Crítica | Lúcifer – 5ª Temporada [Parte 1]
Baseado nos quadrinhos da DC Comics criados por Neil Gaiman, a quinta temporada de “Lúcifer” retorna ao streaming em uma trama celestial provocante e – acima de tudo – caótica, que insiste em circundar a sua zona de conforto e ignorar o espaço de sobra que tem para se desenvolver.
Drama procedimental originário da Fox, “Lúcifer” chegou às telas, primeiramente, em 2016. Alvo de críticas predominantemente mistas, a série – desenvolvida por Tom Kapinos – conquistou uma legião de fãs devotos e garantiu três temporadas produzidas pela emissora norte-americana – em parceria com a Warner Bros. No entanto, apesar do rápido sucesso e da trama chamativa sobre o Diabo que renunciou aos seus deveres no Inferno e veio tirar férias na Terra, o programa deixou de ser lucrativo para o canal e foi, finalmente, cancelado.
Prontamente resgatada pela Netflix, que viu na produção a oportunidade perfeita de reformulação para o seu catálogo, “Lúcifer” ganhou uma quarta temporada completamente diferente de suas anteriores e conseguiu definir o caráter “ideal” para o seu desenvolvimento. Investindo em personagens novos e em arcos interessantes – além de tentar escapar do modelo seriado auto-conclusivo de seus três primeiros anos – , o salto de qualidade que a série encontrou ao cair nas mãos da gigante do streaming foi significantemente desmontado e a trama celestial sobre o Rei do Inferno retornou à sua antiga zona de “conforto” – mesmo sabendo do espaço que tinha para se desenvolver.
Lúcifer (Tom Ellis), na quinta temporada, encontra-se novamente recluso no Submundo, após declarar o seu amor por Chloe Decker (Lauren German). Reabraçando os seus compromissos bíblicos, o Diabo passa um milênio voluntariamente torturando pecadores e deixa a sua vida “humana” para trás. O vácuo de sua ausência, no entanto, atrai o seu irmão gêmeo Miguel, um Arcanjo que pretende assumir a sua identidade em Los Angeles. Dessa forma, Lúcifer se vê obrigado a retornar à Terra para proteger àqueles que ama, enquanto embarca em uma jornada de autoconhecimento perigosa e expositiva que revelará segredos dramáticos e desafiadores.
A premissa central de uma trama interessante salta aos olhos ainda no começo da quinta temporada, quando o drama celestial instaurado no mundo dos vivos pelo embate entre Lúcifer e Miguel tem início. Definitivamente digno de nota, a produção detém em mãos um arco narrativo tão curioso quanto o de Eva, na quarta temporada, e recorre à situações complexas que, notoriamente, deixam qualquer espectador excitado e ávido por mais. Envolvendo e impactando, profundamente, diversos dos personagens, a trajetória ambiciosa de “Lúcifer” reflete em seu contexto geral e oferece um duelo épico entre anjos e demônios que ficará marcado no imaginário de qualquer fã da série. A construção crônica dos atos de “Lúcifer” é bem detalhada e se apoia novamente em um Tom Ellis inspirado que é, simplesmente, certo para o papel.
Os ingredientes necessários para o sucesso absoluto do seriado estão ali – e são bem definidos – , porém, a mixagem de todos eles gera um produto fraco e, de certa forma, decepcionante.
Insistindo em desenvolvimentos e em narrativas rasas, “Lúcifer” deixa de lado o que tem de melhor e se perde em suas próprias peculiaridades, de forma a pecar na execução de uma ideia, na teoria, interessante. A trama central do quinto ano da série é intercalada com casos policiais – um por capítulo, desde 2016 – que desviam a atenção do público do que é realmente necessário e que atrasam, ou até mesmo prejudicam, o desenvolvimento dos fatos. O sistema procedimental – clássico dos seriados dos anos 90 – não deveria ser mais bem-vindo aqui. Porém, ele ainda rege a maior parte do tempo de tela de “Lúcifer” e, simplesmente, cria uma monotonia desnecessária em todos os episódios. Há quem goste. Contudo, a reformulação da Netflix deveria oferecer algo de novo, como foi visto na quarta temporada, e não voltar à sua zona de conforto – fato que a fez ser cancelada dois anos atrás.
A primeira parte da quinta temporada da série da Netflix oferece, mais uma vez, uma Ella (Aimee Garcia) sem destaque individual algum e reduzida à um “alívio cômico” que convence – por pouco – por sua doçura. Além dela, Maze (Lesley-Ann Brandt) é outra personagem prejudicada pela falta de competência criativa da equipe. “Presa” em um mesmo arco – no qual é constantemente sujeitada à adversidades para que volte a apresentar um “comportamento demoníaco” – , ela é vítima de um descaso que também a reduz a uma “sidekick” de quem quer que ofereça a melhor “recompensa”. Por fim, temos Dan (Kevin Alejandro), que continua a ser uma peça do tabuleiro sem importância alguma – haveria diferença se ele simplesmente desaparecesse? O “desprezo” por seus maiores patrimônios prejudica diretamente a série, que vê, cada vez mais, problemas na construção de uma narrativa coesa, profunda e realmente significativa.
“Lúcifer”, em um nível satisfatório, tornou-se um produto básico da Netflix que muitos fãs irão gostar. Afastando-se dos riscos que poderiam alavancar a série de patamar, a primeira parte da quinta temporada decepciona ao repetir seus erros passados e ao se recusar a desenvolver suas maiores qualidades. No entanto, recheada da sexualidade maligna e sangrenta que a tornou um sucesso, a série se “salva” ao apresentar um cliffhanger – gancho narrativo para o próximo episódio – incrível que tende a tornar a reta final do quinto ano do Príncipe das Trevas a mais interessante e relevante desde 2016 – esse é o nosso verdadeiro desejo.
Inicialmente caótica, a nova roupagem da produção americana encontra um meio-termo moroso que – inerte em sua zona de conforto – ainda encontra brechas oportunas para empolgar e criar expectativas.
A segunda parte da quinta temporada de “Lúcifer” ainda não tem previsão de estreia.
Nota: 3/5
Assista ao trailer:
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