CRÍTICA | Coringa: Delírio a Dois é um bom filme, mas desafina em diversos quesitos
Delírios musicais e atuações de Pheonix e Gaga tentam salvar a continuação de Coringa de Todd Phillips.
“Coringa“, lançado em 2019, foi um marco nas produções baseadas em quadrinhos, centrando-se no icônico vilão do Batman. Com uma abordagem realista, o diretor Todd Phillips criou um estudo de personagem único e, ao mesmo tempo, uma excelente história de origem. O encerramento impecável do primeiro filme tornava uma sequência algo quase impensável. No entanto, chega agora aos cinemas “Coringa: Delírio a Dois”, uma ousada continuação que tenta, mas enfrenta dificuldades para desenvolver suas ideias e avançar seus personagens, apesar da fotografia impressionante, dos números musicais isolados e das atuações notáveis de Joaquin Phoenix e Lady Gaga.
Todd Phillips retorna à direção e colabora no roteiro com Scott Silver, contando a história do período de prisão e julgamento de Arthur Fleck (Phoenix) após os crimes que mergulharam a cidade no caos e transformaram seu alter ego, o Coringa, em uma figura de reverência. Nesse período, ele conhece Lee (Gaga), uma paciente que está presa com Fleck, e juntos compartilham momentos de insanidade musical. As tensões aumentam à medida que o veredito final se aproxima, e surgem dúvidas sobre o relacionamento do casal após algumas verdades serem reveladas.
Os atores do primeiro filme retornam em boa forma, e as novas adições ao elenco também brilham. Joaquin Phoenix entrega mais uma atuação intensa, agora com uma pegada mais física, incluindo números musicais onde a dança se destaca. Lady Gaga, como Lee (uma versão da Harley Quinn), aproveita ao máximo o material, tanto nas cenas musicais quanto nos momentos de ternura com Phoenix. No entanto, sua personagem carece de profundidade suficiente para causar um impacto mais forte. Em contrapartida, os breves retornos de Zazie Beetz e Leigh Gill são bem-vindos e enriquecem as cenas que refletem os atos sombrios do protagonista.
Coringa: Delírio a Dois | Warner Bros.
O maior problema do filme reside no roteiro. O desenvolvimento dos personagens é superficial. Em alguns momentos, pondera sobre a inocência de Fleck, enquanto em outros glorifica o Coringa e seus atos hediondos, criando frustração com a indecisão narrativa. Essa oscilação também afeta a Arlequina de Lady Gaga, que pouco se assemelha à icônica Harley Quinn, criada por Bruce Timm e Paul Dini na clássica “Batman: A Série Animada”.
Por outro lado, o trabalho de fotografia de Lawrence Sher, que retorna à equipe, é excepcional, utilizando a iluminação para destacar o amor entre os insanos em meio ao caos de Arkham. Os números musicais são visualmente cativantes, remetendo a produções clássicas com cenários pintados, como “O Mágico de Oz”. Essas cenas estão entre os momentos mais divertidos do filme, enriquecidas por uma excelente seleção de músicas clássicas, como “That’s Entertainment” e “When You’re Smiling”. Contudo, a trilha sonora decepciona, reciclando muitas, se não todas, as composições anteriores da vencedora do Oscar, Hildur Guðnadóttir.
“Coringa: Delírio a Dois” tem ideias ousadas ao usar o musical para contar sua história, mas falha em desenvolver seus personagens de maneira satisfatória. Embora os números musicais ofereçam deleites visuais, nem as atuações brilhantes de Joaquin Phoenix e Lady Gaga conseguem apagar os erros de um filme que prometeu muito, mas entregou pouco.
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