CRÍTICA | FESTIVAL DE CINEMA DE VASSOURAS -Não Sei Quantas Almas eu Tenho tenta tratar uma estória vampiresca como Abel Ferrara, mas falha em todos os sentidos
O filme “Não Sei Quantas Almas Eu Tenho” é dirigido e produzido pelo conhecido cineasta independente Cavi Borges, e conta a estória de uma mulher que trabalha na área química junto ao seu companheiro. Ao longo de sua pesquisa, ela começa a ter um interesse doentio em questionar e a lutar contra a morte. Em meio a sua jornada, um homem misterioso imortal, que lembra a figura do Drácula, começa a se aproximar dela e entram em uma relação amorosa, perigosa e incerta sobre o futuro de ambos. Um pelo amor, e a outra em desafiar a morte.
O filme no sentido narrativo e nos quesitos de construção de atmosfera existencialista lembra bastante a obra O Vício(1995) dirigida pelo famoso diretor Abel Ferrara. Além da protagonista ser também ter o objetivo de entendimento e questionamento sobre a morte, mostra o quão a mesma começa a se perder de si mesma e de sua sanidade ao longo dessa jornada. Porém, no sentido de execução, ambos são em variados pontos completamente diferentes quando se fala de execução.
O filme de Cavi Borges tenta criar uma dramaticidade poética com métodos funcionais e preguiçosos, tentando conectar o espaço tropical, ou épico, com a relação dos personagens protagonistas. É como se a narrativa lembrasse o filme de Ferrara, mas o diretor buscasse uma resposta imagética da narrativa utilizando o método contemplativo do espaço do mesmo jeito que Terrice Malick faz, mas de forma menos profissional e com uma construção desproporcional e sem uma boa conexão com resto.
Mesmo certos momentos apresentando uma boa fotografia, e um trabalho de som eficiente, não tem nada que possa ser muito aproveitado aqui na obra. Seja na narrativa, nas interpretações, na montagem e em todo o resto, a obra se mostra como um trabalho onde todos os pontos apresentados ou são executados pela metade, ou que não se tem um controle de direção em tomar certas decisões, seja nas sequências e construções de planos fotográficos, e muito menos no discurso narrativo proposto. Discurso que é tratado como se fosse algo inferior a pirotecnia desnecessária que tenta chamar a atenção do espectador, mas que acaba mais incomodando aqueles que estão vendo do que os coloca dentro de tal estória.
É um tema com muitas camadas para se trabalhar, seja no sentido existencialista, até mesmo niilista, quando se aborda o tema “morte”, tratar algo natural como se fosse uma doença, o questionamento sobre o como a moral pode aos poucos se apagando de acordo com o seu vício por imortalidade, a ideia da imortalidade como algo ameaçador ou quase uma maldição.
Tantos pontos que poderiam ser facilmente implementados à obra, mas, além de serem abordados, eles são deixados completamente de lado por um romance sem emoção e por excessos de planos contemplativos desnecessários sobre um espaço que pouco convém a narrativa.
Não Sei Quantas Almas Eu Tenho é uma tentativa de fazer uma releitura do clássico Drácula de Bram Stoker, mas a direção e a produção se mostram que quiserem investir em apenas um minúsculo ponto além da proposta original, transformando o filme em algo monótono, sem emoção, e deixando toda uma filosofia e discussão de lado, para se tornar um filme esquecível.
Nota: 1/5
Assista à entrevista de Cavi Borges e Patrícia Niedemeyer para Leela:
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