Crítica | Greyhound
Produção original da Apple Plus, “Greyhound” investe em mais uma história da Segunda Guerra Mundial – dessa vez, a Batalha do Atlântico. Adaptado por Tom Hanks do romance “The Good Shepherd”, de C.S. Forester, o drama marítimo escapa por pouco de afundar junto com os seus navios de carga.
Projeto apaixonado de Tom Hanks – que trabalha há anos para tirá-lo do papel -, “Greyhound” é um retrato dramático de um herói silencioso sob o estresse máximo de uma batalha naval. Assumindo mais uma vez a alcunha de “capitão” – após as suas performances em “O Resgate do Soldado Ryan”, “Capitão Phillips”, “Sully” e “Apollo 13” –, o ator duas vezes vencedor do Oscar declara novamente o seu entusiasmo por temas da 2ª Guerra e assina, agora, o roteiro da nova produção da Apple Plus sobre o famoso conflito no coração do oceano.
No Atlântico Norte, durante os primeiros dias da Segunda Guerra Mundial, o capitão da marinha Ernest Krause (Tom Hanks) – que cumpre a sua primeira missão após Pearl Harbor – é encarregado de liderar um comboio internacional de 37 navios aliados que se dirigem à Grã-Bretanha. Prosseguindo por um trecho marítimo conhecido como Black Pit – área geográfica fora do alcance de aeronaves de apoio -, a frota é atacada em alto-mar por submarinos alemães e deve batalhar por cinquenta horas até estar em segurança novamente.
“Greyhound” é um relato reservado sobre a perspectiva do personagem de Tom Hanks em seu navio de guerra. Forte e religioso, Krause enfrenta o inferno e guarda todo o terror dentro de si, enquanto traça estratégias para derrotar um inimigo que se esconde sob o azul do mar e que pontualmente deixa a sua voz seu ouvida – “O lobo está com muita fome”. Nesse ponto, a narrativa do filme abre uma janela para uma arena de combate pouco reconhecida e, até certo momento, gera a ação necessária para que o público não perceba – ou não se importe – com algumas coisas fora do lugar.
O primeiro contato que temos com o personagem de Tom Hanks é em fevereiro de 1942, quando o mesmo recebe a sua missão de “pastorear” a frota de navios. Logo depois, somos apresentados ao único vislumbre da vida pessoal de Krause: um encontro rápido com o seu interesse amoroso. Evelyn (Elizabeth Sue) não tem mais do que dois minutos de tela e, infelizmente, aparenta ser uma tentativa forçada do roteiro de gerar empatia ao redor do personagem que, por 82 minutos, estará no comando de um destróier. A escolha é falha, no entanto, e a tarefa de sustentar toda a curiosidade do público depende de Hanks. Nesse momento, o filme tem o seu ápice.
Devoto ao seu trabalho e às suas crenças, o capitão do Greyhound está esgotado. Sob o estresse de a missão – aparentemente suicida – ser o seu primeiro comando, o marinheiro não come e não dorme. Enclausurado em um alvo dos nazistas, ele permanece altamente profissional, ao mesmo tempo que está completamente assustado e que lamenta a perda de tantas vidas. Quando uma embarcação alemã naufraga, Krause pranteia: “Menos cinquenta almas”. Tom Hanks é formidável e é, de longe, a melhor coisa do filme. O personagem sangra, literalmente, e nós sentimos o fardo sobre os seus ombros.
Infelizmente, o sucesso da atuação de Tom surge como pano de fundo para a absoluta falta de impacto que “Greyhound”, no geral, apresenta. O palco do filme é o destróier de Krauser e, fora dali, nada é minimamente desenvolvido para oferecer qualquer relevância. As centenas de mortes em combate servem, aparentemente, para compor cenas bonitas de efeitos especiais – que são traduzidas em longínquas explosões. Não há impacto e não há sensação de perda. Para o espectador, os mortos não têm rosto.
“Greyhound” tem uma premissa simples: tirar o fôlego do espectador durante uma hora e meia. O filme leva crédito por isso e, em momento nenhum, deixa a narrativa cair na monotonia. Apesar dos problemas, a ameaça é constante e, em sua maior parte, invisível. Torpedos alemães podem vir de qualquer direção e afundar qualquer navio. A intensidade do longa é propositalmente edificada para entregar a pior das sensações de claustrofobia.
Aposta do streaming, “Greyhound” é uma adição interessante ao catálogo da Apple Plus. No entanto, o filme ainda não é suficiente para afundar a sua concorrência. Longe de produções como “Dunkirk” ou “1917”, o filme é, em certos momentos, atraente e se diferencia de muitos do gênero. Contudo, apoiando-se em Tom Hanks para funcionar, a produção nunca se arrisca e insiste em arranhar apenas a superfície do que poderia ser.
Nota: 3/5
Assista ao trailer:
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