Crítica | Castlevania
Série da Netflix é uma das raras adaptações de games bem-sucedidas!
Em 2017, a Netflix nos brindou com o seu novo projeto: uma adaptação em formato de série do game Castlevania. Logo, a notícia tomou conta das redes sociais, despertando uma expectativa, tanto positiva, quanto negativa.
“Coragem” é a primeira palavra que vem a minha mente, quando descubro que uma franquia de jogos ganhará vida no cinema ou na TV; os idealizadores de uma adaptação precisam ser corajosos, antes de qualquer coisa! Nos últimos anos, tivemos experiências traumáticas (desculpa abrir essa ferida!), mas preciso relembrar os terríveis Warcraft – O primeiro encontro de dois mundos, Street Fighter – A última batalha e o bizarro Super Mario Bros.
Em contrapartida, Sonic – O filme, Terror em Silent Hill e Príncipe da Pérsia: As areias do tempo são exemplos das poucas adaptações que conseguiram se sobressair, entregando algo aceitável.
A mais nova produção a ocupar espaço no rol das “boas adaptações” é Castlevania. Mesclando fantasia e horror, a história narra como o último membro de um clã de caçadores de monstros, Trevor Belmont, une forças com Alucard e Sypha para impedir que o temível Conde Drácula cause a extinção da humanidade.
O Roteiro
Warren Ellis, escritor de quadrinhos (já trabalhou para DC e Marvel), conduz o
roteiro com muita originalidade. Nada de vampiros superficiais, heróis bondosos
e tramas fáceis. A medida que a história avança, o cenário torna-se mais
caótico, com profundas reviravoltas e diálogos filosóficos.
A ambientação medieval eleva o enredo, com cenários que não são apenas um “pano de fundo” na série. O comportamento dos civis, em um período sombrio, representa o lado mais obscuro do homem. Indo além, o texto coloca em evidência a hipocrisia religiosa e seu domínio cruel, como determinar que algumas mulheres eram “bruxas” e a repulsa pela ciência, resumida a bruxaria.
Não é apenas o misterioso castelo de Drácula que possui suas particularidades, Valáquia, muitas vezes, é mais sombria que as criaturas demoníacas que invadem o local.
Sem medo de abraçar o lado “gore“, Warren consegue representar a fome vampiresca na sua forma mais bruta: sangue, vísceras, mutilações e qualquer outra coisa que possa embrulhar o estômago.
O grande triunfo do roteirista é valorizar as subtramas, através de personagens coadjuvantes que crescem ao longo da história. Isso é visto nos primeiros episódios, quando Lisa, a mulher de Drácula, ganha mais tempo em tela, do que nos jogos. Ela não é apenas a “motivação do vilão”, ela é uma personagem que sintetiza a esperança humana, mostrando que até nos monstros mais poderosos existe “bondade“.
As temporadas de Castlevania
Quando terminei a primeira temporada, o sentimento que dominou minha mente foi “revolta”. Isso serve como uma insatisfação e um elogio. Com apenas 4 episódios, a temporada inaugural de Castlevania é uma apresentação dos personagens centrais da trama; em outra palavras, é como se o primeiro ano da animação fosse em prólogo. Sem pressa, cada episódio se concentra em mostrar os protagonistas e O Grande Antagonista.
No final, fica aquela sensação
de “como assim, já acabou?!“. É nítido o perfil introdutório
da temporada 1, motivando nossa ânsia em descobrir os rumos que a história
tomará. Na mesma proporção, a impressão que fica é que a animação foi “cortada”
pela metade, e que os episódios foram remanejados para a temporada seguinte.
Sem mais delongas, a 2ª
temporada de Castlevania é a mais promissora. Isso se deve ao excelente
desenvolvimento da mitologia daquele mundo sombrio, enquanto o roteiro adiciona
personagens secundários interessantes, como Carmilla e os dois humanos: Isaac
e Hector. Surgem, também, os generais de Drácula, apesar de
alguns ficarem nas sombras e nem sequer falar um “a“.
Enquanto o trio Alucard,
Trevor e Sypha arquitetam um plano para derrotar o vilão, a
história ganha mais forma do outro lado, com alianças, traições e manipulações
políticas. A evolução de Drácula é regida pelo Luto; esse é o pior
inimigo dele, afinal, lidar com a morte de sua mulher e enfrentar o “seguir
adiante” não são tarefas fáceis para um imortal.
Com incríveis batalhas, o segundo ano da animação detém os melhores arcos narrativos. O desfecho, no entanto, deixa algumas pontas soltas, que nos catapultam para o terceiro ano da série.
Dando mais tempo de tela para personagens secundários, e assumindo as rédeas criativas, ao criar conteúdo além do material original, a 3ª temporada da série possui um ritmo mais lento, com pouca ação e mais dramas. Acompanhamos o novo capítulo dos protagonistas, agora separados, enquanto vampiros e humanos ganham força para desafiar a ordem natural das coisas. E o término deixará você sedento por uma 4ª temporada, que aliás, foi confirmada recentemente pela Netflix!
Os personagens
Sem frases de efeitos, sem gargalhadas ou grandes demonstrações de poderes, Drácula é um antagonista complexo, que foge de uma releitura clichê do personagem. Conhecemos, primeiramente, como o amor dele por Lisa se transformou em uma jornada de ódio e vingança contra a raça humana.
Quando o foco muda para Trevor, o enredo utiliza os diálogos entre personagens secundários para sutilmente nos entregar o passado da último caçador de monstros do clã Belmont. Todo o carisma dele é construído sobre uma personalidade irresponsável, ranzinza e destemida.
Sypha
aparece pouco na primeira temporada, mas suas habilidades de magia enchem
nossos olhos. Com movimentos de mãos a lá Doutor Estranho, enxergamos
nela a típica maga de um RPG. Somente na 2ª temporada que ela obtém uma melhor
desenvoltura, tanto na ação, quanto no drama.
Alucard (nome “espelhado” em seu pai) chega nos 45 do segundo tempo, mostrando que classe e etiqueta podem ser visíveis em um combate! Ele é um ser híbrido, filho de Drácula e Lisa. Preso nas amarras dramáticas do roteiro, ele é o personagem que mais agrega peso na história, ao tomar escolhas que envolvem vida e morte.
Talvez, a Netflix se torne a nova precursora de adaptações de games em formatos de séries, um mero palpite baseado no vindouro projeto da franquia de jogos de Resident Evil e na futura série de Devil May Cry.
Expandindo o mundo além do material original e mantendo a qualidade, Castlevania é uma porta aberta para as adaptações de games, que muitas vezes ficam à mercê de filmes que decepcionaram. Se você ainda não conhece esse mundo sombrio, cercado de criaturas infernais, ainda dá tempo de “maratonar” as três primeiras temporadas e aquecer para a quarta.
Castlevania é muito mais que uma história de vampiros, é uma representação da linha tênue que separa homens e monstros.
Nota: 4/5
Assista ao trailer:
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