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CRÍTICA | Em Gladiador II, Ridley Scott retorna à arena com ambição e crítica ao Poder

Mesmo carregado de sentimentalismo e algumas conveniências narrativas, Gladiador II ousa expandir o universo da Roma Antiga, apresentando novos protagonistas divididos entre lealdade e rebeldia.

Desde que lançou “Gladiador” (2000), há mais de vinte anos, Ridley Scott (“Blade Runner”) manteve um ritmo de produção impressionante, chegando a lançar dois filmes por ano, até mesmo aos 86 anos. Ainda que sua filmografia tenha se expandido consideravelmente desde então, “Gladiador” segue sendo uma de suas obras mais adoradas. Após anos de pedidos por uma continuação, Scott finalmente traz “Gladiador II” aos cinemas, retomando a história com seu toque característico de crítica afiada às grandes corporações — agora adaptada ao contexto do Império Romano.

Na nova trama, Lucius (Paul Mescal), ao ver seu lar ameaçado pelos tiranos que governam Roma, é forçado a entrar no Coliseu. Ele precisará revisitar seu passado em busca de forças para restaurar a glória de Roma e devolver sua dignidade ao povo.


Diferentemente de retomar a jornada de Maximus (Russell Crowe), Scott adota uma abordagem atualizada, mais próxima de seu estilo recente, ao dividir o espírito do protagonista original entre Lucius e Acacius (Pedro Pascal).

Enquanto Lucius carrega o ressentimento por ter sido injustiçado pelo Império, influenciado também por sua relação com Lucilla (Connie Nielsen), irmã de Commodus, Acacius, um general que vive no coração do poder, sente o peso de servir a uma sociedade obcecada pela conquista, mas que ignora seu próprio povo. Esses personagens confrontam o Império de perspectivas diferentes, criando um embate entre lealdade e insubmissão, atualizando e aprofundando as questões do filme original.

Entre os destaques do elenco está Denzel Washington (“Dia de Treinamento”), que brilha no papel de Macrinus, um vilão astuto que manipula o cenário político com maestria, entregando uma atuação magnética e implacável.


O longa-metragem também resgata diversas rimas visuais e sonoras que marcaram o primeiro “Gladiador”, buscando, assim, reforçar a nostalgia do público que acompanhou o sucesso anterior. No entanto, essas referências são apresentadas com efeitos variados e nem sempre sutis, o que pode criar uma sensação de familiaridade, mas também de repetição.

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Gladiador II | Paramount Pictures

Embora Ridley Scott se destaque no aspecto técnico com a criação de cenários grandiosos, batalhas épicas e cenas meticulosamente elaboradas, sua direção, em alguns momentos, exibe uma certa falta de controle. Esse descontrole se reflete na utilização de conveniências narrativas que parecem forçadas e no excesso de sentimentalismo, principalmente nas passagens relacionadas aos laços familiares de Lucius, que acabam ganhando um peso dramático exagerado. Embora o diretor amplie as discussões sobre poder, ambições e ideais, algumas tramas que foram encerradas de forma clara no primeiro filme retornam de maneira redundante, o que prejudica a sensação de urgência e novidade em determinados momentos da história.

Além disso, o ritmo da narrativa, em certos trechos, se torna um tanto arrastado, prejudicando o fluxo geral da trama. O exagero no sentimentalismo e a insistência constante em explorar temas familiares fazem com que algumas das decisões de Lucius se tornem previsíveis e, por consequência, enfraqueçam a complexidade de suas escolhas. O longa, em diversos momentos, parece se prender excessivamente a essas questões, limitando o desenvolvimento de outros aspectos da história e diminuindo o impacto de certas reviravoltas e personagens.


Ao final, entre acertos e erros, “Gladiador II” apresenta um saldo positivo. Apesar das falhas apontadas, a nova aventura entrega um espetáculo visual e oferece uma crítica provocadora ao sistema de poder, contando com um elenco talentoso que, ao lado de Scott, dá continuidade ao legado do primeiro longa. Embora perca fôlego em algumas partes, o filme mantém sua crítica incisiva ao poder e aos impérios, entregando uma obra ambiciosa que desafia convenções históricas.

“Gladiador II”, portanto é pop, desafiador e frenético; para Scott, que já se consagrou, alcançar a eternidade deixou de ser prioridade — agora, ele aproveita a liberdade de sua própria arena.

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