Crítica | Nanatsu no Taizai – Os pecados e as virtudes de uma 3ª Temporada polêmica
Conhecido por mesclar fantasia medieval com elementos religiosos, Nanatsu no Taizai chega a sua 3ª temporada com a promessa de entregar confrontos épicos e respostas para as perguntas que assombram a mente dos fãs. No entanto, os pilares que deveriam ser os maiores trunfos do anime, tornam-se seus maiores pecados: o roteiro e a qualidade da animação.
Não é qualquer anime que rompe a barreira geográfica e consolida uma legião de admiradores fiéis por todo o mundo. As poucas animações orientais que conseguem tamanha façanha precisam realizar a difícil tarefa de manter a qualidade e respeitar o público já conquistado, para que os fãs não se transformem em haters. Quando a 1ª temporada de Nanatsu no Taizai chegou a Netflix, o número de entusiastas cresceu e a premissa de personificar os “Sete Pecados Capitais” conquistou novos apreciadores.
Não é novidade para ninguém que o 3º ano é algo como “ame ou odeie”, dado que a experiência alimenta frustrações, enquanto concede um fio de esperança para a vindoura 4ª temporada. E a grande pergunta que ecoa no coração dos fãs é “o que fizeram com meu anime?“.
A guerra entre os Dez Mandamentos e os 7 Pecados Capitais foi o ponto alto da 2ª temporada. Com um gancho poderoso, Nanatsu no Taizai se tornou um dos animes mais esperados, o que culminou em grandes expectativas, tristemente destruídas episódio após episódio.
Intitulado “A Ira Imperial dos Deuses”, a nova jornada do anime dá espaço para conhecermos o Clã das Deusas — uma das Cinco grandes raças. Mas, o que deveria ser empolgante, pois veríamos o tão mencionado poder dos Arcanjos, mostrou-se uma saída fácil para gerar conflitos (no passado e no presente) sem nenhuma força. Aliás, os novos rostos que entram e saem de cena não agregam em nada, servindo apenas como outro obstáculo esquecível na missão de proteger a Britânia.
No outro lado do mundo, após o lançamento do primeiro episódio, os fãs correram na direção das redes sociais, expressando insatisfação. O burburinho ao redor de Nanatsu no Taizai cresceu e não demorou para as reclamações resultarem nos infames “memes”. Em diversos cantos do universo virtual, alguns frames “viralizaram” e as dúvidas sobre a qualidade do anime pipocaram fervorosamente. É preciso esclarecer, antes de tudo, que desde o momento que foi anunciado a troca do estúdio, uma pulga foi colocada atrás da orelha dos fãs. Ou seja, essa reação do público não foi repentina.
Não existe exagero no descontentamento postado nos perfis das redes, tampouco na repercussão destes. Seria fácil desligar nossas lembranças sobre os “memes” e aproveitar a narrativa, todavia, está estampado na tela, em vários momentos, os pecados mortais cometidos no design dos personagens nesta season 3. Curvas exageradas e desproporcionais, traços com acabamento medonho e expressões que não precisam do botão “pause” para você ficar entre o riso e o espanto. E quando parece que nada mais pode piorar, a escolha (você pode trocar por “insanidade”) de substituir a cor vermelha do sangue por borrões brancos tornou-se o ápice da fragilidade imagética do anime.
Não foi confirmado se a animação sofreu alguma censura por parte do canal que o exibe lá no Japão, ou se a decisão partiu do estúdio. Esse é um ponto confuso, ainda mais quando, subitamente, o lado “gore” da história surge em episódios esporádicos. A partir disso o anime permanece nessa estranha contradição: ora sangue vermelho, ora manchas brancas. Um incessante “Bota casaco, tira casaco! Bota caso, tira casaco!“.
Engana-se aqueles que acreditam que o visual seja a única problemática da 3ª temporada de Nanatsu no Taizai. Todo momento surgem “muletas narrativas” que resolvem os problemas de forma preguiçosa (o enredo cometendo um dos sete pecados capitais, que coincidência!). E para alavancar frustrações, os velhos personagens — protagonistas e coadjuvantes — assumem o carisma de uma pedra. Alguns até tem seus poderes “reformulados” simplesmente para segundos depois um “Deus ex Machina” derrotá-los ou salvá-los.
Se os novos fantasmas do roteiro assustam, os antigos também! O que mais cansa é a reciclagem de uma estrutura de desenvolvimento que já configurou metade dos personagens. A famosa “forma original” é usada indiscriminadamente. É sempre o mesmo discurso, revelando que a atual aparência do personagem “A” ou “B” não é a verdadeira. Isso ocorre tantas vezes na primeira e segunda temporada, que agora não surte nenhum impacto.
Vale mencionar que a trama tem fé em segurar mistérios que estão ultrapassados, o que instiga revelações tediosas, carecidas de força. É vergonhoso ver a narrativa dando voltas e mais voltas, desrespeitando a percepção do público que já matou a charada uns dois episódios (ou temporadas) antes.
Afinal, existe algo de bom na controvérsia 3ª temporada de Nanatsu no Taizai? Sim, claro que o anime tem suas virtudes e dá para contar nos dedos. Por exemplo, os membros dos 10 Mandamentos deixam de ser pintados como “vilões caricatos” e recebem mais tempo de tela, isto é, conhecemos um pouco sobre o passado deles e as razões por ocuparem um lugar de elite no Clã dos Demônios. Há também o desdobramento de relacionamentos — tanto no âmbito do amor, quanto da amizade — que ganham novos ares, mas nada que vá além do razoável.
Com uma trama outrora genuína, que despertou nos fãs o desejo por mais, resta apenas a decepção por uma temporada que não honrou as anteriores. E, ainda por cima, entregou uma qualidade visual digna da tempestade de “memes” que choveram nas mídias sociais.
A dúvida cruel resume-se nas seguintes questões: Nanatsu no Taizai ainda proporcionará bons momentos, ou a trama já esgotou o que tinha de melhor nos dois primeiros anos? O anime caminhará para o abismo, conforme os pessimistas, ou alcançará o céu, como dizem os (poucos) esperançosos que acompanham o mangá?
Para aqueles que mantém o contato com a história através da animação, resta apenas o temor e as incertezas acerca de uma futura 4ª temporada, que pode estar arruinada antes mesmo do seu lançamento, ou servirá como redenção diante de um 3º ano desastroso.
Nota: 2/5
Assista ao trailer:
Veja também: Crítica | Nanatsu no Taizai – 1ª e 2ª Temporada.
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