[Entrevista] Oscar 2023: o que esperar da 95ª edição do prêmio mais aguardado do cinema?
Chegou o momento do ano mais aguardo por todo cinéfilo! Na noite do próximo domingo (12), acontece o Oscar 2023. A premiação de cinema mais prestigiada no mundo chega à sua 95ª edição repleta de expectativa e incertezas, principalmente após os acontecimentos do ano passado.
O evento que coleciona momentos marcantes o longo dos anos, tanto positivos como negativos, é sempre garantia de bom entretenimento. Contudo, às vezes as situações se tornam um pouco constrangedoras e algumas até acabam saindo do controle. Motivo pelo qual a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas anunciou a criação do “Comitê de Crise” para este ano.
Mas, afinal, o que esperar desta próxima premiação? Será que o Oscar está perdendo prestígio? Quais as principais apostas para a noite? Para responder estas, e muitas outras perguntas, o Portal Cinerama conversou com Marcio Sallem, professor e crítico de cinema, dono do perfil no Instagram “Cinema com Crítica”.
A cerimônia de premiação do Oscar
Conhecida como a premiação de cinema mais antiga ainda em vigor, o Oscar teve a sua primeira edição em 1929, na cidade de Los Angeles, na Califórnia, Estados Unidos. Os responsáveis por selecionar os filmes indicados e também os vencedores eram, e ainda são, os votantes membros da Ampas, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.
A princípio, o evento começou sendo apresentado em um hotel estadunidense para espectadores que pagavam cerca de $5 para assistir. No entanto, com os passar dos anos a premiação foi ganhando prestígio, credibilidade e hoje é o principal evento do mundo quando o assunto é a sétima arte.
Com toda a certeza, o Oscar marcou gerações de artistas e amantes do cinema. Muitos dizem que começaram a gostar de filmes muito por causa da premiação. Já outros, alegam que passaram a assistir ao prêmio devido a algum filme que estava concorrendo, como no caso do professor e crítico Marcio Sallem, dono do “Cinema com Crítica” perfil no Instagram com mais de 159 mil seguidores.
“Eu trabalho com cinema desde fevereiro de 2010. Na verdade, dá para voltar atrás até 2002, mas ainda era uma etapa amadora, não profissional. Eu acompanho a cerimônia do Oscar desde 1998, influenciado pelo sucesso de Titanic”, contou Marcio em entrevista exclusiva para o Portal Cinerama.
Depois de tantos anos acompanhando o prêmio, Sallem revela que vivenciou uma porção de lembranças e decepções com o Oscar. Durante a conversa, contou um pouco sobre momentos que considera marcantes em relação ao evento:
“Eu tenho lembranças e frustrações marcantes. Eu nunca esqueci, por exemplo, a perda de Sylvester Stallone no Oscar de 2016 para Mark Rylance; ou a gafe histórica da troca dos envelopes no prêmio de melhor filme, entre Moonlight e La La Land. O Oscar de Martin Scorsese por Os Infiltrados, e a reunião de seus amigos no palco para premiá-lo, ou o terceiro Oscar de Jack Nicholson, por Melhor é Impossível, quando imita a forma de andar de seu personagem no filme. Eu poderia enumerar muitos mais”, declarou o professor e crítico.
A credibilidade questionada e a perda de audiência do Oscar
Apesar de ainda possuir um legião de pessoas que esperam ansiosas pelo dia da premiação, o Oscar parece não estar mais reunindo tantos fãs como antigamente. Uma prova disso, são os números divulgados pelas emissoras de televisão norte-americanas revelando uma queda significativa de audiência com o passar do últimos anos.
Sobre um possível desinteresse do público por parte do evento que desde 2002 acontece no Dolby Theatre, em Los Angeles, Marcio Sallem afirma que existem muitos fatores que podem explicar os números negativos por parte dos espectadores.
“Há tantos fatores para atribuir a queda de relevância da premiação do Oscar. O desinteresse do público pela premiação, associado à indicação de filmes que não representavam o apelo popular de quem se dispunha a assistir a 3 horas e meia de premiação. A qualidade da premiação também, com esquetes decepcionantes (a da entrega de pizzas é um dos pontos baixo), alguns apresentadores que não animavam os espectadores. Mas deve ser levado em consideração a mudança do modo de consumo do espectador, que não é mais público de televisão aberta ou fechada, mas público de serviços de streaming”, explicou.
Nesse ínterim, há quem diga que o Oscar perdeu credibilidade após as suas últimas edições. Depois de algumas decisões muito questionáveis, como o prêmio de melhor filme entregue a “Green Book: o guia” em 2019, dentre outras diversas situações polêmicas, muitos fãs de cinema afirmam que não levam mais a premiação em consideração quando decidem ver algum filme.
