CRÍTICA | O Sequestro do Papa é um relato infeliz sobre o poder da igreja
O Sequestro do Papa é baseado em fatos reais e por isso acaba sendo tão assustador.
Após ser secretamente batizado por sua babá, Edgardo Mortara é levado pelos soldados do Papa para viver a crença católica, sendo distanciado a força de seus pais que são judeus. Em 1858, não era permitido que pessoas católicas vivessem em comunhão com pessoas que tinham outras crenças, levando à uma disputa da família com a igreja para trazer o menino de volta pra casa.
Sendo uma história real, o filme de Marco Bellocchio vai direto ao ponto com o ocorrido que choca qualquer um que assiste, pois não só apresenta um lado viceral no ponto de poder ser sentido a dor de cada parente do garoto, como ele prórprio, e o quanto isso vai alterar seu modo de ver as coisas, mas pela frieza com que a direção lida com isso. Havendo pouca trilha sonora ou detalhamento na parte visual para deixar a experiência agradável. O acontecimento não foi agradável, por qual motivo o público deveria ser acarinhado nesse ponto?
O Sequestro do Papa | Pandora Filmes
De forma alguma buscando criticar ou vilanizar a fé religiosa, O Sequestro do Papa destrincha o modo como pessoas e igrejas criaram uma força a ser temida e respeitada, havendo poucas suspeitas de atitudes errôneas. Tal qual filmes como Spotlight (2015) revelam, sempre terão pessoas se aproveitando do posto confiável em que foram colocadas, sendo um perigo ainda maior para crianças inocentes que as enxergam como um exemplo, obedecendo o que for dito à elas.
Por ser uma situação de extremo perigo e receio pelo que pode vir, o que aparenta ser apenas uma obra dramática acaba ganhando traços fortes de suspense, deixando pairar no ar a sensação agonizante de que a situação pode ficar pior e quando parece que a família vai conseguir resgatar seu filho, a trama segue para um direcionamento que cria ainda mais dúvidas sobre qual encerramento a obra vai entregar.
O Sequestro do Papa | Pandora Filmes
Durante esse percurso até o fim, anos vão se passando e guerras vão acontecendo, indicando ser um problema que a população e o governo estão mais preocupados em resolver do que esta situação religiosa. Com isso, muitas cenas de ação surgem para referenciar certos momentos históricos, todavia, são cenas que soam aleatórias, não recebendo tanta explicação para que o espectador se situe no que está acontecendo.
Além disso, há um leve problema na montagem do filme que apresenta textos para explicar superficialmente em que momento o espectador se situa e esses parágrafos chegam tão rápido quanto vão embora, tendo sido poucas as vezes em que houve a oportunidade de ler tudo. Trazendo um sentimento de frustração por não poder pausar ou pela ideia de algo passar batido.
Tirando isso, O Sequestro do Papa é um filme pesado, que leva a refletir sobre o autoritarismo da igreja e o quanto ela pode influenciar nas atitudes mais perversas como se houvesse alguma justificativa que as tornaria mais aceitáveis. Na medida, os atores preenchem a tela com as emoções que transmitem, principalmente com as mudanças pelas quais passam e expressam, deixando uma atenção sobre até que ponto deve-se continuar lutando por uma causa quando aquele olhar conhecido já se perdeu.
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