OSCAR 2025| Quais categorias Anora merece ganhar?

Anora

Dirigido por Sean Baker, Anora apresenta 6 indicações ao Oscar 2025, mas quais destas ele realmente apresenta chances?

A história da Gata Borralheira, Cinderela para os íntimos, é uma das histórias seculares da humanidade. Apresentando diversas versões ao longo dos anos, suas versões literárias mais conhecidas são as de Charles Perrault, 1697, e dos Irmãos Grimm, 1812.

Apresentando sua primeira versão cinematográfica em 1899 pelas mãos de George Méliès, a história de uma garota bondosa e humilde que é transformada por meio do amor, já foi adaptada de maneira fiel, como na animação clássica da Disney, Cinderella (1950, Clyde Geronimi, Hamilton Luske e Wilfred Jackson), de maneiras contemporâneas como em Uma Linda Mulher (1990, Garry Marshall) e por fim, de maneiras subversivas, como é o caso de Anora (2024, Sean Baker).

Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes 2024, Anora conta a história de uma stripper que se casa com um jovem oligarca russo, permitindo uma drástica mudança de vida na medida que se torna uma esposa troféu, porém, esta felicidade é ameaçada pelos pais do rapaz.

Apesar de aparentar simples, Anora ganha força por conta de sua hábil junção de gêneros. Inicialmente um romance clichê, no segundo ato assistimos uma das melhores comédias anos 90 do ano de 2024, e terminamos assistindo um drama que destrói a nossa alma. Um exemplo da complexidade de compreensão deste filme, se encontra um senhor que estava presente na sessão a qual assisti o filme. Na marca de 50 minutos, quando se inicia os momentos cômicos da produção, ele gritou bem alto que o filme estava terrível e de repente ficou muito bom. Ao final do filme, ele aplaudiu.

Indicado à 6 categorias na competição do Oscar 2025, o seguinte artigo pretende examinar as categorias que Anora apresenta mais chances de ganhar.

MELHOR FILME

Anora

Pôster Oficial de Anora

Indicados:

  • Brian Young e Brady Corbet por O Brutalista
  • Coralie Fargeat por A Substância
  • Dennis Villeneuve, Mary Parent, Cale Boyter e Patrick McCormick por Duna: Parte 2
  • Edward Berger, Robert Harris e Juliette Howell por Conclave
  • James Mangold e Timothée Chalamamet por Um Completo Desconhecido
  • Jon M. Chu por Wicked
  • Joslyn Barnes, Dede Gardner e Jeremy Kleiner por Nickle Boys
  • Pascal Caucheteux e Jacques Audiard por Emilia Perez
  • Sean Baker, Alex Coco e Samantha Quan por Anora
  • Walter Salles e Rodrigo Teixeira por Ainda Estou Aqui

Anora é um filme que não agrada à todos. Na medida que vivemos em uma sociedade conservadora, na qual até mesmo a geração Z se sente desconfortável com cenas de sexo em filmes. Anora não apresenta medos de mostrar cenas de sexo e os seus prazeres, algo essencial em um filme cuja protagonista é uma stripper super satisfeita com a sua linha de trabalho, que se casa com um moleque de 21 anos que somente pensa em transar e jogar videogame.

Em seguida, Anora entra em o seu arco de comédia, no melhor estilo Os Trapalhões e com um excelente uso de comédia física. Os momentos nos fazem rir alto, para em seguida refletirmos e nos sentirmos desconfortáveis por termos rido, novamente, deixando o público desconfortável.

A cereja do bolo, é o seu final arrebatador. Destruindo a ilusão daqueles que acreditavam em um final feliz para Ani, semelhante aos contos de fadas e às fantasias hollywoodianas, a produção termina com sua protagonista percebendo que foi usada, que ela não é nada e jamais foi durante toda a história retratada. E o que ela faz com esta decisão? Inicia uma transa com o único homem realmente bom do filme inteiro, porém, no meio do ato ela quebra, e percebe que necessita de uma acolhida e um abraço terno, e não um êxtase carnal. Novamente deixando o público desconfortável.

Greta Gerwig, diretora, roteirista, ativista pelos direitos da mulher e feminista, ter sido a presidente do júri na edição de 2024 do festival de Cannes, edição em que Anora recebeu o maior prêmio do festival em cima de outras produções como A Substância (2024, Coralie Fargeat) e Emilia Perez (2024, Jacques Audiard), permite uma compreensão muito clara de porque Anora ganhou tanto sucesso e reconhecimento: o filme é humano e crível, subvertendo um gênero milenar de Hollywood: a comédia romântica, em pró de uma reflexão sobre sonhos e desejos em uma sociedade cruel.

