Crítica | A Maldição da Residência Hill
Baseada no romance de 1959 de Shirley Jackson, “A Maldição da Residência Hill” é uma série de terror sobrenatural criada por Mike Flanagan para a Netflix. Ressuscitando a essência do gênero, a produção da Paramount Television destrói paradigmas e assusta, na mesma medida que mergulha na loucura sombria de uma casa amaldiçoada e arrepia até o mais cético dos espectadores.
“A Maldição da Residência Hill” tem início no verão de 1992, quando Hugh (Henry Thomas e Timothy Hutton) e Olivia Crain (Carla Gugino) se mudam com os seus cinco filhos para a assustadora Mansão Hill. Intencionados a reformar todo o local para, depois, vendê-lo por um preço maior, os planos da família começam a ser tragicamente interrompidos quando elementos sobrenaturais presentes na casa começam a se manifestar.
Alternando entre passado e presente, a série de terror segue os cinco irmãos, agora adultos, tendo que lidar com os fantasmas seculares que insistem em assombrá-los. Enquanto enfrentam situações horripilantes envolvendo a mansão e superam o luto de um suicídio na família, Shirley (Elizabeth Reaser e Lulu Wilson), Theo (Kate Siegel e Mckenna Grace), Nell (Victoria Pedretti e Violet McGraw), Luke (Oliver Jackson-Cohen e Julian Hilliard) e Steven (Michiel Huisman e Paxton Singleton) retornam à maldita residência a fim de decifrar a forte ligação da Residência Hill com os Crain e, assim como um mergulho na escuridão, salvar as suas vidas.
“A Maldição da Residência Hill”, carro-chefe do catálogo da Netflix em 2018, aposta na distinta experiência de Mike Flanagan – diretor de “Ouija: Origem do Mal” e “Jogo Perigoso” -, para ressuscitar a essência clássica do terror e catapultar o espectador em direção ao medo. Evocando espíritos malignos e realocando-os em corredores estreitos e escuros de uma mansão aparentemente “viva”, o thriller sobrenatural sobre a família Crain se estabelece como um dos melhores já produzidos e é, deliberadamente, capaz de enterrar os corpos podres de cada ser que já pisou na Mansão para substituí-los pelo silêncio ensurdecedor de uma necrópole assombrada.
Desde o início da narrativa macabra de Flanagan, a produção desenvolve um ritmo próprio envolvente e bem construído. O espectador é apresentado a duas linhas temporais distintas sobre uma mesma família e, episódio a episódio, as peças do cenário grotesco da Residência Hill se encaixam de forma elétrica e viciante. A engrenagem narrativa apresentada torna o caos psicológico dos personagens o nosso próprio, e somos capazes de sentir na pele calafrios por cada contato fantasmagórico e cruel vindo da casa dos Crain. Finalmente, o conto de terror da Netflix é coroado por dois plot-twists do tamanho que a produção precisa, encerrando o seu ciclo de maneira brilhante.
“The Haunting of Hill House“, no original, conta com um elenco selecionado a dedo que, aparentemente, foi esculpido para a narrativa de Flanagan. Liderados por Victoria Pedretti – a intérprete de Nell Crain – que, em especial, é um show à parte, todos entregam acima do esperado e compõem uma equipe qualificada que torna cada minuto da jornada maligna na Mansão Hill um deleite audiovisual. Surgindo como um presente para os fãs do gênero, a produção do streaming torna-se referência em tudo o que faz.
Estratosférica, a série da Netflix é paciente e, em 10 episódios, foge da monotonia para mergulhar fundo em uma investigação poderosa sobre o efeito duradouro do trauma. Criada para envolver, o público não é saturado e encontra a vilania dentro de cada um em tela, assim como em si próprio. Não são apenas as palavras de “Residência Hill” que marcam, mas as imagens de um horror sincero e fúnebre, como a Moça do Pescoço Quebrado. Obstinada a ser diferente, a produção se estabelece em um patamar inimaginável e agrada tanto quanto espanta.
“A Maldição da Residência Hill“, fugindo das amarras de gênero há muito estabelecidas, conjura uma sequência narrativa épica, assustadora e apaixonante. Como um filme de terror que só deve ser visto à luz da Lua, a série de Mike Flanagan trará todos os seus medos à tona e, em um arrepio ininterrupto capaz de percorrer toda a extensão da coluna, lhe fará duvidar da própria sanidade. A beleza da adaptação do clássico de Shirley Jackson, de 1959, é imortal e, com toques de perversidade circunscritas em cada linha do roteiro, é capaz de dar à vida uma inesquecível ode ao terror. Assim como espíritos andam amaldiçoados pelos tortuosos corredores da Mansão Hill, ela também está aprisionada em nossas mentes, dessa vez, para sempre.
Nenhum organismo vivo é capaz de existir com sanidade sob condições de absoluta realidade. Até cotovias e gafanhotos supostamente sonham. A Residência Hill, desprovida de sanidade, erguia-se sozinha contra os montes, abrigando em si a escuridão. Foi assim durante cem anos e talvez seja por mais cem. Em seu interior, as paredes se erguiam verticalmente, os tijolos se uniam com precisão, o assoalho era firme. O silêncio repousava soberano sobre a madeira e a pedra na Residência Hill. E o que por lá andasse, andava sozinho.
“A Maldição da Mansão Bly” estreia no dia 9 de outubro na Netflix.
Nota: 5/5
Assista ao trailer:
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