CRÍTICA (FESTIVAL DO RIO) | A Garota da Agulha mostra o lado obscuro da maternidade
Dirigido por Magnus Von Horn, A Garota da Agulha não é para os fracos de coração.
Se passando no período entre guerras, A Garota da Agulha acompanha Karoline, uma jovem operária que se encontra desempregada, grávida e desesperada em uma Copenhague do século XX que se encontra ainda mais claustrofóbica por conta da fotografia em preto e branco.
Quando Karoline, Vic Carmen Sonne, se torna ama de leite de Dagimar, uma carismática gerente de uma agência de doação clandestina, o que se inicia como um suspiro para a jovem, liberta o seu pior, quando descobre o verdadeiro segredo da clínica de Dagimar, levando-a refletir sobre a própria posição dentro do senso de comunidade.
A Garota da Agulha é um filme sobre maternidade, principalmente as mães que nem sempre desejaram seguir este destino, porém, aceitam o papel por pura obrigação, trazendo infelicidade tanto para a criança quanto para a própria mulher que deveria agir como um símbolo de proteção e cuidado.
A produção apresenta diversos bebês, todos chorando de modo insistente e alto, algo que incomoda até mesmo os mais preparados. É desta forma que o horror do filme é construído, não por momentos assustadores, mas, por momentos de desconforto que se revelam de maneiras distintas: interações artificiais; o grotesco no corpo humano sendo demonstrado pelo ex marido de Karoline que foi ferido na guerra; uma questão mais estética com paralelos que o filme apresenta com movimentos de vanguarda como o surrealismo e filmes como Um Cão Andaluz de Luiz Buñuel.
Vic Carmen Sonne como Karoline em cena de “A Garota da Agulha”- Foto divulgada pelo Festival do Rio
Não existe nada mais assustador do que a frase “Baseado em Fatos Reais”, e o filme A Garota da Agulha usa isso a seu favor, discutindo atos tão horrendos, durante um período tão difícil para a humanidade, principalmente para as mulheres, e que dentro do contexto do filme acabam sendo justificados por meio de uma frase de Dagimar: “O mundo é um lugar horrível, mas nós precisamos acreditar que não é tanto assim”.
A Garota da Agulha pode ser resumido fazendo uso somente desta frase, os atos que fazemos em nosso dia a dia, são atos que seguem a nossa própria bússola moral, no caso de Dagimar, a bússola diz para cuidar das mães que não desejam seus filhos, prometendo um lar para eles, porém, com um outro destino bem mais obscuro em mente, algo que Karoline não conseguiu aguentar, e muitas pessoas também não, porque na medida que enxergamos a verdadeira face da humanidade, se não acreditarmos em algo melhor, nada mais consegue nos levantar.
A Garota da Agulha foi escolhido pela Dinamarca para representar o país na disputa por uma indicação ao Oscar de melhor filme internacional do ano de 2025.
Leia também:
Deixe um comentário
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.