Crítica | Dois Dias, Uma Noite: Sua saúde mental, não vale Mil Euros
A obra Dois Dias, Uma Noite conta a história de Sandra, que ficou de licença do trabalho por causa da depressão. Quando ela esta curada e saudável para trabalhar, fazem uma votação em seu local de trabalho, para saber se seus companheiros preferem um bônus de mil euros ou a permanência de Sandra no trabalho. Ela tem apenas o fim de semana, para convencer seus companheiros de votarem a favor dela.
Dois dias, Uma Noite é um filme tecnicamente simples. Sendo em sua maioria feito por câmera na mão e com cores bastante frias e pouco contrastadas. O som tem um trabalho delicado e no resto de sua composição, a direção não tenta se aventurar muito. Até pelo fato de que o peso da obra está no roteiro e nas atuações, a técnica entrega o necessário.
A narrativa consegue criar uma tensão tênue entre a protagonista e o espectador, criando ansiedade para saber o resultado dessa corrida contra o tempo, para Sandra saber se vai conseguir continuar com seu emprego ou não.
A relação da personagem Sandra com seu marido, Manu (interpretado pelo ator Fabrizio Rongione) é um pilar condutor de toda a obra, até sua resolução. A conversa que ambos tem indo de um lugar para o outro de carro, em casa e em momentos que Sandra se mostra em crise, consegue dar uma forte camada a obra. Sem contar, que sempre nos lembra que estamos vendo uma protagonista que acaba de sair de uma depressão.
A obra também mostra de forma delicada o como cada pessoa reage ao pedido pessoal de Sandra para pensar no próprio voto. Sendo muitos indecisos, com medo, ou por questões próprias, ficando contra a parede. E cada ator, e atriz, soube fazer muito bem cada sentimento necessário em cena.
O filme tem uma resolução leve demais, comparada com toda a densidade da obra. Fazendo com que o espectador fique desapontado pelo quanto se investiu emocionalmente na personagem. Mas, mesmo o final tendo sua leveza, ele carrega em seu penúltimo diálogo a pesada crítica que esse filme grita em seu todo.
Quanto vale um funcionário em uma empresa? Quanto é necessário se humilhar para conseguir sobreviver no mudo neocapitalista? Companheiros de trabalho, são “realmente” companheiros? A obra serve como um chamariz para mostrar o como muitos indivíduos se vendem por um simples bônus financeiro. E como são facilmente trocáveis.
Essa crítica se concluí a cada sequência de Sandra falando com seus companheiros, até seus superiores. O como a personagem Sandra reage do início da jornada, até sua quase resolução, mostra uma exaustão na qual ela mesma vai se questionando, se tudo aquilo era realmente tão necessário e importante como ela pensava.
Além de abordar o como as pessoas veem alguém que acaba de ter passado por um quadro depressivo, como se fosse incapaz de trabalhar da mesma forma que antes. Contado também como é importante reparar as pessoas que apoiam ou não a protagonista. É visível nos pontos de diferença de classe e etnia, mostrando uma visão social sobre a França na última decada.
Mesmo o filme não terminando da forma potente que ele mesmo se propaga ao longo de sua narrativa. Dois Dias, Uma Noite faz um trabalho exemplar em mostrar a faceta de um mundo sujo, no qual o trabalhador é obrigado a sobreviver.
Nota: 4/5
Assista ao Trailer:
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