Acredito que Anora apresente chances no Oscar por conta disso, seu retrato verossímil sobre a nossa sociedade hipócrita. A academia gosta de produções que nos instigam a refletir sobre questões mundanas, Moonlight (2016, Barry Jenkins), Green Book (2018, Peter Farrely) e Nomadland (2020, Chloé Zhao) são exemplos disso.

MELHOR DIRETOR

anora

Indicados:

  • Brady Corbet por O Brutalista
  • Coralie Fargeat por A Substância
  • James Mangold Um Completo Desconhecido
  • Jacques Audiard por Emilia Perez
  • Sean Baker por Anora

Se analisarmos a cinematografia de Sean Baker, podemos conferir o seu apreço por histórias do submundo daqueles apelidados de “trabalhadores do sexo”, Red Rocket (2021) e Tangerine (2015) são alguns exemplos. Lidando com esta temática de modo muito humano, Baker se destaca neste retrato anti hollywoodiano. Ao invés de enaltecer e mostrar como as coisas deveriam, ou poderiam ser, ele opta por mostrar como elas realmente são, algo a se considerar na competição pelo Oscar de 2025, cujo maior concorrente se encontra em Brady Corbet por O Brutalista (2025).

Jacques Audiard apresenta poucas chances de vitória, especialmente após pronunciamentos polêmicos que conseguiram ofender de mexicanos à franceses, assim, sobram Coralie Fargeat, a única mulher na competição, e James Mangold, um diretor que ou acerta muito ou erra feio.

Coralie Fargeat demonstrou em A Substância (2024), um excelente domínio técnico, principalmente em sua fotografia e direção, porém, sabemos que o Oscar não aprecia filmes de horror.

James Mangold é um diretor conhecido por sua cuidadosa cinematografia e surpresas como Logan (2017), na mesma medida que desastres tenebrosos como Indiana Jones e a Relíquia do Destino (2023), seu forte são cinebiopias e retratos de histórias verídicas, porém, Um Completo Desconhecido (2025) aparenta seguir uma direção segura demais para uma competição que inclui a ousadia de Baker e Fargeat.

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL

anora 2

Mikey Madison em cena de Anora– Divulgação Universal Pictures

Indicados:

  • Brian Young e Brady Corbet por O Brutalista
  • Coralie Fargeat por A Substância
  • Jesse Eisenberg por A Verdadeira Dor
  • Moritz Binder, Tim Fehlbaum e Alex David por Setembro 5
  • Sean Baker por Anora

Como discutido anteriormente, uma das maiores forças de Anora se encontra em seu roteiro subversivo que mescla três gêneros, romance, comédia e drama, dentro de um filme que nos faz refletir sobre a hipocrisia humana, na mesma medida que nos deixa desconfortáveis seja por meio de cenas de sexo, ou pensamentos intrusivos, algo que não satisfaz o público, principalmente nos dias de hoje, e talvez por isso que irá ganhar, mesmo apresentando um roteiro tão divisivo.

DEMAIS CATEGORIAS

Dentro de suas 6 categorias indicadas, Anora também concorre em melhor edição, melhor atriz principal para Mikey Madison e melhor ator coadjuvante para Yuri Borasov.

Ambos os atores, apesar de capazes, são jovens e apresentarão outras oportunidades maiores no futuro para competir pelo prêmio. Mikey Madison estava matando pessoas em Pânico (2022, Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillet), não faz nem 5 anos, apesar do Oscar ser algo a se considerar, em um ano com atuações maestras como a de Demi Moore e Fernanda Torres, acredito que ela apresente poucas chances.

Yura Borasov, apesar de estar com 33 anos e mais de 50 créditos no IMDB, apresenta força por meio de pequenos comentários e olhares, algo que poderia garantir sua vitória se não estivesse concorrendo com nomes como Edward Norton e Kieran Culkin, os favoritos para o prêmio.

Em questão da edição do filme, o maior impedimento para a sua vitória se encontra em Conclave (2025, Edward Berger), afinal, o thriller sobre a escolha do papa consegue prender bem mais do que “o filme da stripper que estava terrível e ficou muito bom”, como disse oportunamente o meu companheiro de sala.

CONCLUSÃO

Anora é um filme que provavelmente iniciará uma onda de reflexões e pensamentos com os anos, tendo se tornado um clássico com um tempo muito pequeno de vida, grande parte por conta de suas atuações de destaque, um roteiro que mescla o melhor do drama com o melhor da comédia, um retrato honesto da humanidade e da vivência de uma classe trabalhadora que optamos muitas vezes desviar o olhar para: os “trabalhadores do sexo”.

Apesar de isto não ser suficiente para levar todos os 6 prêmios que concorrerá na noite do dia 02 de Março de 2025, só nos resta esperar e torcer pelos caminhos que esta noite tomará.

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