Crítica | Triângulo da Tristeza: Para levar uma Palma de Ouro em Cannes, basta fazer um textão de Facebook
A obra de Ruben Östlund, Triângulo da Tristeza, começa com um discurso direto e irônico sobre o ridículo da vida pessoal entre um casal de influenciadores digitais e modelos, Carl e Yaya (interpretados por Harris Dickinson e Charlbi Dean). O casal ganha uma viagem de Iate com pessoas da alta sociedade, seja vendedores de fertilizantes e um casal que vende armas para grandes potências. Mas ninguém se mostra preparado para oque vai acontecer nessa louca viagem.
O filme em questão de técnica não apresenta nada de muito especial. Seja na edição, na fotografia, nas atuações ou até mesmo em outros pontos, não é o forte da obra. Algo que também não é compensado com o roteiro, que é o principal problema do filme.
Triângulo da Tristeza tenta ser um grito contra o capitalismo de toda a forma possível, seja no drama, na sátira, até com sequências escatológicas, mas é a obra se auto satura e se mostra como uma forte exposição o tempo todo.
A obra consegue acertar em certos pontos como musicas famosas em plataformas como TikTok tocando na festa do Iate, alguns diálogos envolvendo o ator Woody Harrelson, que faz o Capitão, e é um das poucos pontos positivos da obra, e algumas cenas envolvendo os empregados do iate com o casal russo Dimitry e Vera (interpretados por Zlatko Buric e Sunnyi Melles).
O Capitão que precisa estar sempre alcoolizado para sobreviver à um barco cheio de pessoas nas quais ele mostra sentir completo nojo e repulsa, um empresário de fertilizantes que ironiza sua profissão para os outros viajantes, e o diálogo entre ambos mostra explicitamente o significado do filme. Mesmo sendo um discurso bastante óbvio, ele se torna problemático com o desenvolvimento desses personagens com a introdução da personagem Abigail (interpretada pela atriz Dolly de Leon).
Abigail representa a classe pobre, que é obrigada a trabalhar em um barco cheio de milionários que não sabem fazer o mínimo para conseguir sobreviver, e se mostra um forte símbolo de resistência. Que no final é tratada de uma forma bastante mal resolvida.
O desenvolvimento dessa personagem em conjunto com o casal de influenciadores e como ela trata os outros que estão com ela em certo momento, mostra aquela ideia explicita de o oprimido querendo se tornar opressor e dono do seu próprio mundo.
Essa resolução da personagem, do casal com Abigail, e a displicência com os outros personagens que estão com eles, mostra um roteiro que não sabe lidar com seus personagens. Muito menos como fazer uma resolução rápida para uma história que se prolongou em certo ponto para exprimir um discurso tão simplista e, politicamente, óbvio.
O filme também tenta fazer, de forma relativamente parecida com TÁR(2022), uma crítica à Geração Z e seus posicionamentos sociais, aqui sendo o foco o movimento feminista no meio de influenciadores digitais. Além do discurso político ser executado de forma displicente, o filme tenta tratar a ideia do machismo contra o feminismo com cenas de diálogos pouco orgânicos, e em momentos mal medidos durante a narrativa.
Triângulo da Tristeza é uma carta satírica sobre o mundo neocapitalista, que quer fazer piadas com todos que fazem parte desse cenário real e desastroso da modernidade. Mas é mal escrito, não consegue chamar a atenção do espectador nem mesmo nos quesitos técnicos e mostra uma verdade decadente dos festivais de cinema.
Hoje, o discurso político básico sobre sociedade é o principal chamariz para Premiações, mesmo elas sendo escritas por adolescentes impulsivos nas redes sociais e em suas bolhas burguesas e elitistas.
Nota: 2/4
Assista ao Trailer:
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