Crítica | Espírito de Família
Dirigido e roteirizado pelo francês Eric Besnard, especialista em comédias dramáticas, “Espírito de Família” concentra seus esforços na comunhão de uma trama comovente e sincera com o cenário melancólico de uma casa em luto. Aparentemente reciclado, o lançamento da Apollo Films abraça as convenções do gênero e oferece uma aventura agradável e encantadora – ainda que pouco original.
“L’Esprit de Famille” acompanha uma parte da vida de Alexandre (Guillaume De Tonquedec), um escritor que – constantemente mergulhado em seu trabalho – deve enfrentar a repentina morte de seu pai (François Berléand). Abraçado na miséria de sua perda e distanciando-se de seus entes mais próximos, Alexandre, no entanto, começa a vê-lo e a escutá-lo por todo o lado, embarcando em uma jornada de autoconhecimento e dúvida que afeta todos ao seu redor e que o faz “perder a cabeça”, à medida que deve lidar com críticas e situações constrangedoras frutos da relação conflituosa que mantém com o inconveniente espírito.
Enquanto tenta se desvencilhar da intempestiva presença de seu falecido pai, o protagonista desperta a preocupação dos outros membros de sua família – que lidam com os próprios sentimentos, ao mesmo tempo em que assistem o escritor conversar “sozinho” e mudar constantemente de comportamento. O luto na casa de praia de Morbihan, no noroeste da França, deve colocar os laços domésticos à prova e, em um turbilhão de emoções e desconsolos, encontrar harmonia e união onde antes havia ressentimento e culpa.
Inicialmente lenta, a roupagem de “Espírito de Família” é bem definida e procura tratar com sutileza o doloroso tema de luto e morte. No entanto, circundado pela ironia amplamente presente na filmografia do cineasta francês, o tom enérgico e irreverente desejado por Eric Besnard logo toma conta das ações e se estabelece como a comédia dramática dinâmica e confiante que conquistará a simpatia de muitos espectadores. Recheado de personagens caricatos em profunda comunhão com seus intérpretes, o desenrolar da trama fictícia é regular e rende bons frutos.
Em contrapartida, o ponto negativo do longa da Apollo Films reside na imensa previsibilidade da trama. Tratando de um assunto amplamente explorado na história do cinema, “L’Esprit de Famille” não oferece nada diferente do usual e peca na simplicidade dos fatos documentados. Ainda que pouco original, a produção tenta se desvencilhar dessas amarras, mas não resiste à trivialidade. Contudo, apesar de não assumir grandes riscos, a produção sabe o que quer ser e aposta numa simplicidade comovente que, finalmente, demonstra grande valor e consegue agradar na medida que emociona – sobretudo quando o espírito do falecido pai é capaz de despertar o melhor que existe dentro de cada um dos personagens.
“Espírito de Família” é uma alegoria sobre a morte, a vida e a memória. Investindo em um tom ameno e divertido, o longa-metragem acerta em algumas escolhas e deve receber crédito, uma vez que é capaz de superar a falta de originalidade da trama abordada e de transformar a ordinária aventura francesa de uma família em luto em uma lição aconchegante e aprazível.
Cativante, ainda que clichê, a produção de Eric Besnard revela ser mais do que uma comédia rasa e mergulha fundo na proposta de explorar os laços familiares em momentos críticos da vida cotidiana. Extremamente relacionável, “L’Esprit de Famille” conquista, lentamente, o espectador e torna-se uma jornada simbólica e bonita sobre a influência dos mortos naqueles que ficam.
“Espírito de Família” estreia dia 17 de setembro nas plataformas de streaming para compra e aluguel digitais.
Nota: 3/5
Assista ao trailer:
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