Até os Ossos: Um romance trágico entre predadores
Do diretor Luca Guadagnino, responsável pelo remake de Suspira(2018) e por Me Chame Pelo seu Nome(2017), Até os Ossos é uma história de amor entre Maren Yearly e Lee, que vivem se refugiando de um lugar para o outro nos Estados Unidos por causa de seus costumes canibalescos. Em busca de sua mãe por respostas sobre tal necessidade, Maren se junta a Lee em uma viagem de carro para conseguir entender sua natureza.
A obra mostra um cenário de um Estados Unidos, por volta dos anos 80, seguindo o ponto de vista de quem seriam os “excluídos” ou os “incompreendidos” pela sociedade por seguirem um estilo de vida considerado animalesco. O canibalismo não demora para aparecer no filme. Logo nos primeiros 10 minutos aparece uma cena do ato, sendo ela bem detalhada na forma gráfica e sonora. Cena que, é o ponto inicial para fazer toda a trajetória da personagem Maren (interpretada pela atriz Taylor Russel).
Claro que o filme tem cenas com bastante violência gráfica, mas não a ponto de ser algo trabalhado para causar incômodo de forma apelativa. Até pelo fato de que a violência, é uma pequena parcela do que todo o conjunto da obra tem para apresentar. Principalmente com o desenvolvimento do personagem Lee (interpretado pelo ator Timothée Chalamet), envolvendo sua família e o como ele tenta lidar com seu passado.
É apresentado diversos cenários, ligando a vários personagens coadjuvantes que vão aparecendo ao longo da viagem do casal protagonista. Nesses diferentes personagens, em diferentes momentos do filme, mostra-se como cada um deles lida com a natureza sem explicação que eles tem dentro de si. Sendo alguns simples viajantes de estrada, ou alguém que tenha passado toda a vida sozinho, em busca de sobrevivência. Nesse sentido, o filme funciona logo em sua introdução, mostrando várias pinturas de paisagens como a nossa forma de interpretação, como espectador, da imagem pintada para a filmada.
A obra tenta se aventurar um pouco pela montagem, mas de forma desproporcional com o resto do filme, se mostrando perdida em querer criar alguma importância em meio a narrativa. Algo que não é tão necessário, até pelo fato da obra funcionar com uma montagem linear simples. Algo que a fotografia faz diferente, demonstrando planos gerais (com muita utilização de paisagens naturais), planos conjuntos com cores quentes (porém, desbotadas) e sendo utilizada poucas vezes na mão. Com esse conjunto, mesmo com a montagem, o filme consegue criar um ambiente quase apocalíptico na jornada do casal.
O trabalho de cada personagem, até mesmo os secundários, tem um desenvolvimento de qualidade. O mesmo serve para o personagem Sully (interpretado pelo ator Mark Rylance) que se destaca pela presença quase mística, mas que acaba sendo utilizado como um facilitador para o final, que poderia ter um desenvolvimento mais calmo. Mesmo o ato final sendo realizado sem nenhum furo, poderia ter tido um pouco mais de tempo para criar um ápice para o fim da jornada do casal.
A obra pode ser considerada um Roadmovie, misturado com romance Shakespeariano e com pitadas de terror gore. Consegue entreter o espectador, na mesma forma que consegue instigar muitos questionamentos:
Seria a obra uma alusão ao vício de heroína de décadas atrás? Seria simplesmente um retrato de uma sociedade capitalista que não sacia sua fome nem devorando de sua própria carne? Como é simpatizar com personagens que precisam devorar outros para continuarem a existir e a estarem juntos? Uma obra que nos coloca em viagem junto com esse casal em busca de respostas e ensopados de sangue.
Nota: 4/5
Assista ao Trailer:
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