Sam Peckinpah: o poeta da violência e o mestre que influenciou até Quentin Tarantino
Hollywood já passou pelas mais diversas fases, em uma história do cinema nenhum um pouco linear e marcada por vários nomes de expressão, ao mesmo tempo em que também trouxe outros vários fracassos e repetições. Em uma era de reboots e fórmulas já tão gastas, um nome precisa ser relembrado: Sam Peckinpah, o chamado Poeta da Violência, pela quantidade imensa de sangue, violência e emoções em seus tão bem feitos filmes.
Mais tarde, diversos maneirismos e estilos de Peckinpah influenciariam uma série de cineastas, indo de Walter Hill (seu pupilo n°1 e responsável por filmes policiais como “48 Horas” e “The Warriors- Os Selvagens da Noite“, até Quentin Tarantino (“Bastardos Inglórios“), principalmente durante as cenas de violência. Muito mais importante do que as influências posteriores, contudo, é a obra desse diretor genial, que facilmente navegava do extremo conflito ao aflorar de várias emoções.
“Meu ódio será tua herança” (1969), considerado por muitos sua obra-prima, reinventou o faroeste estadunidense e incorporou vários dos moldes italianos para o gênero, discutindo temas poderosos, como: lealdade, capitalismo tardio e modernidade, instaurando o fim do Velho Oeste na mente de diversos espectadores.
A moral de um mundo decadente era o assunto preferido de Peckinpah, cujos filmes sempre pareciam demonstrar um profundo descontentamento com a tecnologia e a rapidez do século XX. O mundo ideal de Sam era o dos heróis da fronteira do Oeste, uma realidade cada vez mais longínqua em “Meu ódio será tua herança” e um verdadeiro sonho para os seus tão melancólicos protagonistas.
Uma das grandes tristezas do Oscar (entre as várias loucuras e lamentações deste tão falso prêmio) foi nunca ser entregue nas mãos de Peckinpah, com apenas uma singela indicação ao Oscar de melhor roteiro original, durante a cerimonia de 1970.
“Pat Garrett & Billy the Kid” (1973) é outro faroeste antológico do cineasta, lidando com temas parecidos e adentrando a amizade de dois foras da lei que agora, estão em lados diferentes do poder. Recheado de cenas de violência fantásticas e alta carga emotiva, o filme acabou sendo um fracasso de bilheteria por cortes do estúdio. Alguns anos depois, o corte original foi lançado e mais uma obra-prima de Peckinpah pode ser apreciada por cinéfilos de plantão.
A trilha sonora de Boby Dylan (que faz um personagem no filme) é uma das melhores coisas da carreira do diretor, acertando no ponto certo daquele drama entre amigos tão próximos, ainda que inimigos provisórios.
“Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia” (1974) é o resumo de toda a obra de Peckinpah: violência aos montes, tramas de vingança, cenários abertos no México e poesia saída diretamente do cano de uma pistola fumegante. Até hoje, este é um dos filmes mais estilosos de Hollywood, formado pelas margens de um sistema que não incentiva as grandes mentes criativas. Tarantino é um dos que cultiva um amor intenso por esse filme, tentando à todo momento chegar no mesmo nível de caos e tranquilidade que Peckinpah transmitia em seus filmes.
Peckinpah também brincava com as expectativas de seus principais fãs, várias vezes fugindo de suas características mais marcantes e entregando obras um pouco fora da curva, como o intimista “Dez Segundos de Perigo” (1972) e o hilariante “A Morte Não Manda Recado” (1970). No primeiro, Steve McQueen (“Fugindo do Inferno“) interpreta um solitário peão de rodeio, cujo passado turbulento parece sempre vivo na memória e nos amigos e familiares ao seu redor. O filme acabou sendo um fracasso de bilheteria, depois ironizado por Sam, pois após tantas reclamações da violência de seus filmes, quando ele faz uma mais “paz e amor“, os críticos saem matando.
No segundo, visto pelo próprio diretor como seu melhor filme, Jason Robards interpreta um cowboy deixado parra morrer pelos seus amigos e que planeja uma longa vingança. Abraçando o estilo pastelão e construindo vários personagens peculiares, Peckinpah faz uma pequena obra-prima, subestimada por muitos na época de seu lançamento, imediatamente após “Meu ódio será tua herança“.
O cineasta até trabalhou em um filme de guerra, filmando “Cruz de Ferro” em 1977, com James Coburn (“Quando Explode a Vingança“) e Maximilian Schell, lidando com os dilemas de alguns soldados no front alemão. Para Orson Welles (“Cidadão Kane“), outro sujeito marginalizado por Hollywood, esse foi um dos seus melhores filmes, enfrentando temas complicados como ninguém.
“Sob o Domínio do Medo” (1971) é outra obra marcante do diretor, estrelado por Dustin Hoffman, no papel de um pacato professor universitário que acaba se tornando um cruel homicida. Com a vingança nos olhos de seu protagonista, Peckinpah novamente lida com seus temas e estilos preferidos, entregando mais uma pequena obra-prima.
Os anos 70 são seu auge, como tão demonstrando aqui, fazendo filme em um período bastante curto e se mostrando focado pela maior parte do processo. O cineasta sofria com o alcoolismo e o tão conhecido comportamento abusivo, principalmente quando à raiva, que aflorava à medida que o whisky entrava. “Os Implacáveis” (1972), outro drama de ação estrelado por McQueen, é também um grande exemplo dessa tão expressiva época.
Seja pelas influências posteriores ou por todo o conjunto da obra, Sam Peckinpah é um diretor incontornável, ideal para os amantes de bons filmes de ação, cuja preocupação está em entregar cenas de tirar o fôlego, junto com belas construções de personagens. Querendo ou não, seu estilo remodelou Hollywood e ditou o caminho para vários outros filmes policiais/ação/faroeste, se mostrando um mestre dos gêneros.
Falecido em 1984, por conta de um ataque do coração (única forma possível de um gênio intenso desses deixar o mundo com estilo), o diretor possui uma carreira diversificada e cheia de obras-primas, perfeitas na medida certa e referenciadas por legiões de fãs no mundo todo, como esse mero redator.
Veja também: Constantine ganhará série mais sombria na HBO, diz site
Deixe um comentário
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.