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CRÍTICA (FESTIVAL DO RIO) | A Herança é um futuro promissor para o terror nacional

Dirigido por João Cândido Zacharias, A Herança usa arquétipos tradicionais do gênero para construir algo raro no cinema nacional

A Herança conta a história de Thomas, um jovem que vive em Berlim com seu namorado Beni, e que deve retornar ao Brasil após a morte da mãe. Ao descobrir que é o único herdeiro de uma casa de campo da avó que nunca chegou a conhecer, Thomas e Beni decidem passar um tempo no lugar, porém, enquanto Thomas é cativado cada vez mais pelo ambiente, Beni sente que algo está muito errado.

Quando trabalhamos com o cinema clássico, acabamos seguindo algumas normas tradicionais de cada gênero específico: romance, comédia, terror, etc. Todos estão sujeitos a arquétipos seja de personagens ou de acontecimentos, para assim, tornar o produto mais eficiente dentro de uma ordem mercadológica e ser melhor aceito tanto pelo público, quanto pela crítica.

O filme A Herança, não foge disso. Se inspirando em filmes italianos e filmes de terror B norte americanos, a produção apresenta marcas tradicionais do gênero de terror que foram estabelecidas desde os seus primórdios, seja uma seita que pretende ressuscitar algo ou alguém, uma casa mal conservada, escura e suja, um casal que se encontra metido dentro do processo, sendo um deles uma espécie de chave/sacrifício humano para que uma profecia se cumpra, avisos óbvios que o protagonista ignora, entre outras.

A Herança

Cena de “A Herança”- Foto divulgada pelo Festival do Rio

O que faz o filme de João Cândido, um ávido consumidor de filmes do gênero, se destacar dentro do meio, é o roteiro que não tem medo de seguir o livro de regras que fizeram outros filmes um sucesso, uma fotografia limpa e sóbria que se baseia muito em uma contradição de chiaroscuro, muito presente em obras de arte barrocas, algo que serviu de inspiração inclusive para o setor de design de produção.

Muitos dos atores nunca haviam feito filmes de terror antes de A Herança, alguns até mesmo apresentam medo de filmes deste gênero, porém, o elenco é composto, entre outros nomes de peso, por Gilda Nomacce, atriz que já trabalhou em outros filmes de terror nacional como As Boas Maneiras (2017), assim, apresentando mais experiência e assustando parte do elenco e produção ao colocar uma caixinha de música de terror durante uma leitura do roteiro.

A Herança derrapa no terceiro ato ao tentar explicar e mostrar mais do que deveria. Grande parte da tensão ao longo da produção girava em torno do mistério, ao criar um absurdo, principalmente na parte principal do ritual da seita, o filme perde o seu valor e somente fica bizarro, porém, mesmo com este tropeço, A Herança trilha um caminho de sucesso para o cinema de terror no Brasil.

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