Dirigido por Steven LaMorte, Screamboat homenageia o filme trash, da mesma forma que homenageia produções da Disney
Na margem das grandes produções hollywoodianas, existe um submundo cinematográfico apelidado de cinema trash, apesar de não apresentar o charme de grandes produções da Warner ou da Disney, ele consegue atrair uma parcela do público, por alguns motivos que vão do racional ao puro instintivo.
Seja por sua temática cômica ou uma sensação que varia de “por quê estou assistindo isso?” até “não acredito que tiveram coragem de filmar esta coisa”, grandes diretores construíram sua fama em filmes deste “sub-gênero”, entre eles Ed Wood e Roger Corman, cineastas que abriram caminho para diversas produções subsequentes, de qualidade duvidosa com certeza, afinal, apresentam baixo orçamento, atores baratos e tecnicamente deixam muito a desejar, porém, sendo sempre nítido o amor que estes artistas apresentam pelo produto, este é o caso de Screamboat.

Cena de Screamboat- Divulgação Oficial
Screamboat somente existe por conta de seu timing. Em 1º de Janeiro de 2024, para a infelicidade da Walt Disney Animation Studios, a versão original de Mickey Mouse entrou em domínio público. Um personagem tão amado pelo público, não somente norte-americano, mas, mundial, cuja fisionomia consegue ser identificável até mesmo no escuro, a versão de Mickey apresentada na animação Steamboat Willie agora pode ser usado em diversas produções independentes, isento de qualquer direito, assim, um prato cheio para produções independentes e satíricas.
Screamboat é um slasher que se passa em um barco, aonde os passageiros vão sendo assassinados por um pequeno e feio rato chamado Willie, que pode ser facilmente chutado para longe, porém, causa muita confusão e matanças inteligentes, além de ser extremamente expressivo em questão corporal e facial.
Seguindo a onda de outro slashers, o foco de Screamboat não é na jornada dramática dos personagens, afinal, elas são superficiais, e sim o quão divertido é o seu contexto e universo. Ninguém assiste Sexta-Feira 13 (1980, Sean S. Cunningham) pela história, mas, ele se tornou um clássico por conta de seu nível de entretenimento barato.
Para retratar a história de origem de Willie, Screamboat se utiliza de uma sequência em animação que inclui uma figura que remete diretamente à Walt Disney. A sequência em 2D é revigorante ao construir um pastiche das animações da década de 30, que moldaram todas as que vieram futuramente, incluindo Branca de Neve e os Sete Anões (1937, David Hand), o filme que abriu a porteira para o estúdio crescer em níveis assustadores.

Cena de Screamboat- Divulgação Oficial
Screamboat talvez não seja o melhor filme do ano, mas, ele não busca isso, se preocupando em ser divertido, nada além disso, algo demonstrado pelo diretor Steven LaMorte, e toda a equipe técnica de arte, figurino, fotografia, etc. Todos fizeram seus respectivos deveres de casa, desde grandes referências, até homenagens para fãs mais hardcore, como, por exemplo, o nome da balsa ser Mortimer, um vilão secundário das histórias de Mickey Mouse.
A trilha sonora merece ser exaltada. Conduzindo desde o clima de tensão, até momentos cômicos, parodiando músicas clássicas típicas de cartoons, como a Cavalgada das Valquírias de Richard Wagner, até os assobios do monstro Willie, que remetem a diversas músicas de filmes clássicos norte-americanos, incluindo a própria música assobiada por Mickey em seu desenho original.
Por meio de uma rídicula subversão, Screamboat constrói em uma hora e 40, que poderia ser facilmente reduzida para uma hora e 20, uma rídicula história de amor ao cinema slasher, ao mesmo tempo que com muita graça, pode ser considerado sim, uma homenagem a filmes amados por tantos, mesmo após mais de 100 anos desde a introdução de seu mascote.
Screamboat tem distribuição da Imagem Filmes e será lançado nacionalmente no dia 01 de Maio de 2025.