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CRÍTICA| Babygirl entretém, mas, não alcança o potencial máximo

Apesar de um bom filme, Babygirl poderia ter usufruído mais de seu erotismo

Em 1999, Stanley Kubrick lançou aquele que se tornou seu último filme: De Olhos Bem Fechados. Com Tom Cruise e Nicole Kidman, o filme não teve medo de ousar ao contar a história de um homem de família que se envolve em uma seita sexual. Mais de 20 anos depois, também com Nicole Kidman, surge Babygirl, um filme que um usuário da plataforma Letterboxd enunciou como De Olhos Bem Fechados da geração Z.

Para inicio de conversa, jamais se deve comparar qualquer filme com algo feito por Stanley Kubrick, nada jamais chegará naquele nível de excelência. Em segundo lugar, apesar de ter potencial e apresentar uma Nicole Kidman extremamente confortável em seu papel, Babygirl não alcança seu potencial como filme erótico, apesar de deixar bem claro os desejos de sua protagonista.

Segundo Sigmund Freud, grande teórico da sexualidade, o desejo surge de pulsões internas como a sexualidade e a agressividade. Ao longo de Babygirl, acompanhamos Romy, Nicole Kidman em um dos melhores papéis de sua longeva carreira, uma C.E.O de grande corporação, casada com Jacob, Antonio Banderas, e com duas filhas. Sua vida muda ao conhecer Samuel, Harry Dickinson, um estagiário que liberta nela uma vontade reprimida de submissão dentro de relações sexuais.

Discutindo questões como moralidade e a posição da mulher na sociedade, Babygirl é mais uma adição no catálogo de filmes da produtora A24 que somente este ano lançou outras 10 produções que incluem os excelentes Herege e Love Lies Bleeding, porém, dentro de uma produtora conhecida por filmes de destaque, Babygirl deveria ter proporcionado algo maior, tanto temática quanto esteticamente, para se sobressair, porém, acaba ficando na paralela e sendo somente um bom filme.

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Nicole Kidman em Babygirl- Divulgação Diamond/A24

Em questão de estética, a produção apresenta uma direção de arte minimalista, com cenários belos dentro de um universo corporativo, uma trilha sonora marcada por músicas pop e uma fotografia exemplar. O clima natalino permite muitos jogos de luzes, e uma mudança na paleta de cores na medida que Romy se permite desfrutar da própria sexualidade e presencia novas emoções que nunca teve em 19 anos de relacionamento com seu marido. Toda esta construção narrativa, ganha muita força com a presença de Samuel.

Em O Último Tango em Paris (Bernardo Bertolucci, 1972), os personagens de Marlom Brando e Maria Schneider, decidem se isolar em um apartamento, sem saber nada de suas vidas anteriores, para assim conseguir desfrutar do erotismo de uma maneira única. O roteiro e direção de Halina Reijn segue esta ideia do mistério, construindo Samuel mais como uma figura emblemática, do que como um personagem tridimensional por si. Quando não conhecemos nada da história de um personagem, ele corre o risco de perder a força e se tornar esquecível, porém, no caso de Harry Dickinson, isto somente engrandece seu personagem e por consequência toda a narrativa de Babygirl.

Em questão de temática, a produção pode ser considerado um coming of age tardio, na medida que Romy se redescobre e cresce com suas experiências. Auxiliado por excelentes atuações, somos apresentados a este universo de dominação, um tabu ainda em certos meios sociais. Os momentos íntimos entre Romy e Samuel ocasionam os pontos altos da produção.

Ao considerarmos que a geração Z quer menos cenas de sexo em produções cinematográficas, Babygirl ousa muito em momentos pontuais, porém se segura em outros que poderiam ter tido maior ousadia em pró de um maior impacto erótico e no filme como um todo, como a questão da moralidade de Romy, algo presente, principalmente por conta da sua relação com sua assistente Esme, porém, nunca explorada em sua totalidade além de uma discussão sobre o exemplo que ela deve passar por ser uma mulher C.E.O.

A produção é boa, porém, fica na paralela de diversos temas sociais, o universo corporativo e o seu machismo sobressalente, o papel da mulher dentro e fora da família, o desgaste das relações matrimoniais, a repressão e o desejo sexual, porém, por bem ou por mal, não se aprofunda especificamente em nenhuma delas, construindo um filme de personagem e focando na jornada de libertação e auto-descoberta de Romy, que seguirá muito depois dos créditos se encerrarem.

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Pôster Oficial de Babygirl– Divulgação A24

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