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CRÍTICA (FESTIVAL RIO) | Matem o Jóquei cativa pelo absurdo de sua produção

Dirigido por Luis Ortega, Matem o Jóquei oscila entre o real e onírico para contar a história da busca por um propósito.

O cinema argentino apresenta algumas premissas únicas, um exemplo é a vaca que cai do céu no filme Um Conto Chinês (2013), porém, a partir destes absurdos, estas produções se destacam dentro do cinema latino-americano.

Matem o Jóquei, pré-indicado da Argentina ao Oscar de melhor filme internacional do ano de 2025, conta a história de Remo Manfedrini, um jóquei que caiu em desgraça por conta de seu vício em álcool e drogas. Após um acidente o levar para o hospital, Remo entra em contato com seu reprimido alter ego feminino, assim, acompanhamos sua transformação completa em Dolores, enquanto sua esposa e outros personagens lidam de diferentes maneiras com a situação.

Explicando desta maneira, não é possível transmitir todos os absurdos, narrativos e visuais, presentes em Matem o Jóquei, a produção inclui: um poderoso chefão argentino que segura um bebê diferente a cada vez que aparece, personagens literalmente subindo pelas paredes sem a menor explicação e uma cena de dança que remete à cena de John Travolta e Uma Thurman em Pulp Fiction (1995).

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Úrsula Corberó e Nahuel Pérez Biscayart dançam em cena de “Matem o Jóquei”- Foto divulgada pelo Festival do Rio

A audiência que tentar acompanhar uma narrativa conexa e coesa, sairá decepcionada pois a própria construção narrativa da produção, nos leva a aceitar absurdos constantes e somente embarcar na viagem.

Nahuel Pérez Biscayart, está excelente no papel de Manfredini/Dolores, porém, o verdadeiro brilho da produção se encontra em Úrsula Corberó, a Tokyo da série La Casa de Papel, como sua esposa. Úrsula abraça o absurdo de uma forma que se torna natural, a apatia que sua personagem apresenta, é a epítome de um teatro do absurdo visto em peças teatrais do gênero como “Esperando Godot” de Becket e “Rozencrantz e Guildenstern estão mortos” de Tom Stoppard.

O filme é bizarro, porém, este se torna o seu maior atrativo, principalmente em quesitos cômicos, algo que os argentinos sabem fazer muito bem, existem personagens do filme que se encaixam no papel de confundir o espectador, o cowboy que persegue Remo é um exemplo, porém, sua utilidade é bem maior ao considerarmos o símbolo másculo do cowboy, em contrapartida com Manfredini, que encontra propósito em sua vida a aceitar sua personalidade como Dolores.

Levando em conta que Matem o Jóquei está concorrendo a uma vaga no Oscar 2025, também disputada por favoritos como A Garota da Agulha, a produção pode apresentar dificuldades na competição por conta de sua construção onírica, algo não favorecido nas últimas edições da premiação, porém, Matem o Jóquei é um filme que merece muito apreço, principalmente por conta de sua amplitude de temas psicológicos e coragem de manter um absurdo constante, visto por poucos filmes atuais.

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