CRÍTICA | Back to Black é uma cinebiografia de uma das maiores artistas dessa geração e consegue ser o menos biográfica possível
Back to Black, longa chegou às telonas na semana passada e conta a história de vida e morte de Amy Winehouse.
Quando Back to Black foi anunciado animou muita gente, uma das maiores cantoras do mundo, que teve uma vida conturbada e uma ascensão meteórica, todos os ingredientes para o sucesso certo? Errado.
Nos últimos anos vimos chegar nas telonas cinebiografias boas, medianas, mas que sempre focavam na história do artista e as pessoas ao seu redor, vide Bohemian Raphsody, Elvis, Rocketman, Straight Outta Compton: A História do N.W.A., os exemplos são muitos, que por mais que sejam falhos, apresentam um pouco mais de coerência narrativa e bons personagens para sustentar o protagonista.
Back to Black consegue juntar todos os clichês presentes em cinebiografias, mas extrapola ao não apresentar uma história coerente ao público, transforma a história de Amy Winehouse que é uma história repleta de momentos mágicos em apenas álcool, drogas e dependência emocional.
Back to Black | Universal Pictures
Sam Taylor-Johnson (50 Tons de Cinza) assina a direção e realmente a esta altura, estou totalmente convencido de que hoje em dia os estúdios estão fabricando essas cinebiografias para dar aos diretores egocêntricos a oportunidade de recontar a história de outra pessoa em seu próprio estilo masturbatório, bem como permitir que atores desesperados façam um cosplay barato e neste caso, zombam indiretamente de suas celebridades favoritas.
Marisa Abela interpreta Amy Jade Winehouse, que foi uma cantora, compositora e multi-instrumentista britânica. Se tornou mundialmente conhecida por seu poderoso e profundo tom de voz e também por sua mistura eclética de gêneros musicais.
No primeiro ato de Back to Black, vemos o seu início como compositora e seus pequenos shows em pubs ingleses, até ai temos bons momentos, um bom humor, boa atuação e vemos os personagens que irão conosco até o fim do longa. Daí pra frente o filme se torna uma alegoria de acontecimentos, sem a menor explicaçao e fundamento de uma vida tão conturbada e problemática quanto foi a de Amy.
Back to Black | Universal Pictures
Tudo no filme é raso, não nos aprofundamos em nada, o que impede a imersão do público devido a narrativa fraca e baseada em quanto a Amy bebia, fumava e se drogava e o pior de tudo, o filme da a entender que ela era completamente dependente de seu ex-marido, Blake Fielder, que todos os problemas dela eram por causa dele.
Se salva apenas o bom humor em certos pontos do filme e alguns momentos em que a empatia para com as relações familiares causam uma leve emoção. As cenas superprocessadas em que a personagem de Abela canta em um estúdio de gravação ou em uma sala são todas caricaturas inaudíveis e banais da genialidade de Amy.
Não tenho ideia de como foi o processo de produção de Back to Black, mas se você for abordado com um roteiro como este e ainda decidir que quer fazer este filme, você não o fará. Ao pelo menos tentar imortalizar Amy Winehouse em uma dessas cinebiografias romantizadas e estereotipadas da última década, você corre o risco de enganar o público em uma narrativa falsa.
Back to Black | Universal Pictures
Ver a imensa beleza da vida, do legado e da carreira lendária de Amy Winehouse ser mais uma vez insultada dessa forma é simplesmente trágico. Além de tudo isso, também é terrível do ponto de vista cinematográfico.
Amy também era tão imperfeita quanto o resto de nós, perseguida pelo vício, pelos “fãs” tóxicos, pelos abutres dos tablóides e por um círculo interno abusivo que se importava mais com sua fama do que com seu bem-estar. Apesar das dificuldades que suportou, ela conseguiu o que só grandes artistas conseguiram, ela transformou sua dor em obras de arte, uma tapeçaria de canções e melodias que retratam os altos e baixos de sua vida.
Back to Black é um retrato horrível, explorador ,ofensivo e um insulto a arte e a memória de Winehouse, uma representação pesada e cruel do vício e uma vitrine irritantemente superficial para uma atuação e narrativa biográfica, muito pouco para uma das maiores artistas do século.
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