Crítica | Borat: Fita de Cinema Seguinte – É um filme para Conservador nenhum botar defeito!
Nada mais lógico que usar a ironia em um título sobre Borat: Fita de Cinema Seguinte! Em plena eleição presidencial dos EUA, o novo capítulo do pitoresco personagem criado por Sacha Baron Cohen ressurge, quase 15 anos depois, para a alegria e o desconforto de muitos.
Cinéfilo ou não, todo mundo reconhece de longe a imagem do icônico Borat. Construído para os holofotes televisivos, o personagem surgiu em um programa de TV, todavia, o sucesso o abraçou somente quando ele tornou-se a figura principal de um longa-metragem. Anos depois, em um período decisivo na política americana e de uma crise de saúde global, o notável repórter do Cazaquistão protagoniza a continuação intitulada Borat: Fita de Cinema Seguinte — um filme extremamente ácido, satírico e politizado — três pontos cruciais para a narrativa e para a composições dos personagens.
O filme é um mockumentary (ou “pseudodocumentário”) e cumpre com a proposta de mesclar o real e o ficcional, batendo na porta do senso comum sem o menor pudor. O roteiro do filme têm objetivos claros, garantindo cada um deles ao longo de uma hora e meia de filme. Chocar o público do começo ao fim. Divertir e garantir boas (e, talvez, arrependidas) risadas. E, fazer as pessoas pensarem, tanto na vertente política, quanto na social e, acima de tudo, no encontro destas duas.
Sinopse Borat: Fita de Cinema Seguinte:
Borat é um jornalista de televisão do Cazaquistão que encara todas as aventuras pelas suas tarefas de trabalho. Seu plano mais recente é ir para os Estados Unidos completar uma importante missão, mas ele precisará lidar com problemas familiares, coronavírus e fama negativa durante sua jornada.
Não é todo dia que a Amazon Prime Video deixa os seus usuários pasmos, não é mesmo? 23 de Outubro de 2020 foi a data escolhida, um dia antes do que estava previsto, para o lançamento da continuação de Borat – O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América, título modesto do primeiro filme, lançado em 2006. Essa data também é importante para os estadunidenses, pois foi escolhida para um crucial debate político entre os candidatos Donald Trump e Joe Biden. O filme foi lançado algumas horas após o término do evento, uma coincidência e tanto, claro.
Diversos “pseudodocumentários” engrandeceram suas narrativas ao aproximar a trama do público, através de entrevistas e apresentação de fatos que emulam o puro realismo, como a película REC, dos diretores Paco Plaza e Jaume Balagueró, longa que marcou a década retrasada pelo seu realismo visceral, assim como os filmes A Bruxa de Blair e Cloverfield – Monstro. Mas, não é somente os gêneros de terror e suspense que combinam perfeitamente com esse conceito cinematográfico. Distrito 9, uma ficção científica, e a série The Office, uma sitcom, são exemplos diferentes que recorrem a mesma abordagem.
O conceito de “falso documentário” em Borat: Fita de Cinema Seguinte é o principal chamariz no esqueleto do filme, pois assume a responsabilidade de transformar o absurdo em cômico, e o cômico em absurdo. Por mais que o protagonista seja Borat, o verdadeiro destaque do filme são as faces asquerosas que habitam a mente, o corpo e a alma da América. O diretor Jason Woliner sabe onde dói mais, é por isso que ele, ao lado do talento de Sacha Baron Cohen, toca nas feridas sociais que não podem cicatrizar, pois sabemos que eles são abertas 24 horas por dia, todos os dias da semana, pelo ditos “cidadãos de bem“.
Em uma linha pensada milimetricamente para tecer críticas, a todo momento, cabe a câmera “realista” captar reações e momentos inoportunos, evidenciando os contornos de cada temática, não apenas no protagonista, mas naqueles que são um reflexo dele. O machismo enraizado, a misoginia, o racismo e outras esferas repulsivas são alvos da proposta do texto. É com uma flecha de diálogos ágeis, muito bem afiada, que “perfura”as mentes mais fechadas. A mensagem é nítida, e o pensamento sobre tais questões são implantados sorrateiramente, através de uma chacota eloquente, quem diria.
Cada oportunidade de esbofetear, hipoteticamente, os aspectos negativos que imperam na sociedade é transformado em uma anedota de grande escala. Se a hierarquia do filme fosse decidida por um confronto metafórico, o “humor” e o “espanto” travariam uma batalha árdua. Se por um lado, as cenas mais bizarras tem a finalidade de gerar incredulidade em quem está assistindo, por outro, os momentos cômicos arrancam risos, muitas vezes de nervosismo, mas ainda assim são risos.
Sacha Baron Cohen é um ator que consegue ir ao extremo, não importa quais desafios apareçam durante sua incorporação do personagem. Todo o mérito a Cohen, que sabe dominar muito bem o timing do texto. Nota-se que ele, nas cenas mais emblemáticas, se torna chefe da narrativa, apoiando-se unicamente no improviso e nas respostas espontâneas de figuras que estão em cena (sem um convite) — pode-se ver isso na cena que mostra uma invasão em um comício político. Borat é tão vivo, mesmo feito sobre camadas apelativas, que a insana trajetória do personagem nunca perde força, com exceções de algumas piadas que passam do ” prazo de validade” muito rápido.
Não existem casos de pessoas que integram a sociedade dos Estados Unidos que tenham passado mal, ao ver, ou ouvir, uma piada que é feita sem quaisquer restrições, cujo limite é não ter limites. Mas, em um mundo imaginário, se os trailers de filmes adotassem a estrutura de comercial de remédios, citando as advertências, Borat: Fita de Cinema Seguinte viria com a seguinte frase: “este filme é contraindicado para os conservadores mais vulneráveis e para aqueles que abraçam a alienação“.
No fim das contas, Borat: Fita de Cinema Seguinte concede palco para que os mais grotescos elementos, tanto políticos, quanto sociais, sejam desmascarados, sem oportunidade para discursos ensaiados com desculpas arquitetadas. Em suma, é um humor faminto por polêmicas e que não teme expor o lado mais podre da terra do Tio Sam.
Nota: 4/5
Assista ao trailer:
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