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CRÍTICA| Comando das Criaturas é excelente aperitivo para o novo DCU

Como ponto de partida, Comando das Criaturas é humanidade e suco de James Gunn, na mesma medida

Segundo o dicionário Oxford, um monstro é: “qualquer ser ou coisa contrária à natureza; anomalia, deformidade ou monstruosidade.” Atormentando nossos pensamentos desde os primórdios da humanidade, estas criaturas fascinam a humanidade e auxiliam em diversas reflexões dentro de diferentes campos artísticos e até mesmo filosóficos.

A literatura e a cultura pop usa monstros e criaturas em excesso por conta de seu enorme potencial narrativo, os trabalhando em duas frentes principais: a primeiro é a criatura que não apresenta redenção e é a epítome de todo o mal da humanidade, Pennywise de Stephen King é um exemplo.

A segunda frente inclui as criaturas que não são monstros por si, elas desejam amor e afeto como todos nós, e são negadas por conta de preconceitos e medos internos do ser humano. Em resumo, eles apresentam desejos, ambições e vontades humanas, porém, por serem rejeitados e negados pela sociedade, acabam regredindo a nada mais do que somente criaturas de nossos pesadelos, não por escolha, mas como forma de sobrevivência.

Grandes personagens como Quasímodo de O Corcunda de Notre Dame de Victor Hugo e O Fantasma Da Ópera de Gaston Leroux se encaixam nesta frente, juntamente com todo o elenco principal da série Comando Das Criaturas.

Anunciada por James Gunn como o ponto de partida de sua primeira fase no universo DC, intitulada “Deuses e Monstros”, Comando Das Criaturas apresenta toda a força de suas produções anteriores como Super (2010), O Esquadrão Suicida (2021) e obviamente a trilogia Guardiões Da Galáxia (2014-2023). Sendo nítido o amor que o roteirista apresenta por cada um de seus personagens, não importando quão desprezível ele seja.

Comando das Criaturas se inicia após os eventos de Pacificador (2022) e mostra Amanda Waller reunindo um novo time de meta-humanos, porém, desta vez, não por humanos, mas, por criaturas desformes, cada uma com sua personalidade física nítida e com uma história trágica por trás.

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Cena de Comando das Criaturas- Divulgação DC Studios

A Noiva foi criada por Victor Frankenstein, como uma parceira para alguém que repudia; Dr. Fósforo foi transformado em uma espécie de “Motoqueiro Fantasma”, verde e radioativo, piada feita dentro da própria série inclusive, por um grupo de mafiosos; G.I.Robot é um robô com uma diretriz de matar nazistas e que se encontra sozinho no mundo; Nina Mazursky é a humana transformada em peixe pelo seu carinhoso pai, somente para evitar que ela sofra mais, entre outros.

Ao longo de 7 curtos episódios, acompanhamos este grupo de proscritos, inicialmente sob o comando de Rick Flag Sr., um personagem que tristemente não alcança seu potencial, em sua missão de proteger a princesa de um longínquo país eslavo, para em seguida serem encarregados de mata-la.

O que se inicia como uma versão atualizada de O Esquadrão Suicida (2021), inclusive com o retorno de personagens como Amanda Waller e a Doninha, é ampliado por meio do conceito antigo de que criaturas monstruosas são somente pessoas incompreendidas, trazendo a cada episódio um flashback trágico de um dos membros da equipe.

Iniciando no segundo episódio com a trágica história de A Noiva, para encerrar no sétimo com a pièce de résistance de toda a produção ao ser contada a origem de Nina. Uma personagem deixada de escanteio por toda a série, porém, que é o coração e a alma de Comando Das Criaturas, sendo o resumo da principal mensagem que a produção deseja transmitir: nunca desista da sua humanidade, por mais que o mundo inteiro caia ao seu redor.

Ao meu ver, a cena que melhor resume Comando das Criaturas, se encontra em uma pequena cena de diálogo presente no último episódio. Doninha está recebendo carinho dos guardas, enquanto Fósforo e A Noiva enxergam à distância. Fósforo reclama da atenção que o animal recebe e a A Noiva pergunta se ele também deseja receber carinho dos guardas. O homem radioativo sabiamente responde que sim, questionando se ela sabe como é passar 15 anos sem ninguém que a tocasse, e A Noiva recruta que sim, ela sabe.

Acredito que apesar da animação bem executada, uma composição de cores de brilhar os olhos, uma dublagem grandiosa, principalmente de David Harbour como Eric Frankenstein, e uma trilha sonora que precisaria de outro texto de quase 1000 palavras para dissecar o quão ela é marcante dentro da série como um todo, o que realmente faz a série é o coração e a humanidade de seus personagens, dentro de um arroz com feijão extremamente bem feito, especialidade de James Gunn.

Muito se discute sobre um desgaste de produções do gênero de super herói, muito por conta de um domínio da Marvel dentro deste campo, com produções que se preocupavam mais com o espetáculo do que uma boa história com coração, não a toa, conheço pessoas que não gostam da Marvel, mas, adoram Guardiões da Galáxia, e isto se resume justamente ao fator emoção presente por trás, que o MCU perdeu após quase 20 anos. O desgaste não é necessariamente de filmes de super heróis, porém, do excesso de produções mal executadas dentro do campo.

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Comandos das Criaturas não reinventa a roda, na verdade é um começo bem morno para um universo que inclui os maiores nomes dos quadrinhos de todos os tempos como Superman, Batman e Mulher-Maravilha, porém, neste momento de descrença com o gênero, a produção é justamente o que James Gunn e todo o DCU precisam: uma forma lenta e segura de introduzir seu novo universo, de maneira bem executada e que atraia a atenção do público, seja por meio de um Superman crucificado em uma visão distópica, uma sombra do morcego encapuzado que levou os fãs à loucura, ou diversos personagens desconhecidos que são muito mais humanos do que qualquer personagem que a Marvel introduziu em muito tempo.

Eu tive um professor na faculdade que dizia que se ao longo de um filme, conseguirmos nos importar com somente um personagem, esta produção já está acima da média. Acredito que Comando Das Criaturas passa no teste, nos fazendo importar, rir, chorar, dançar com as músicas, e nos guiando para um futuro promissor que o DCU tanto precisa.

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