Quando perguntando sobre concordar com este tipo de afirmação, Sallem declarou ao Portal Cinerama que:
“Sim e não. Para quem conhece o funcionamento da temporada de premiações, sabe que o Oscar é, antes de tudo, o prêmio do cinema americano e concedido por uma associação americana, a AMPAS”, afirmou se referindo ao fato de que por ser estadunidense, muitas vezes o prêmio não avalia uma série de obras produzidas em outros países.
“Considerar o Oscar parâmetro de qualidade é considerar que se pode, de modo objetivo, ranquear a arte por qualidade, e isto é impossível. Primeiro porque quem vota no Oscar são pessoas, cerca de 10.000 membros da AMPAS que levam em consideração não apenas sua subjetividade, mas também a campanha dos filmes que disputam. Segundo porque não é razoável que, dentre esses 10.000 membros, todos possam ver todos os filmes lançados comercialmente ou, ao menos, os filmes que estão em disputa aberta. São seres humanos, movidos por sentimentos, influências, imediatismos, e isso faz parte do que é a festa do Oscar”, completou Marcio.
Para tentar recuperar a audiência perdida ao longo dos últimos anos, a cerimônia passou a cogitar algumas hipóteses e testar coisas diferentes. Uma delas foi a exclusão da apresentação ao vivo de algumas categorias, na intenção de tornar o tempo de transmissão menor. Decisão que foi amplamente criticada, fazendo com que a Academia voltasse atrás.
Outra medida, foi levar em consideração a possibilidade de criar a categoria de “melhor filme popular” que, em tese, premiaria o filme que mais teve prestígio nos cinemas. Mas, conforme explica Marcio Sallem, esta decisão não era uma boa forma de atingir o objetivo desejado pelo Oscar.
“Não, não considero [uma boa decisão]. E acredito que a Academia tenha enterrado a medida depois que Army of the Dead ganhou a votação no Twitter para o Oscar do ano passado. O melhor filme popular já está escolhido pela bilheteria anual, e não precisa ser referendado pelo Oscar como forma de consolação”, explicou.
Na tentativa de encontrar uma saída para o problema da audiência, Marcio apresentou algumas opções mais plausíveis.
“Dentre as medidas que podem atrair a audiência estão a venda dos direitos de transmissão a serviços de streaming, por exemplo a Netflix, tal como fez a SAG-AFTRA que entrega o Prêmio do Sindicato dos Atores, a dinamização do prêmio, senão diminuindo sua duração, ao menos tornando-o mais amigável e divertido para o espectador.”
O “Comitê de Crise”
A edição de 2022 registrou muitas histórias interessantes, como a disparada do filme “No Ritmo do Coração” na reta final da votação para garantir o prêmio de melhor filme da temporada. O que deu o primeiro Oscar da categoria para a Apple, desbancando a Netflix, que sonha com isso há anos. Entretanto, o que realmente chamou a atenção no evento do ano passado não tem nada a ver com filme algum.
Em determinado momento do cerimônia, o humorista Chris Rock, encarregado de apresentar o espetáculo, fez algumas piadas provocando o ator Will Smith, que se levantou do seu assento e agrediu o apresentador.
Enquanto todos ainda estavam tentando entender o que aconteceu, o evento seguiu e a situação toda não pegou nada bem para a mídia e o público.
No intuito de evitar ocasiões parecidas e saber como agir em momentos conturbados, a Academia criou para 2023 o “Comitê de Crise”.
“A função do Comitê de Crise é lidar com excepcionalidades de modo ágil para não comprometer o andamento da cerimônia. Não creio que o Comitê terá muito trabalho nesta ou em edições vindouras, será mais uma medida decorativa da Academia”, declarou Sallem.
As apostas para o Oscar 2023
Com polêmica ou não, o evento mais aguardado com cinema no ano inteiro vai acontecer no próximo domingo, e os todos os cinéfilos já estão com as apostas na ponta da língua. Então, como este é o momento em que o bolões fervem, o responsável pelo “Cinema com Crítica” não poderia ficar de fora dos palpites.
“Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo deverá vencer, ao menos, 4 estatuetas: Filme, Diretor, Roteiro Original, Ator Coadjuvante, com chances significativas de Atriz e Montagem. Nada de Novo no Front deve ser premiado em melhor filme internacional, e ainda faturar o prêmio de melhor fotografia; já Top Gun: Maverick deverá se contentar com os prêmios técnicos de Som e Montagem”, apostou Marcio Sallem, dando destaque para o filme com mais indicações na noite.
Oscar 2023 – onde assistir?
Pela primeira vez em muitos anos, o evento não terá transmissão da Globo e de nenhuma outra emissora de TV aberta. Assim, quem quiser acompanhar ao vivo no próximo domingo (12), terá de assistir ao TNT ou HBO Max, a partir dás 21h (horário de Brasília). E é claro que você também acompanha todas as informações da premiação do Oscar 2023 aqui no Portal Cinerama.
Relembre a vitória de “No Ritmo do Coração” como melhor filme em 2022
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