Crítica | A Princesa da Yakuza – lutas sangrentas, máfia japonesa e ancestralidade no bairro da Liberdade
Baseada em uma HQ brasileira, intitulada Samurai Shirô e escrita por Danilo Beiruth, o filme A Princesa da Yakuza conta a história de Akemi( MASUMI), descendente de japoneses em sua conturbada jornada de descobertas sobre a própria ascendência. Nessa busca, encontra um homem sem memória (Jonathan Rhys Meyers)que porta uma espada katana que parece pertencer à família da jovem. A história, por vezes confusa perante os olhos dos telespectadores, determina quem Akemi é e qual será seu caminho a partir de suas descobertas. Filme regado à sangue, lutas e boas atuações, A Princesa da Yakuza abre alas para o universo cinematográfico das HQS de Beiruth em grande estilo, na esperança que as adaptações não parem por aqui.
Com a troca de perspectiva da HQ para a adaptação, modificando ligeiramente o personagem de Shirô( interpretado por Jonathan Rhys Meyers) para Akemi (Masumi) o telespectador já pega a narrativa em movimento e tenta se agarrar à qualquer explicação que o entreguem no meio do caminho, tornando Akemi o fio condutor de toda a narrativa. É importante avisar que a primeira meia hora do filme é percorrida às escuras, o que pode acabar inspirando desistência da parte de telespectadores mais afoitos. Mas a partir do momento que Akemi assume o controle, mostrando do que é capaz, a vontade de seguir descobrindo sua história também volta, com todo o sangue, as lutas e os ambientes neon que tragam junto.
Os protagonistas interpretados pelo ator Jonathan Rhys Meyers(The Tudors, MatchPoint e O Som do Coração no currículo) e pela atriz Masumi em sua primeira experiência como atriz, cativam o público por razões distintas, mas ambos sempre interligados ao mistério que os ronda. Não há nenhum envolvimento direto com as características individuais de cada um, a narrativa onde tudo acontece ao mesmo tempo não permite grande intimidade. Então quase só temos acesso às suas reações a tudo que os rodeia. O que não chega a ser ruim. Mas a longo prazo uma intimidade maior com o telespectador, que não necessariamente conheça os personagens por leitura prévia de HQ, seria importante pra carimbar a vontade do público para existir uma sequência.
O elenco de atores japoneses coadjuvantes completa o cenário perfeito para o desenrolar da narrativa, mostrando pela atuação e pelo idioma , que poderiam encenar estarem em qualquer lugar do Brasil e fazer dali uma reprodução fiel de qualquer cantinho campestre do Japão, mesmo estando em Paranapiacaba- Santo André- São Paulo. E aqui se entende a necessidade de cada um deles ter sido escalado para A Princesa de Yakuza, dando à história um quê de realidade, ainda que baseada em obra ficcional não japonesa.
Em um filme que mistura máfia japonesa, ancestralidade e ação, A Princesa da Yakuza mostra a potencialidade das HQS nacionais em gerar grandes produções cinematográficas brasileiras quando se tem o cuidado de caracterizar personagens com contextos comportamentais e linguísticos fiéis à história contada nas páginas. Ao ambientar a história em um bairro tão conhecido por tantos brasileiro mas o retratar de forma quase lúdica, como um personagem a mais, a direção de Vicente Amorim mostra a versatilidade do Brasil como cenário de grandes produções de tipos diversos, além das já exploradas pela indústria nacional.
Só deixa a desejar na parte de não ter escalado como protagonista um atriz nipo-brasileira, o que certamente seria uma enorme honra, posto que as produções nacionais raramente privilegiam atrizes com traços e descendência oriental.
E analisando pela escassa procura por atores nipo brasileiros em produções nacionais, o lamento se apresenta não só em relação à protagonista, como também em relação ao resto do elenco, com participações pequenas e pontuais de atores brasileiros(sendo estes não descendentes, em papéis de coadjuvante). O resultado ficou excelente, levando em conta os diálogos em japonês e a excelência do trabalho de cada um deles. Mas certamente o filme A Princesa da Yakuza ficaria melhor se contasse com a presença de brasileiros não só na direção, na produção e na fonte da história, mas também na frente das câmeras.
O mais interessante de tudo é analisar que, apesar da ambientação feita no bairro da Liberdade, em São Paulo, poucas são as vezes que o telespectador ouvirá o português ser falado no filme( e na maior parte dessas vezes, será utilizando palavrões), isso tudo em meios à diálogos alternados, hora falados em inglês e hora em japonês. Isso faz com que às vezes esqueçamos que o filme é brasileiro e baseado em uma HQ nacional. Se isso ajudar na comercialização do filme através da plataforma de streaming é até perdoável. Mas senti falta do nosso idioma para ao menos personalizar o bairro da Liberdade para além da vitrine hipnótica que ele se tornou sob a direção de Vicente Amorim.
A Princesa da Yakuza, novo filme da Netflix é baseado na HQ do brasileiro Danilo Beiruth intitulada “Samurai Shirô” e dirigido por Vicente Amorim( diretor de Motorrad, Corações Sujos e a Divisão).
A Princesa da Yakuza está disponível na Netflix.
Nota : 4/5
Assista ao trailer:
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