CRÍTICA | FESTIVAL DE CINEMA DE VASSOURAS – Terra Querida é uma ótima ideia, jogada no lixo
O filme Terra Querida fala de uma família simples, que busca apenas sobreviver em um território que vive a batalha de Jenipapo, que aconteceu um pouco depois da independência do Brasil. A família é composta por um pai, uma mãe duas filhas e dois filhos, que passam por dificuldades e desafios maiores a cada momento que a narrativa ocorre.
Terra querida é carregado de referências cinematográficas clássicas, seja do cinema de faroeste do John Ford, ao cinema novo com referências a Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, e Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos. A estética criada pela construção de certos planos e a ideia da contemplação do espaço colocando os personagens nanicos, quase como peças de xadrez em um jogo de miséria, consegue colocar o espectador nesse clima existencialista e pessimista, mesmo com a utilização de cores fortes ao longo da obra.
A obra carrega um potencial com bastante embasamento na formação e captura de seus planos, até mesmo na construção de sequências internas existe algo denso ali proposto ao espectador. Mas muitos problemas se encontram no quesito técnico e na forma que a narrativa acaba se perdendo até sua resolução.
Além da obra jogar o seu discurso existencialista e pessimista do sertão em meio a uma guerra fora, os pontos técnicos tem erros que mostram um amadorismo quase assustador. Seja no som, na edição de som, nos figurinos, na maquiagem, etc. Terra Querida carrega um potencial que poderia ser uma estória emblemática, de um momento que muitos nem sequer sabem que aconteceu. Mas o filme se perde na sua própria proposta narrativa, estética e até mesmo em formato.
A obra, que é um filme, acaba se decaindo no sentido estético e interpretativo, virando quase um produto televisivo, vide novelas evangélicas da Record. Até mesmo a trilha sonora, que mostra estar falando do sertão, começa a se aventurar em outros campos sonoros que fogem completamente a proposta seguida da imagem. Além das cenas de drones que se repetem mais de quatro vezes, o filme tem um péssimo trabalho de pós produção, principalmente quando se trata de som e trabalho de cor. O que é triste, já que a cor faz parte de uma das camadas de importância ao discurso primordial do longa.
Mesmo com a criação de personagens femininas fortes, todos os personagens tem uma condução de narrativa escritas como se estivessem pela metade. Seja no objetivo de uma das filhas de proteger a família como seu pai, o romance que a outra filha vive com outro soldado que mal dá para enxergar o que está acontecendo, e o filho caçula que não sere para NADA em toda a narrativa. Se retirassem o personagem, a trajetória de todos os personagens funcionária da mesma forma.
As cenas de conflito físico as vezes conseguem ter uma prática satisfatória, compensando outras que parecem terem sido feitas as pressas. Alguns simbolismos criados em alguns planos são completamente deixados de lado, sejam os soldados de brinquedo dos irmãos, até mesmo a mãe catatônica em sua própria casa pegando fogo. Terra Querida poderia ser um épico de uma batalha que poucos conhecem na história do Brasil, mas acaba se resultando em um trabalho pouco profundo, e executado de forma bamba, se balançando entre uma prática preguiçosa, e quase prepotente.
Nota: 1/5
Assista ao Trailer:
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