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Crítica | Beastars: O lobo bom — 1ª Temporada desconstrói o principal vilão das fábulas

Desde pequenos, consumimos histórias, sejam elas no formato literário, audiovisual ou até mesmo através do famoso “conta uma história para mim?“. A grande maioria teve uma infância recheada de fábulas (histórias curtas protagonizadas por animais com comportamento humano). Em muitas delas, o ‘mau‘ ganhou um rosto animalesco: o animal peludo que sempre uiva para a lua cheia. É com essa premissa que o anime Beastars – O lobo bom reinventa a fábula do ‘Lobo Mau‘ em sua 1ª temporada.

Sinopse de Beastars – O Lobo bom:

Em um mundo povoado por animais antropomórficos, herbívoros e carnívoros coexistem. Para os adolescentes da Escola Cherryton, a vida escolar é cheia de esperança, romance, desconfiança e incertezas. O personagem principal é Legoshi, um lobo, membro do clube de teatro. Apesar de sua aparência assustadora, ele tem um coração bem gentil. Por boa parte de sua vida, ele sempre foi objeto de medo e ódio dos outros animais, e já se acostumou com esse estilo de vida.

Mas logo ele acaba se envolvendo mais com seus colegas de classe, que tem suas próprias porções de inseguranças, e vê sua vida escolar mudar lentamente.

Beastars O lobo bom 1ª temporada anime
Beastars – O lobo bom / Orange / Netflix

Com toques filosóficos e uma narrativa madura, a 1ª temporada do anime Beastars – O lobo bom está disponível no catálogo da Netflix. E vale cada episódio. Com um enredo que humaniza o comportamento animal e animaliza o comportamento humano, a trama submerge mil e uma analogias sociais.

Produzido pelo estúdio Orange, o anime é baseado no manga ilustrado e roteirizado por Paru Itagaki. A história está fazendo muito barulho do outro lado mundo. E agora, no ocidente, o anime está conquistando a atenção de muitos.

Sabe-se que a principal função de uma fábula é educar as crianças, conscientizando-as através da moral, que sempre possui um paralelo com a nossa realidade. Acontece que o anime Beastars desconstrói o estigma que sempre acompanhou o lobo. E não são poucas as histórias que transformaram esse personagem no antagonista.

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Beastars – O lobo bom / Orange / Netflix

Sabe aquela famosa cena do filme Shrek 2, em que a Fada Madrinha cita diversas obras que não possuem ‘Ogros’? O mesmo vale para as histórias com “lobos bons”. Pois bem, vamos para uma análise à lá Fada Madrinha. Chapeuzinho Vermelho? Nenhum lobo bom! Os Três Porquinhos? Nenhum lobo bom! O Lobo e os Sete Cabritinhos? Nenhum lobo bom! O Lobo e o Cordeiro? Nenhum lobo bom!

As fábulas de Esopo construíram esse personagem como um ser maléfico, feroz, impiedoso, rancoroso e faminto. E como será contar uma narrativa que reinterpreta esse personagem sem tais características?

Dizer que Beastars é um “Zootopia para adultos” é minimizar toda a originalidade que o roteiro entrega! Com uma trama densa e repleta de camadas, o texto fictício usa e explana os fatos sociais, ao simular situações reais do nosso cotidiano dentro da narrativa.

No primeiro episódio, ocorre um assassinato de um aluno herbívoro. Logo, os olhares acusatórios recaem sobre todos os alunos carnívoros, como se todos eles fossem capazes de sucumbir ao instinto. Só nesse ponto, podemos ver como o anime faz uma releitura sobre os estereótipos, o preconceito e o racismo. O plot ainda consegue tempo para contar uma história de amor e uma história de suspense. E, em alguns momentos, flerta com o humor e o drama.

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Beastars – O lobo bom / Orange / Netflix

Cada personagem caminha um longo trajeto durante os doze episódios da 1ª temporada. Legoshi, o protagonista de Beastars, caminha no sentido contrário. Lutando dia e noite contra o seu instinto, ele desafia a ordem natural de sua existência como predador. Tímido, pensativo e gentil, ele é um membro do teatro da escola que prefere ficar nos bastidores, deixando, literalmente, os holofotes para os outros.

Como protagonista, seu arco de personagem ganha nossa atenção de imediato. O carisma que emana dele é sutilmente alavancado pelas narrações em off do mesmo. Pensando muito e falando pouco, somos os únicos que sabem o que realmente se passa na cabeça do Lobo Bom. Seus dilemas, escolhas, medos e desejos despertam nossa admiração.

Haru, a coelha charmosa e de olhar sereno, é a responsável por sacudir o mundo de Legoshi. Imediatamente, o texto usa a nossa falsa percepção a respeito da personagem, para cutucar nosso “pré-conceito”, pois idealizamos uma imagem imediata dela, que é quebrada logo no final do 2º episódio.

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Beastars – O lobo bom / Orange / Netflix

Stephenie Meyer, autora de Crepúsculo, uma vez escreveu em seus livros “e então o leão se apaixonou pelo cordeiro“. Substituindo os animais, e abandonando a metáfora, a 1ª temporada de Beastars nos encanta com uma história de um lobo que se apaixona por uma coelha.

Com uma trilha impecável e um roteiro brilhante, o anime mantêm sua qualidade no quesito estético. Muitas pessoas torcem o nariz quando escutam o termo “computação gráfica” e “animes” na mesma frase. Mas, Beastars é uma prova viva de que animações orientais conseguem extrair o melhor da tecnologia computadorizada, para assim elevar o visual de uma obra. Você pode perceber o excelente resultado nos mínimos detalhes, como os olhos e as movimentações dos personagens. Assim como as cenas que mesclam a silhueta de Legoshi com os cenários e outros personagens, enquanto escutamos sua voz off.

Outra coisa muito importante! Eu sei que a Netflix oferece o botão “pular a abertura“. No entanto, não faça isso! É um pecado não assistir a abertura em stop-motion do anime, que encanta toda vez que é assistida.

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Beastars – O lobo bom / Orange / Netflix

Quem matou Tem, a alpaca?” é essa a principal indagação que catapulta os personagens na direção dos principais conflitos. O assassinato do herbívoro persiste por um longo tempo, mas em algum momento perde força, caindo no esquecimento, mesmo citado vez aqui, vez acolá.

Um pensamento popularmente propagado diz o seguinte: “O lobo sempre será mau, se você continuar a ouvir só a versão da Chapeuzinho Vermelho“. Essa frase representa muito bem o brilhantismo que Beastars possui, ao tornar o lobo um protagonista, enquanto discuti a eterna dicotomia sobre “bem e mal“; e como reconhecemos e definimos cada um deles.

Construindo uma história de amor, cujo alicerce são elementos fantásticos e sombrios, esse é um dos poucos animes que abraça a criatividade e pensa fora da caixinha. Audacioso, divertido e diferente. Belo, tanto no visual, quanto no roteiro, Beastars é capaz de agradar (quase) todos.

Nota: 4,5/5

Assista ao trailer da 1ª Temporada:

https://www.youtube.com/watch?v=Dlcr3ZXalFA

Veja também: Crítica | Jack Ryan – 1ª Temporada.

Créditos ao autor:

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