Crítica | Amarração do Amor – Diferentes na religião, iguais na confusão!
O investimento do cinema brasileiro no gênero comédia tem gerado títulos marcantes, que conquistaram admiradores com o passar dos anos. Uma espiada no ontem e podemos ver exemplos como O Auto da Compadecida, Minha Mãe é Uma Peça, Se eu Fosse Você; entre outros. O novo integrante dessa safra é o longa-metragem Amarração do Amor, com estreia marcada para 14 de outubro de 2021. Reunindo um elenco carismático, o roteiro explora o humor catalisado pelas divergências religiosas de duas famílias apegadas aos costumes. Dessa premissa, cria-se a história de amor através do par de protagonistas, e cabe aos coadjuvantes a missão de gerar gargalhadas.
Existem diversos caminhos para se abordar um tema. Há diretores que botam o dedo na ferida, escancarando a temática de forma visceral, ou aqueles que preferem a abordagem mais leve. Claro que por se tratar de uma comédia, a diretora Caroline Fioratti se enquadra no segundo grupo; visto que sua mensagem sobre intolerância religiosa em Amarração do Amor é discreta, mas efetiva. A cineasta entrega sue recado (dentro da proposta fílmica), apropriando-se do carisma dos atores para discursar sobre o bom e velho respeito às diferenças.
Sobre Amarração do Amor:
Bebel e Lucas só querem um casamento simples, mas as diferenças entre suas famílias faz tudo parecer difícil. Os pais de Lucas são mãe e pai de santo de um terreiro de umbanda, enquanto os pais de Bebel são de uma tradicional família judaica.
O clichê mais famoso, que blinda as histórias românticas, se resume a quatro palavras: “Estava escrito nas estrelas”. Não é de hoje que os casais da Sétima Arte se conhecem devido a uma estranha coincidência. Logo, aqueles que creem nisso atribuem tais “encontros e desencontros” as engrenagens do acaso. Na primeira cena de Amarração do Amor presenciamos o Sr. Destino trabalhando ou será a Sra. Casualidade? A resposta ficará por conta do espectador.
O objetivo de Caroline Fioratti é claro! Ela visa mostrar as semelhanças a partir das diferenças. Sondando o comportamento religioso, sua direção utiliza cenas paralelas que criam conexões entre os personagens. A fé, os ritos, os sonhos e os anseios; todos esses aspectos mostram pontos em comum que existem entre a família do noivo e da noiva.
Em alguns momentos, Fioratti trilha caminhos desgastados. São estradas que o público já viu inúmeras vezes, em diversas histórias, mas apesar disso, a narrativa serve ao público boas homenagens, piadas e um toque de conscientização (de modo a desfazer as cegueiras causadas pela intolerância religiosa). Com isso, fica claro que os responsáveis por criarem empecilhos no casamento são seres abstratos: a Ignorância e a Falta de Comunicação. Por mais que um ou outro coadjuvante sirva de canal para esses dois seres, nota-se que os dois lados da moeda carecem de compreensão. Cabe ao amor familiar, a tarefa de consertar os desentendimentos.
A dupla Samya Pascotto (Bebel) e Bruno Suzano (Lucas) mostram química na primeira troca de olhares, convencendo como os pombinhos apaixonados. Pascotto cria uma protagonista que se equilibra com maestria nas extremidades do roteiro, ora entregando um lado mais dramático, ora abraçando o lado cômico. Já Suzano é o carisma em pessoa, usando a melhor definição de “caras e bocas” nos momentos desconfortáveis atrelados ao seu personagem.
O grande destaque em Amarração do Amor, contudo, está na tríade Ary França, Cacau Protásio e Malu Valle. Protásio e França são os intérpretes de Regina e Samuel, mãe do noivo e pai da noiva, respectivamente. Em pé de guerra, eles injetam humor no filme, protagonizando as melhores cenas. Já Malu Valle se diverte numa personagem que brinca com os diálogos para subverter as expectativas.
O elenco de apoio, Carla Daniel, Lorena Comparato, Bel Kutner e a veterana Berta Loran estão ótimos; mesmo que a duração em tela seja pequena, o roteiro mira os holofotes para que todos tenha um momento sob as luzes. Aqui abro parênteses para elogiar o ator Vinicius Wester; intérprete de Ilan, o irmão da noiva. Sua performance demostra sinceridade [e comicidade], entregando uma breve jornada sobre “quem sou eu?“.
Em suma, Amarração do Amor segue a linha das comédias nacionais que divertem, usando um pano de fundo que toca em assuntos necessários. Abraçando a lente do bom-humor, a narrativa serve como um discurso brando, que endossa a coexistência de diferentes religiões em um âmbito familiar.
Nota: 3,5/5
Assista ao trailer:
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