Crítica | A Lenda de Candyman
Sequência direta do clássico de 1992, ‘A Lenda de Candyman’ traz de volta às telas um dos personagens mais violentos e intrigantes do gênero do terror. Dirigido por Nia DaCosta e roteirizado por Jordan Peele, o longa explora profundamente os conceitos de racismo e gentrificação, enquanto desenvolve uma história trágica e impactante sobre um espírito vingativo com um gancho em sua mão.
Em ‘A Lenda de Candyman‘, desde que os moradores do conjunto habitacional de Cabrini-Green podem se lembrar, a história sobre um espírito assassino aterroriza a comunidade. Invocado por aqueles que repetem seu nome cinco vezes na frente de um espelho, Candyman é a reminiscência de um homem injustamente assassinado por um crime que não cometeu.
Uma década após os acontecimentos do longa original, o artista visual Anthony McCoy (Yahya Abdul-Mateen II) e sua namorada Brianna Cartwright (Teyonah Parris) se mudam para um luxuoso apartamento em Cabrini, agora completamente modernizado e enobrecido. Com a carreira à beira da estagnação, Anthony sai à procura de inspiração e tem um encontro casual com um antigo residente do complexo, que revela a natureza trágica da lenda de Candyman. A partir de então, o artista fica obcecado pela história e começa a explorar os detalhes dessa lenda em suas pinturas. No entanto, ele acaba abrindo uma porta para um passado complexo que põe à prova sua própria sanidade e desencadeia uma onda terrível de violência que o coloca em rota de colisão com a morte.
Primeiramente, é importante salientar que, talvez, o sucesso de ‘Candyman’ nos anos 90 tenha sido afetado pela concorrência com grandes clássicos como ‘Sexta-Feira 13‘, ‘Halloween‘ ‘A Hora do Pesadelo‘ e ‘Brinquedo Assassino‘ – na época, os grandes expoentes do terror. No entanto, apesar da falta de reconhecimento do público, a mitologia do personagem nunca se mostrou menos impactante.
A lenda de Candyman nasceu no conto ‘The Forbidden’, escrito por Clive Barker (‘Hellraiser’) em 1985. Na história, Daniel Robitaille, um escravo de uma plantação em New Orleans, se envolve romanticamente com a filha do dono das terras e acaba sendo torturado por isso. Como a lenda diz, após ser espancado e ter a sua mão decepada, Daniel é amarrado e tem mel espalhado por todo seu corpo, a fim de ser comido vivo por abelhas e formigas. Em seu leito de morte, os presentes debocham do escravo e o apelidam de ‘Candyman‘ (‘homem doce’, na tradução do inglês). Porém, antes de morrer, o personagem amaldiçoa todos ao seu redor e, 1 século depois, retorna com um gancho no lugar da mão cortada para matar quem ousasse pronunciar seu nome cinco vezes em frente a um espelho.
Em ‘A Lenda de Candyman‘, Nia DaCosta e Jordan Peele alteraram a história original e modernizaram o conto para os novos espectadores – ainda que tenham dedicado uma pequena sequência para relembrar o conto de Clive Barker. Na nova origem do personagem, Candyman é um homem inofensivo que distribui balas para crianças. No entanto, quando lâminas de barbear começam a ser encontradas dentro de alguns dos doces, o homem vira um alvo imediato e é violentamente executado por policiais. Apesar da morte do “suspeito”, as giletes continuaram a ser encontradas – o que, por fim, comprovou a sua inocência. A sua alma injustiçada passou, então, a buscar vingança.
Feito o comparativo entre todas as versões de Candyman, posso falar sobre a experiência que foi assistir pela primeira vez o novo longa da Universal Pictures. A partir daqui, abandono propositalmente as tentativas habituais de um crítico de achar defeitos no filme e adoto a postura de um mero espectador que foi completamente envolvido pelo que viu. Dito isso, ‘A Lenda de Candyman‘ tornou-se, para mim, um clássico instantâneo do terror – assim como o original. O longa é realmente impressionante e não me deixou a desejar em momento algum. Se há alguma falha, não procurei investigar. Pelo contrário, apenas desfrutei de tudo que estava em tela. Do começo ao fim, fui dominado pela narrativa viciante do personagem e pela genialidade do corpo criativo do filme, que misturou o terror a diversas pautas sociais e ainda conseguiu desenvolver uma história (trágica) de amor.
“A Lenda de Candyman“, que é suficiente para injetar vida nova na franquia de terror, joga o espectador dentro de um profundo abismo psicológico. Todos os aspectos do filme confluem para incomodar e nos tirar da nossa zona de conforto: a trilha sonora, a cenografia, a caracterização dos personagens. De uma forma estranha, o compasso do meu coração assumiu o ritmo desejado por Nia DaCosta e Jordan Peele e começou a bater em confluência com as vítimas desesperadas de ‘Candyman‘. Por fim, dito por alguém que não conhecia a fundo a mitologia desse espírito maligno, o filme é um relato inesquecível que vai te fazer ter medo de olhar em um espelho. Eu te desafio a falar o nome dele cinco vezes…
A Lenda de Candyman estreia nos cinemas brasileiros no dia 26 de agosto.
Nota: 5/5
Assista ao trailer:
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