Crítica | A Baleia: Como é estar encalhado em seu passado
Escrita em 2014, “A Baleia” fala sobre Charlie, um homem com obesidade, que tenta se aproximar da filha. Filha na qual ele não fala há 8 anos, depois de ter deixado o casamento e decidir viver em um outro relacionamento, com um homem. O filme representa, também, a volta do ator Brendan Fraser às telas de cinema, oque foi um dos pontos que mais chamou a atenção dos espectadores sobre esse filme.
“A Baleia” é dirigido de forma que lembra bastante uma peça. Até pelo fato de que o filme se passa, basicamente, em um único ambiente, que é a casa de Charlie, e a câmera faz questão de captar o ambiente em conjunto com o protagonista, ou outros personagens perto do mesmo. Não esquecendo do formato de imagem 4:3 que é adotado na obra, para o espectador estar se sentindo exatamente nesse ambiente claustrofóbico. Sem contar a necessidade do diretor de explicitar ao espectador que estamos vendo à um filme, não uma peça.
Brendan Fraser, mesmo com muita maquiagem, consegue fazer uma interpretação delicada e carregada de arrependimentos, solidão, melancolia e cansaço de um indivíduo que não se sente mais vivo depois da perda de seu companheiro. Fazendo ele criar um transtorno alimentício, e vivendo com obesidade mórbida. Sua atuação é feita de forma introspectiva na maior parte do longa, mas não fica contido nas cenas nas quais é exigido maior dramaticidade. Algo que ele consegue chegar com exatidão.
É necessário citar aqui o trabalho de atuação das duas personagens que mais contracenam com o protagonista: Sua filha, Ellie, e sua melhor amiga, Liz (interpretadas por Sadie Sink e Hong Chau). Ambas fazem um trabalho de bastante peso, onde uma personagem já perdeu seu irmão por um suicídio e está a ponto de perder seu melhor amigo, e uma filha que carrega uma forte carga de ódio pelo abandono de seu pai aos 8 anos de idade. Ódio no qual ela joga sobre todos que estão a sua volta, até mesmo um passáro que faz companhia ao seu pai pela janela.
A personagem Liz, mesmo tendo um forte peso dramático, e bem desenvolvida ao longo da obra que não desperdiça sua performance, cria uma pequena problemática em uma figura que é enfermeira, sendo uma facilitadora à péssima alimentação de Charlie, oque é algo chamativo na obra, até pela forma como Charlie se alimenta.
Enquanto a filha Ellie, mesmo demonstrando um lado de extrema violência e falta de piedade a figura de um pai que mostra estar bastante debilitado, consegue mostrar de forma introspectiva, assim como na atuação de Brendan, a saudade que ela sente da presença de seu pai no seu dia-a-dia.
Porém, a parte da narrativa que envolve a personagem com o personagem Thomas (interpretado pelo ator Ty Simpkins) é executada de forma acelerada. Oque foi desnecessário, já que Sink tem total controle de sua atuação, e não teve tanto espaço quanto poderia ter. Mesmo que no final da obra, ela tenha sido bem recompensada por isso.
A ideia da alegoria da Baleia, de um ser simples, mas que está empacado em um lugar e consegue observar além das entrelinhas que se limitam, seja à escrita, como na imagem, já que o formato aqui é cinematográfico, consegue criar uma forte conexão ao espectador. Não ligando a ideia da Baleia com a obesidade, mas o peso do passado, da perda e de nossos erros, que deixa o indivíduo sem forças para querer seguir em frente.
O filme também faz questão de cutucar o falso puritanismo e a religião cristã, que critica de forma árdua o quão a ideia de “Bem” para cada ser humano e visto de forma completamente diferente. E como esse “Bem” pode ser capaz de destruir a vida de outros, que na visão por trás do puritanismo das boas ações a outro, é uma tentativa de corretivo. Algo que é não é tão bem medido na jornada do personagem Thomas consigo mesmo nem com o protagonista Charlie.
“A Baleia” é uma obra que consegue criar um forte debate sobre como existe tanta vida em pessoas que o mundo faz questão de destruir. Sejam elas gordas, ou homossexuais, elas podem estar se escondendo em pequenas casas. E nessas pequenas casa, pode se encontrar muita vida. Vida, que, infelizmente, não querem chegar perto. Ou, ao menos, saber se tem vida nelas.
Nota: 4,5/5
Assista ao Trailer:
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