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Crítica | Elite – 3ª temporada repete a fórmula e acerta mais uma vez!

Muitas comparações pairam sobre Elite, a série espanhola da Netflix sobre assassinatos e tramas escolares. Já disseram que a produção é uma mistura de How to get away with murder com Gossip Girl. Até escreveram que a narrativa é uma versão mais adulta de Malhação. Claro, tudo faz sentido quando se olha com atenção para o contexto em que tais comparações estão inseridas. Mas, o que precisa ser reforçado é o seguinte: Elite é uma série com sua própria originalidade e sua 3ª temporada é a prova disso.

Sobre a 3ª temporada de Elite:

Depois da segunda temporada, que colocou os personagens em uma busca desenfreada por Samuel, todos pensaram que o assassino de Marina finalmente pagaria por seu crime. Porém, isso não aconteceu. Um novo ano está começando no colégio Las Encinas e os alunos gostariam apenas que tudo voltasse ao normal. Mas, um acontecimento inesperado os levará a tomar decisões que mudarão a vida de todos para sempre.

A sagacidade de um Showrunner é dosar os mistérios de sua obra e consequentemente aprisionar nossa atenção na trama. E isso é uma coisa que os criadores de Elite fazem com muita classe. Carlos Montero e Dario Madrona, as mentes impiedosas e criativas por trás do roteiro, conhecem e entendem seu público-alvo e apelam para os ganchos e reviravoltas. Tudo, é claro, condizente com a proposta já estabelecida desde os minutos iniciais da primeira temporada.

A primeira cena desse 3º ano da série começa segundos antes do fatídico desfecho da temporada anterior. Polo está solto e de volta ao colégio, seguindo sua vida como se nada tivesse acontecido. Enquanto Guzmán luta contra sua ira em ver o assassino de sua irmã seguir a vida, um novo mistério surge no enredo; algo à lá “Quem matou Odete Roitman?“.

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Elite / Netflix

A TV mostrou que diversas séries seguem uma estrutura narrativa de sucesso. Algo que consolida a história e constrói um rosto para o público diferenciar uma produção de outra. Isso acontece com as grandes audiências como CSI, Criminal Minds, Law & Order e tantas outras. O roteiro de Elite possui uma estrutura, como podemos ver nas temporadas passadas. Se deu certo duas vezes, por que não repetir? É um risco, claro! Todavia, os roteiristas sabem brincar muito bem com as possibilidades que a história oferece.

Vamos a estrutura: um (novo) assassino, um (novo) objeto usada como a arma do crime e os velhos (e novos) suspeitos com justificativas duvidosas que os colocam na mira da investigação. A fórmula se repete, a diferença é que tudo ganha um peso maior. Desde o primeiro episódio, assistimos as consequências caírem como uma tempestade sobre os personagens. Somos jogados num caos controlado, numa linha de tempo que utiliza flashfowards que alimentam nossa ansiedade. E ao mesmo tempo, as reviravoltas destroem as teorias que nossa mente “maníaca por séries” vai traçando no decorrer dos episódios.

Cada escolha, cada passo e cada respiro. Todas as ações dos personagens refletem em consequências, que a curto ou longo prazo, afetam o futuro de cada um. Dilemas surgem a cada episódio, mas nem tudo significa vida ou morte. O roteiro trás para a superfície os sonhos e os medos de cada um, utilizando isso como manivela para evoluir o arco de cada personagem. Ao longo da temporada, os protagonista enfrentam seus demônios (de modo metafórico, é claro!).

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Carla (Ester Expósito) é a primeira, descobrindo que a verdade tem um custo muito alto. Está nas mãos da garota escolher entre uma consciência limpa ou manter o status de sua família rica. Não bastando isso, cai sobre os ombros dela o destino de Polo. A atriz é excepcional, mergulhando de cabeça em seu papel. Uma escolha de ouro abrir a temporada focando na personagem.

Nadia (Mina El Hammani) não está muito diferente de sua versão da temporada anterior, assim como Samuel (Itzan Escamilla) e Guzmán (Miguel Bernardeau). Os grandes destaques desta temporada são os personagens Ander (interpretado pelo ator Arón Piper) e Lucrecia (Danna Paola, a eterna Maria Belém).

Na season finale da 2ª temporada, Ander deu indícios do que estava por vir. Sofrendo uma mudança radical, tanto física, quanto comportamental, podemos ver como isso se reflete no personagem e naqueles que estão ao seu redor. Lidando com as perdas, algumas involuntárias, outras por escolha dele, podemos ver o amadurecimento do personagem ao longo da história.

O mesmo vale para Lucrecia (Danna Paola), conhecida como “a sem coração da série“. Ela é ambiciosa, inescrupulosa e vaidosa, mas quando perde tudo o que sempre fez questão de esbanjar, precisará encontrar um novo rumo. Ela não é má, mas também não é uma santa. São as falhas da personagem que movimentam sua evolução. A grande surpresa da temporada é a interação dela com a personagem Nadia. Se pudéssemos separar os personagens em duplas, as duas ganhariam. Danna Paola faz um trabalho excelente, ao dar tudo de si para construir a carga dramática de Lucrecia; somado a isso estão suas cenas bem humoradas (um humor bem ácido, claro!). Tudo isso a tornam A Grande protagonista da 3ª temporada.

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Danna Paola (a personagem Lucrecia) / Netflix

Dois novos rostos entram no meio desse frenesi colegial. Maliki (interpretado por Leiti Sene) levantará uma discussão densa sobre racismo, xenofobia e mais um tema polêmico, que prefiro não especificar pois seria um baita Spoiler! O mesmo vale para o ator Sergio Momo que dá vida ao milionário Yeray, um personagem que não diz muito ao que veio, ficando muitos episódios na sombra de Carla; todavia sua apresentação na trama é um tapa aos preconceitos que envolvem o típico “padrão de beleza”.

O roteiro também discute um preconceito antigo, através de Rebeca (Claudia Salas). Uma frase que sintetiza fielmente o obstáculo da personagem é “o pobre que se torna rico, sempre será visto como podre”. E ainda sobra tempo para ela lutar contra o legado de sua mãe, que é uma traficante. Com sua língua afiada e suas gírias bem 2019, Rebeca deverá escolher em quem confiar e quem realmente ela quer ser.

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Elite / Netflix

O único erro da série é que em todos os episódios tem alguma festividade, colocando os personagens no mesmo ambiente. Às vezes, isso soa como uma “muleta no roteiro“, ou seja, uma saída fácil para simplificar as resoluções de alguns conflitos. Apelando para a linguagem dos memes, o que quero dizer é basicamente o seguinte: “Qualquer episódio de Elite: a. Os criadores: vamos colocar uma festa!”. Mas, o perdão por essa falha é imediato, pois as reviravoltas da série sempre acompanham as comemorações festivas.

Em suma, trata-se de uma temporada com grande carga emocional. Cicatrizando algumas feridas, o roteiro encerra alguns arcos e inicia outros de forma sutil. Sem favoritismos, o enredo é uma montanha-russa de emoções, tirando todos os personagens da zona de conforto, entregando para o espectador uma história densa, dramática e cheia de suspense. Alcançando seu ápice narrativo, fica uma sombra de medo, pois as novas temporadas precisam honrar esta terceira.

Uma das perguntas é “quem morreu nesta temporada?“. O trailer responde, portanto, assista por sua conta e risco:

Veja também: Crítica | O Oficial e o Espião – Obra de Polanski retrata os sacrifícios para o “bem da Pátria”.

Nota: 5/5

Assista ao trailer:

https://www.youtube.com/watch?v=RyLMD7veWBI

Créditos ao autor:

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