?). Se a season 1 escancarou as portas da insanidade com uma história hipnótica, a 2ª temporada é um passo ousado para o abismo das apostas.
Sobre a 2ª Temporada de Kakegurui:
Após o empate que ocorreu no duelo entre a Kirari e Yumeko Jabami, os alunos passam a querer disputar a vaga de presidente do grêmio estudantil e com isso, novos jogadores chegam à escola para apimentar a concorrência: o Clã Mobobami. Quem será o grande vencedor?
A 2ª temporada de Kakegurui você confere na Netflix. Com doze episódios, o anime consegue manter a essência excêntrica da temporada passada e subir mais alguns degraus no quesito “insanidade”.
Engana-se quem pensa que Naruto ou Cavaleiros do Zodíaco são as únicas opções que a Netflix tem a oferecer em seu catálogo para os fãs de animes. Não é preciso ser um “Otaku”, para reconhecer o espaço que a líder dos streamings cedeu para os amantes da cultura pop oriental. Cada vez mais, apostando nesse nicho, a plataforma oferece um cardápio de encher os olhos, com doramas, filmes e animações.
Todo mundo já se aventurou pela Netflix, passando longos minutos procurando algo para assistir, não é mesmo? Algumas vezes, essa busca é capaz de resultar em absolutamente nada (isso é bizarro!). Em outros casos, podemos esbarrar em um conteúdo original e viciante, como aconteceu comigo. Kakegurui tornou-se o pote de ouro no fim do arco-íris, uma analogia banal, decerto, mas foque no “ouro”, pois é o dinheiro que move as escolhas dos personagens desse anime.
Ah, o Capitalismo! Se tem um pano de fundo que grita em Kakegurui é a dependência por cifrões, a busca pelo poder e as faces políticas. Dessa vez, os personagens estão numa corrida em busca do controle escolar: tornar-se o presidente do Grêmio Estudantil. Colocando em xeque o antigo sistema e apostando a hierarquia, assistimos em cada episódio uma sucessão de apostas e jogos que determinará o aluno a ocupar o topo da pirâmide escolar.
No entanto, se você acha que o dinheiro será tudo o que os protagonistas colocarão na competição, engano seu! O futuro, a vida e até mesmo um “dedo” tornam-se moedas nessa temporada. Como diz a protagonista, Yumeko Jabami, “vamos apostar até a loucura?“.
O novo ciclo do anime merece aplausos ao consolidar a trama ao redor do Clã Mobobami (sobrenome este, semelhante ao da protagonista). Os misteriosos membros desse clã oferecem para o público os motivos, tanto positivos, quanto negativos, para que possamos apostar nossas fichas, ou no personagem “x“, ou no personagem “y“. Ninguém é confiável, claro, e essa é a parte mais divertida, pois nossas tentativas de desvendar a real intenção de cada personagem é como um jogo à parte, entre nós e a narrativa. É como se o enredo dissesse “e ai, em quem você aposta?“. Pelo menos, o público tem a opção de continuar apostando, agora os personagens, infelizmente, não tem essa sorte.
Se na primeira temporada, Yumeko provou por A mais B que é capaz de aceitar qualquer desafio, dessa vez, ela elevou essa certeza à décima potência. Seguir os passos de uma protagonista que é uma apostadora compulsiva, garante situações peculiares. Se para ela, apostar tudo causa êxtase e deleite, resta para nós altas quantias de ansiedade, apreensão e surpresas. A linha tênue que separa vitoriosos e derrotados é o lugar preferido dela, ganhando ou perdendo, são as reviravoltas que compensam.
Ainda falando sobre a figura principal do anime, dois inconvenientes se repetem. Mais uma vez, o enredo apresenta, de forma tímida, informações nebulosas sobre o passado de Yumeko; olhar para ela é a mesma coisa que vislumbrar a silhueta de um ponto de interrogação. Talvez, as próximas temporadas quebrem esse empecilho narrativo e nos conceda o que tanto queremos saber: quem, de fato, é Yumeko Jabami.
O segundo inconveniente está associado a construção da protagonista, o que pode causar olhares franzidos de alguns. Sim, Yumeko é uma personagem “apelona”, entretanto, uma vez que você compra a ideia do anime, esse fator não interfere na evolução do enredo (aqui podem existir divergência, claro!).
A 2ª temporada mantém a qualidade visual, extrapolando as expressões macabras e distorcidas dos personagens, tal como os olhares penetrantes e chamativos, acentuados por cores neons. O estúdio MAPPA (responsável pela futura temporada final de Shingeki no Kiojin) soube expressar na tela a identidade visual do anime, assumindo o lado caricato presente nas páginas do manga. Graças ao trabalho deles, a loucura tem rosto, nome e endereço: Kakegurui!
Quem diz que o anime exagera ao mostrar as reações dos personagens durante os jogos é porque nunca assistiu, ou participou de uma partida de Truco no Brasil (para quem não conhece, trata-se de um jogo com muitos gritos, cartas de baralho e “roubos”).
Os diálogos continuam ágeis e não sobra tempo para respiros. As viradas no roteiro sempre acompanham frases impactantes, que viram a mesa do jogo, repentinamente. Sabe aqueles memes, quando alguém “mita” ao dizer algo ousado, e a edição do vídeo faz surgir um óculos preto sobre a face do proclamador da frase? Prepare-se, pois Kakegurui é uma sucessão desses momentos.
Uma vez, na primeira temporada, foi dito “na sociedade capitalista, o dinheiro e a vida são a mesma coisa… Mesmo assim, as pessoas ainda lotam os cassinos porque elas aproveitam o prazer da loucura de apostar as próprias vidas“. Se tem um mérito conquistado pelo 2º ano de Kakegurui, foi erguer a bandeira da insanidade, vestindo de uma vez por todas o traje de “anime loucamente bizarro e divertido”.
Quem nunca “roubou” em uma partida de dominó, Uno, Banco imobiliário, 21, pôquer ou qualquer outro divertimento que envolva estratégias, que atire a primeira pedra! Cá entre nós, você trapaceou as regras, pelo menos uma vez, não é mesmo? Se porventura, sua resposta for “não”, pode ter certeza que Kakegurui vai abrir seus olhos e mostrar como os jogos podem ser controlados pelas “artimanhas”.
Se você procura algo diferentão, que desafie sua percepção, aposte suas fichas em Kakegurui. Ganhando ou perdendo, será uma experiência singular.
Nota: 4,5/5
Assista ao trailer do anime:
Confira a crítica da 1ª temporada clicando aqui.
Veja também: Crítica | Eu Nunca…
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