CRÍTICA | MIMO Festival – Rebel Dread fala sobre a figura Don Letts, mas não se aprofunda no mundo que o gerou
Rebel Dread conta a história em um formato documentário básico sobre quem foi Don Letts, um diretor cinematográfico, Dj e músico que viveu sua juventude trabalhando para e em conjunto com bandas punks reconhecidas até hoje, como Sex Pistols, The Clash, entre outras. O autor, aqui presente, cobriu o documentário no MIMO Festival com a presença de Don Letts, que disse logo depois da exibição que não gostava do filme. De acordo com Letts, o filme se fixou na figura dele, mas não no cenário musical e cultural em que ele viveu, e ajudou a gerar tamanha história. Algo que eu concordo.
O documentário dirigido e roteirizado por William E. Badgley tenta transformar a figura de Don Letts de forma mistificada. Não criticando Don Letts claramente, mas enfatizando que um dos pontos que chama a atenção do espectador do filme é a questão politica e social na época em que o punk nasceu nos anos 70 no Reino Unido. Fator que acaba ficando de lado por conta de uma acentuação de entrevistas e condução na direção em que o foco era como Don Letts era como pessoa, sua vida amorosa e familiar.
Não atoa, uma das partes que mais chama a atenção do espectador pro filme, é quando o documentário aborda de forma aprofundada seu trabalho com as bandas, fazendo os videoclipes, e até mesmo o como Letts conheceu as bandas e seus integrantes. Algo que funciona em conjunto com as entrevistas de músicos que trabalharam com Letts, tirando algumas outras que ficam enfatizando na imagem “genial” de quem foi Don Letts e como conseguiu chegar até onde chegou.
A direção não foge do convencional ao montar e a conduzir o filme como algo premeditado. O lado negativo nessa escolha preguiçosa de direção, foi de não tentar fazer algo que se conecte com o trabalho de direção do Don Letts, oque acaba decepcionando um pouco o espectador em querer se investir mais na narrativa contada. Fazendo com que as entrevistas fossem uma bengala para o filme continuar a andar sem o espectador se entediar com oque a produção entregou.
Outro lado que afeta a produção é um fator essencial que ficou ausente no produto final: A trilha sonora não chama a atenção do espectador em nenhum momento. Um filme que fala sobre um diretor de videoclipes, que trabalhou como Dj e músico, não se aprofunda nem na direção geral e nem na trilha sonora que são os elementos essenciais para conseguir trabalhar a figura de Don Letts em um documentário? Além de não fazer sentido, a produção acaba se resultando em um trabalho preguiçoso.
Porém, o documentário consegue seguir uma linha histórica sobre Don Letts de sua juventude, até os tempos atuais, de forma satisfatória e calma. Algo resultado da escolha de direção de seguir uma linha modus operandi de documentário. Mesmo sendo um documentário que não se aventurou, ou se arriscou, em aumentar a força de si mesmo e sobre o cenário em volta de Letts, o filme ainda consegue funcionar em sua maioria.
O documentário consegue satisfazer o espectador com entrevistas cativantes e humanizadas de cada um que aparece na tela, utilizando filmagens da antiga Londres e outras filmagens, conseguindo criar um pouco do que foi a atmosfera de um tempo alucinante e doido que jamais vai voltar.
Rebel Dread é um documentário que consegue comprir o seu papel na risca de se tornar mais um documentário qualquer que passaria na MTV, mas que consegue, por sorte, ser um bom entretenimento e uma forma de conhecer um pouco sobre quem foi o homem por trás da câmera em um dos momentos mais bombásticos da cultura musical.
Nota: 3,5/5
Assista ao trailer:
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