CRÍTICA (FESTIVAL DO RIO) | O Império falha em alcançar seu potencial como sátira
Dirigido por Bruno Dumond, O Império se perde em roteiro confuso e ensosso ao satirizar o gênero de ficção cientifica.
Em 1987, no auge da fama de Star Wars, Mel Brooks lançou S.O.S- Tem um Louco Solto no Espaço (Space Balls), satirizando o gênero da ficção cientifica de modo original e cômico, trazendo uma nova visão para este mundo épico apresentado por George Lucas que se mantém em alta, entre altos e baixos, até os dias de hoje.
Justamente este sucesso constante de Star Wars, somado com lançamentos recentes como Duna, que permitiu O Império satirizar marcas do gênero como: o modelo dicotômico da luta do bem contra o mal, o escolhido que deve ser protegido, um imperador que quer dominar tudo, entre outros, porém, enquanto Mel Brooks acertou com louvor, tendo sido anunciado uma sequência para ser lançada quase 40 anos depois, o filme de Bruno Dumond não apresenta nenhum brilho, nem como forma de paródia e nem como filme independente.
Em O Império, somos apresentados aos 0’s, “os sith“, e aos 1’s, “os jedis“, duas raças alienígenas que representam o bem e o mal e se encontram em exílio na terra, na forma de humanos. Quando nasce o filho da união entre um 0 e um 1, ambos os impérios apresentam planos particulares para a criança.
Lyne Khoudri, Line, em cena de “O Império”- Foto Divulgada pelo Festival do Rio
O que se segue é uma trama confusa, com um humor francês típico, ou seja, não é produzido para gargalhar alto e sim para dar vários risinhos de canto de boca por conta de absurdos apresentados ao longo do filme, porém, um roteiro inflado e confuso, recheado de personagens que não apresentam marcas únicas e são unidimensionais em um nível absurdo, fazem com que O Império perca sua força.
Tirar todo o glamour e a magia de Star Wars, para colocar em um universo comum e real como Costa Opal, é uma premissa interessante, porém, chega o momento que estes dois universos, o grandioso e fantástico, e o terreno e chato, se tornam conflitantes demais, trazendo um sentimento de desprezo da parte do espectador.
Seus personagens também não auxiliam, uma história secundária do filme ocorre quando a princesa dos 1’s, Anamaria Vartolomei, se apaixona pelo príncipe dos 0’s, Brandon Vlieghe, porém, seu relacionamento não é aprofundado, e para piorar a situação, pode ser compreendido que a princesa somente apresenta interesse no príncipe por conta de ele a ter apresentado os prazeres do sexo, o que demonstra um forte problema em O Império: o trato com personagens femininas.
Em pleno século XXI, é inadmissível um filme, seja ele francês, americano, brasileiro, ou qualquer outro país. Apresentar tanto descaso com personagens femininas, quanto O Império apresenta. Além do fato de as duas principais personagens mulheres da produção se odiarem do começo ao fim do filme por conta de uma ser um 0, Line, e a outra um 1, a princesa Jane. Ambas não saem da camada unidimensional, principalmente Line, e servem somente para movimentar a narrativa da maneira mais básica possível, sem contar o seu uso para piadas machistas, de diversas formas.
O trailer promete um filme muito mais interessante do que aquilo que foi entregue por Dumond, apresentando uma ou duas piadas que realmente funcionam, enquanto sentimos confusão e vergonha alheia por conta de acontecimentos e diálogos.
O Império pode ser considerado um filme trash francês, isto não seria um problema se a produção brincasse com isto, porém, ao tentar levar a sério, em um filme galhofa, conceitos como a filosofia sobre o bem e o mal interno em cada um da humanidade, a produção encerra de forma absurda e vazia, como se a produção tivesse esquecido de filmar o final, assim, somando na crítica de que uma sátira deste escopo, dirigido por um nome renomado no cinema francês, poderia ter gastado um tempo maior em seu desenvolvimento e construído algo realmente grandioso.
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