Oscar 2021 | Judas e o Messias Negro — A sina do Traidor
O indicado ao Oscar, Judas e o Messias Negro, além de retratar o movimento real dos Panteras Negras, mostrou a jornada de um Traidor e suas escolhas. Sabe-se que existe uma lista enorme de personagens abaixo do título de “traidores”. A trajetória dessa figura é contada há anos no cinema, mostrando o antagonista que oscila entre a imagem de um amigo e a imagem de um inimigo. Usufruindo-se de uma comparação bíblica, o diretor Shaka King dá uma visão universal para o “Herói” e o “Vilão” de sua história.
A ficção, muitas vezes, levou o público do amor ao ódio em poucos segundos quando a máscara do Traidor finalmente caiu. Os fãs da Terra Média custaram a crer que o Grande Mago Saruman tornara-se aliado de Sauron em O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel. O mesmo aconteceu no âmbito das animações quando Scar traiu seu irmão, Mufasa, em O Rei Leão — uma releitura da peça Shakespeariana, Hamlet, que retratou a tragédia do Rei Claudius que usurpou o trono do irmão, após matá-lo.
Logo, esse é o mote de Judas e o Messias Negro: a traição.
A magia do cinema é poder contar histórias reais e ficcionais, nos fazendo esquecer que estamos diante de uma tela, apreciando uma grande encenação. Por causa disso, muitos ícones atemporais, que fizeram a diferença na humanidade, ganharam uma luz sob as câmeras.
Esse é o caso do ativista Fred Hampton (Daniel Kaluuya), cuja história é explorada em Judas e o Messias Negro. No entanto, quem também ganha os holofotes é William O’Neal (vivido pelo ator LaKeith Stanfield), o informante do FBI que se infiltra no movimento dos Panteras Negras, contribuindo com o assassinato do líder.
Ainda que a realidade e a ficção unam forças para representar um corte da história, a jornada de William O’Neal mostrou que nele havia muito mais que a missão de trair sua própria causa. Usado como um fantoche pelo agente Roy Mitchell (Jesse Plemons), O’Neal deve repassar as informações do movimento, caso contrário, ele irá para a prisão. Entre a cruz e a espada, o “Judas” começa a comprar os ideais da causa, entrando em um conflito interno. Desempenhar seu papel como infiltrado? Ou vestir, de uma vez por todas, o propósito da causa?
O notório beijo do “Judas” aqui é representado pelas palavras, pelo envolvimento na luta. E assim como o traidor do Messias, não se sabe os reais sentimentos que reinou no Traidor. Shaka King não desenvolveu sua história para crucificá-lo, muito pelo contrário, ele abriu uma porta para que víssemos que na nossa realidade, no nosso tempo, onde o racismo ainda é presente, o sistema e os homens que o fazem são capazes de fabricar traidores.
Judas e o Messias Negro recebeu 6 indicações: Melhor Filme, duas indicações na categoria de Melhor Ator Coadjuvante (Daniel Kaluuya e Lakeith Stanfield), Melhor Roteiro Original, Melhor Fotografia e Melhor Canção Original. Uma das grandes apostas da noite é ver Daniel Kaluuya discursando, após sua vitória. Ele arrematou o Globo de Ouro, o Critics Choice Awards e o SAG Awards.
Assista ao trailer:
Leia a crítica do filme AQUI.
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