Crítica | “Batem à Porta” é a junção de alegorias baratas com homofobia explicita
A narrativa do último filme de Shyamalan é sobre um casal gay que vai passar um tempo em uma casa no meio da floresta com sua filha adotiva, Wen( interpretada por Kristen Cui). O casal Eric e Andrew, interpretados pelos atores Jonathan Groff e Ben Aldridge, é imposto a escolher, por um grupo de quatro desconhecidos armados, a ter que sacrificar um dos três para salvar o mundo do apocalipse.
O filme consegue começar com calma, criando um ambiente de tensão em um lugar ensolarado e com planos fechados nos rostos dos dois primeiros personagens que aparecem. Uma técnica diferente, mas que se satura ao longo da obra que tem muitos planos parecidos colocando o rosto, sem teto, fechado no plano de forma central.
A obra não demora para ser direta naquilo que se propõe, que é a tensão e a violência psicológica proposta no trailer e na própria sinopse. Até os momentos de violência conseguem ter uma construção delicada em pequenas cenas que são concluídas com exatidão. É possível ver um trabalho organizado de decupagem na obra, como em outros filmes do mesmo diretor.
Porém, o filme acaba se afundando por completo no final. Claro que o filme trabalha a homofobia que os personagens protagonistas sofrem, das cenas que representam o presente, até os flashbacks expositivos, que não tem muita utilidade para o resto da obra em geral. Mas, mesmo o assunto sendo algo previsível de aparecer e ser debatido ao longo do filme, Shyamalan trabalha esse assunto de forma resumida e imatura, finalizando a obra como algo decadente de se ver.
Além do fato de abordar uma das suas assinaturas, que não preciso nem dizer qual é, o diretor transforma uma estória de suspense em uma barata alegoria religiosa cristã nos seus 15 minutos finais. Não só o resulta um filme mal escrito, o filme trata de forma displicente o casal protagonista. Resumindo tudo de mal que acontece com eles como se fosse um “mal necessário”.
O filme em seu conjunto técnico consegue um trabalho satisfatório, mas que acaba ofuscado em um trabalho de CGI terrivelmente executado. Parecendo que a pós produção estava correndo a todo vapor só para lançar o filme na data prevista.
Oque não faz muito sentido, pelo resto do trabalho técnico ter sido executado de forma pelo menos madura e delicada. Principalmente o trabalho de som, que é feito de forma sutil, a ponto de sentir a respiração dos personagens.
O trabalho de fotografia não fica de fora, tirando o excesso de close-ups desnecessários, consegue criar tensão e construções delicadas de certos planos. Mesmo tendo alguns erros de continuidade na obra, só é algo notável caso for rever a obra, por um pequeno detalhe. Detalhe que não é um dos principais problemas dessa obra.
Batem á Porta é um filme que poderia ser uma boa estória de suspense, com personagens que conseguem fazer uma atuação justa à obra, e com um trabalho técnico satisfatório.
Mas se afoga em uma alegoria religiosa barata, se tornando um discurso cristão homofóbico e triste para o espectador que esperava uma obra com um mínimo de maturidade de um diretor com longa data de produções que, mesmo não sendo perfeitas, conseguiam satisfazer o espectador, sem decepcioná-lo de forma tão rasa como essa obra.
Nota: 2/5
Assista ao trailer:
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