CRÍTICA | Beau tem Medo é uma mistura de linguagens com um final superficial
Ari Aster mostra uma narrativa que envolve a sua estrutura dos dois últimos longas, onde o terror está presente nas relações humanas, principalmente, familiares. O filme demonstra logo nos primeiros minutos o tamanho do caos envolta do protagonista Beau (interpretado por Joaquin Phoenix) e sua fragilidade, seja corpórea ou mental. Algo que é sucedido, mostrando a visão de um indivíduo que passa por um inferno pessoal e esse inferno ser transbordado até sua visão de espaço e sobre aqueles que te cercam.
A jornada de Beau até encontrar a sua mãe tem uma construção com diferentes elementos para dialogar com o espectador, seja na metalinguagem audiovisual e até mesmo de artifícios teatrais, que tornam a experiência do filme como algo enigmático. O espaço caótico em conjunto com os personagens perturbados e a atuação de Phoenix, causam uma experiência que traz uma pequena dose de desconforto com ansiedade em busca de respostas sobre tudo que está acontecendo.
Beau tem Medo carrega algumas referências fora do gênero de terror, como filmes “O Show de Trueman” e o desconforto vide a proposta de “1984” do autor George Orwell. A ideia de que o protagonista está cercado por uma plateia e pronto para julga-lo como um juri, que, na sua maioria, se mostra mais solidário à uma mãe, existe do início ao fim da jornada no rosto de Beau. Oque funciona até o arco final, onde toda a beleza do desconforto e das interrogações provocadas ao espectador vão por água a baixo.
A sequência final, mostra uma tentativa de responder a todas as questões, e busca trazer mais incômodo ao espectador com uma reviravolta e artimanhas que fazem a estória por si só perder oque ainda te restava de potência. Algo que também é atrapalhado pelo excesso de cenas demonstrando transes do protagonista. Ari Aster se atropela no seu discurso e aquilo que causava inquietação, passa a se tornar vazio e pouco impactante ao espectador.
Beau tem Medo, além de ter suas problemáticas de como a narrativa caminha, o filme não tem nada de muito especial quando se fala no sentido técnico além de boas transições e efeitos de uma sequência teatral. O filme é quase uma forma de demonstrar o talento de Phoenix na atuação, deixando quase tudo de lado. Oque resta de mais forte aos espectadores nos últimos minutos da obra é a atuação de Phoenix e o interesse de saber o fim do personagem Beau, que tanto sofre ao longo da narrativa. A estrutura de narrativa com o personagem tem referência indireta à obra de Scorsese, After Hours de 1985, chegando a ser até uma dramédia em certos momentos.
Não esperem grandes atuações fora a de Phoenix nessa obra, Beau tem Medo não dá espaço de tela o bastante para nenhum outro ator, ou atriz, aqui. Até mesmo o ator que faz Beau jovem (Armen Nahapetian), não aparece tanto e nem apresenta muita emoção, seja no que for. Entretanto, funciona seu posicionamento inexpressivo e apático com a figura do personagem no presente, que se encontra perdido e sem muito para onde ir desde o começo da viagem em jornada à sua mãe.
Beau tem Medo tenta ser um discurso metalinguístico político com um clima de terror, utilizando a relaçao de Mãe e Filho. Ari Aster tenta fazer o seu maior espetáculo, mas mostrando o seu descuido com o andar narrativo e tentando enfatizar de forma infantil, e pouco discreta, uma estória potente. A obra responde, que ainda falta muito para Ari Aster ser um diretor razoável para oque seria um terror psicológico épico.
Nota: 2,5/5
Assista ao Trailer:
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