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Crítica | A Mulher na Janela – A obsessão pela vida alheia

Os telespectadores construíram uma relação sólida com as “Telas”. Cinema, TV e celular são alguns dos painéis usados para mergulhar dentro de histórias, bisbilhotando a narrativa acerca do personagem e seus conflitos. Para Anna Fox, protagonista do longa-metragem A Mulher na Janela, sua tela é exatamente o que está no título do filme.

São inegáveis as comparações que rondam o “thriller” A Mulher na Janela, longa baseado na obra literária de Dan Mallory, que assinou seu livro com o pseudônimo de A.J. Finn. Entre homenagens e o uso de fórmulas estabelecidas em filmes que seguiram a mesma linha narrativa, a adaptação cinematográfica está no banco dos réus, neste exato momento. De um lado, os apreciadores do livro, descontentes com a versão audiovisual, do outro, o público dividido. Afinal de contas, qual é o “crime” cometido pela fita estrelada por Amy Adams? Existe a hipótese de absolvição ou apenas condenação?

A Mulher na Janela - A obsessão pela vida alheia
A Mulher na Janela / Netflix / 20th Century Fox

Sinopse:

Anna Fox mora sozinha em uma casa que um dia abrigou sua família feliz. Separada do marido e da filha e sofrendo de uma fobia que a mantém reclusa, ela passa os dias bebendo vinho, assistindo filmes antigos e conversando com estranhos na internet. Quando uma nova família se muda para a casa do outro lado do parque, Anna fica obcecada por aquela vida perfeita. Até que certa noite, bisbilhotando com sua câmera, ela vê algo que muda tudo.

Concebido, inicialmente, sob o guarda-chuva de projetos da 20th Century Studios, o filme foi passado para a Disney, após a casa do Mickey Mouse comprar a 20th Century Fox. Devido a uma série de fatores, como adiamentos e a pandemia, o projeto entrou na mira da Netflix, que fechou um acordo com a Disney para lançá-lo na plataforma. Estreando no dia 14 de maio, o filme recebeu uma chuva de críticas negativas, e apesar de não conquistar o status de obra-prima, A Mulher na Janela não é esse desastre todo que estão pintando nas redes sociais.

A Mulher na Janela - A obsessão pela vida alheia
A Mulher na Janela / Netflix / 20th Century Fox

Através das cortinas e persianas, Anna se desliga da própria realidade e passa a vivenciar a vida dos outros. Aspirando uma premissa dissecada em outras obras, o longa dirigido por Joe Wright, às vezes, parece um eco, mas detém sua própria identidade. Recapitulando a 7ª arte, o trabalho de Wright é, em simultâneo, um cortejo ao clássico Janela Indiscreta (de Alfred Hitchcock), e um produto proveniente de uma narrativa explorada em outros títulos como A Garota no Trem, dirigido por Tate Taylor e Paranoia, longa de 2007.

Todavia, dois erros amargam a narrativa de A Mulher na Janela: o aproveitamento raso de um elenco estelar e a escolha pífia de sustentar um mistério resolvido pelo público nos primeiros 15 minutos de projeção. Fora isso, os diálogos passam do ponto algumas vezes, e o que deveria servir como “indício” para futuras reviravoltas, torna os acontecimentos óbvios. Infelizmente, o elemento surpresa é só um elemento. Há uma única revelação, requentada, que pode levar uma parcela dos assinantes a exclamar um “isso não passou pela minha cabeça!“, porém, a essa altura, o filme já está no chão, após cair do próprio pedestal.

A Mulher na Janela - A obsessão pela vida alheia
A Mulher na Janela / Netflix / 20th Century Fox

Para compor o time de apoio, o roteiro ganha forma através dos atores Wyatt Russell, Brian Tyree Henry, Jennifer Jason Leigh, Gary Oldman, Julianne Moore e Anthony Mackie. É frustrante assistir, cena após cena, o desperdício de elenco, no entanto, a única atriz que consegue ter cinco minutos com um bom aproveitamento é Julianne Moore, mas isso não apaga que Joe Wright deixou a oportunidade escapar por suas mãos como fumaça. O longa, Entre Facas e Segredos, por exemplo, contava com um número maior de atores, e ainda assim extraiu o suficiente para justificar a presença de um cast numeroso. Em suma, faltou em Wright um “que” de Rian Johnson.

Nesse tribunal estabelecido para julgar A Mulher na Janela, Amy Adams é a testemunha de defesa. Sua performance é a única prova que atesta os pontos positivos do filme. Sozinha, ela carrega o peso de ancorar a atenção do público na trama, isso do primeiro ato até a metade do segundo. Apegando-se ao olhar desarticulado e os vícios inerentes do seu papel, Adams incorpora bem esse modelo de “personagem não confiável”. E ainda que o roteiro e as escolhas criativas trabalhem contra, a atriz faz o seu melhor.

A Mulher na Janela - A obsessão pela vida alheia
A Mulher na Janela / Netflix / 20th Century Fox

Portanto, discutidos os pontos a favor e contra, A Mulher na Janela constrói uma história com um bom começo, mas que tropeça ao costurar um mistério batido, que passa do prazo de validade muito rápido. Ademais, depositar a fé em dois plot twist (um, totalmente previsível, e o outro, fraco), contribuiu para a decepção da audiência.

À vista disso, é sempre bom lembrar que a experiência é algo singular. O que pode funcionar para mim, pode não funcionar para você, e vice-versa. Ser um filme mediano, não é um crime cinematográfico, mas as consequências disso podem colocá-lo em uma zona chamada “esquecimento”.

Nota: 3/5

Assista ao trailer:

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