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CRÍTICA (FESTIVAL RIO) | Abraço de Mãe constrói terror a partir de relação materna

Dirigido por Cristian Ponce, Abraço de Mãe conta história de fantasmas para retratar a aceitação da dor.

Ao longo do cinema de terror, diversos filmes construíram uma narrativa assustadora, tendo como base uma relação pé no chão sobre maternidade, alguns exemplos incluem: Aliens, O Resgate (1986), O Bebê de Rosemary (1968), O Babadook (2014), As Boas Maneiras (2017) e o recente Abraço de Mãe (2024).

Abraço de Mãe conta a história de Ana, interpretada por Marjorie Estiano, uma bombeira que deve evacuar um asilo durante um forte temporal na cidade do Rio de Janeiro, durante este processo, descobre as verdadeiras intenções de seus moradores e a ligação com o seu próprio passado.

Grande parte da produção se passa dentro de uma enorme casa, aonde o horror é construído por meio da escuridão; pelo senso de não ter para onde fugir; pela construção sonora e silenciosa do local; e por seus moradores que iniciam uma cerimônia com a chegada da tempestade, uma cerimônia que Ana já presenciou em sua vida.

Existem duas formas de maternidade ao longo da produção, aquela que cria e aquela que cuida. A primeira foi o que Ana vivenciou em sua infância, tendo tido uma mãe que aparentava se importar, porém, apresentava outros objetivos mais obscuros que foram impedidos por um incêndio. A segunda ocorre quando Ana conhece Lia, uma menina assustada presa no asilo, e deve protegê-la do mesmo destino que quase foi seu.

A relação entre uma mãe e uma criança, seja ela biológica ou não, é uma das mais fortes que existe, por isso é tão comumente explorada ao longo da literatura e do cinema. Abraço de Mãe explora este simbolismo diversas vezes, um exemplo é o enorme útero aonde aqueles que são capturados, são aprisionados com um cordão umbilical que alimenta um gigante bebê em estado de formação.

Um segundo simbolismo presente em Abraço de Mãe, se encontra na relação de Ana com os 4 elementos da natureza: o fogo que matou a mãe de Ana e ao mesmo tempo a salvou de um destino cruel; a água do temporal e do líquido amniótico aonde os personagens alimentam o bebê; a mãe terra que exige este sacrifício; e o vento de um dos maiores temporais da história do Rio de Janeiro.

Abraço de Mãe

“Abraço de Mãe”- Foto divulgada pelo Festival do Rio

Abraço de Mãe constrói um universo fantástico que auxilia na construção do horror. O roteiro de Cristian Ponce, André Pereira e Gabriela Capello, propositalmente não explica todas as questões relacionadas à cerimônia ou às temáticas mais fantásticas da produção, deixando o espectador tirar suas próprias conclusões sobre os acontecimentos.

O maior objetivo do roteiro e da direção é a construção de um arco narrativo para Ana, sendo o filme conduzido pela sua personagem. Primeiramente presenciamos a sua juventude e seu trauma que a marcou para a vida, em seguida sua versão mais madura na forma de uma bombeira orgulhosa e que se recusa a aceitar a dor ou a sua própria incapacidade de agir, e ao longo da produção, o seu amadurecimento em uma pessoa que aceita a sua própria condição humana e falha, protegendo Lia e aceitando que não é possível fugir da própria dor, devendo aceitá-la.

Com uma direção de fotografia e construção de clima exemplares, Abraço de Mãe prova como é possível fazer um cinema de terror no Brasil, o filme estreia dia 23 de Outubro na NETFLIX.

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