Depois do Universo: Clichês e obviedade ofuscam a história do filme
Nem mesmo a química entre os protagonistas supera a previsível narrativa do longa.
Romances adolescentes não costumam estar entre as produções mais famosas do Brasil. É aí que entra a novidade em “Depois do Universo”. Embora o longa seja focado na paixão entre dois jovens adultos, a narrativa vem recheada de elementos dos filmes “teen”, comumente produzidos nos Estados Unidos. A história, dirigida por Diego Freitas, passa pela vida de Nina (Giulia Be), uma jovem pianista que sonha em tocar na Orquestra Sinfônica Brasileira. Mas tem a vida complicada pelo lúpus. Quando a doença afeta seus rins e a garota precisa fazer hemodiálise até conseguir um transplante, ela entra na vida de Gabriel (Henry Zaga).
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Gabriel é o médico residente do hospital e vai acompanhar a jovem durante seu tratamento. A história dos dois acontece de forma comum no cinema, quase como um amor à primeira vista. Antes de se conhecerem profundamente, ambos já estão apaixonados e arriscando muito um pelo outro. Mas existe um entrave nessa relação, com medo da morte e sem esperanças para o futuro, Nina não quer ser um peso na vida do rapaz.
O médico, por outro lado, sempre vê o lado bom das coisas e não se importa de enfrentar o conselho de ética do hospital, que condena seu romance para ficar ao lado da pianista. A narrativa, então, une os jovens em uma espécie de metáfora, que trabalha dois pólos extremos, positivo e negativo, Gabriel com sua visão de mundo sempre colorida e Nina com seu pessimismo constante. Apenas pela sinopse já é possível traçar um paralelo com outros filmes do gênero, principalmente “A Culpa é das Estrelas”, de 2014.
À medida que o filme se desenvolve, é preciso relevar inúmeros detalhes. Que, em certo momento, deixam de ser apenas detalhes. O longa trabalha 90% do tempo com clichês de filmes norte-americanos. O romance entre os adultos remete mais a uma paixão de adolescente, fora de qualquer realidade palpável. Desde o momento em que o casal se conhece até os créditos finais, Depois do Universo é recheado de momentos já vistos em outras produções. Os diálogos entre os personagens são fracos e muito distantes da vida real. No entanto, a própria construção dos personagens é fraca. Todos os presentes no longa são muito pouco, ou quase nada, explorados, isso inclui os protagonistas, que não tem nem uma história aprofundada. Não é possível saber nada além do básico do casal. O filme não entra em detalhes sobre suas famílias, histórias ou infância etc.
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Como nem os principais têm a relevância necessária, com os coadjuvantes a história é pior ainda. Os personagens secundários têm pouquíssima abordagem e estão no longa para comentar ou orquestrar o romance principal. Em mais de duas horas de tela, só é possível narrar um breve romance, que poderia ter sido desenvolvido em bem menos tempo, dado que o filme não aborda muita coisa além disso. Todo longa é bastante previsível, é fácil entender o que acontece em cada sequência. Nem mesmo o final que deveria ser uma surpresa é, de fato, inesperado. Todo o filme caminha para uma obviedade.
Depois do Universo até chega a tangenciar assuntos de suma importância, como o lúpus e, principalmente, as dificuldades enfrentadas por aqueles que estão na fila para transplante de órgãos no Brasil. Contudo, essa abordagem também é superficial. Com isso, o tema necessário é deixado de lado e, no lugar, temos a retração de um romance de sessão da tarde.
As atuações do filme são boas, a estreante das telas, a cantora Giulia Be, faz um trabalho convincente e carismático, assim como seu parceiro Henry Zaga. O ponto mais alto do filme é a química que o casal entrega. Os dois conseguem passar uma emoção e segurar o público em algumas cenas de romance. No entanto, essa conexão não é suficiente para revelar o restante da história. Os coadjuvantes, embora tenham papéis com pouca relevância, também fazem boas atuações no longa, mas sem o devido destaque também.
O final de Depois do Universo, embora seja previsível, consegue ser uma parte um pouco interessante e causar certo impacto, pela maneira como as últimas cenas são conduzidas. No entanto, até mesmo essa parte fica perdida em meio a tantos clichês e obviedades do longa. Por fim, Depois do Universo tinha ideia com potencial interessante, mas deixou de ser explorada e se tornou apenas um filme comum, que parece imitar produções “teen” dos Estados Unidos.
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