Crítica | Entre Mulheres: Uma ótima ideia, mas mal aplicada
Entre Mulheres começa com uma premissa que rapidamente fisga o espectador, com a narração vinda de uma menina que ainda está na barriga da mãe e apontando um momento no qual ela ainda não se encontrava presente como o resto das mulheres em cena. Algo que consegue ser feito de forma delicada, já que o tema proposto do filme é algo de extrema densidade.
O filme não tenta se aventurar muito no quesito técnico. Sua introdução lembra bastante o tipo de narrativa que é proposta em 12 homens e Uma Sentença(1957), mas rapidamente o formato muda e a proposta da direção caminha para um caminho um pouco diferente. Caminho que mais atrapalha o filme do que o ajuda.
A obra apresenta um estilo de imagem desbotada com cores puxadas para o cinza e o verde, mostrando um espaço sem vida e um lugar que aparenta ser melancólico. Algo que agrega parcialmente à narrativa, mas não de forma tão construtiva. A decupagem, o trabalho de som, e da direção de arte, são funcionais aqui, tudo fica de lado fora a atuação de boa parte do elenco feminino.
Todo o elenco feminino, ou parte dele, faz um ótimo trabalho com um material escrito de forma rasa quando se trata de diálogo. Principalmente a personagem de Rooney Mara, Ona, que tem um papel de protagonista, mas é a principal condutora de diálogos expositivos do filme.
A forma de diálogo dela com as outras personagens femininas, quase como uma figura angelical (oque considero problemático, vide que é uma jovem que está grávida de um estupro e ainda fala sobre perdão para os homens que cometem as atrocidades com as outras mulheres na obra) além de tornar a obra pouco orgânica nas cenas de debate, faz com que o espectador não esteja conectado bastante com ela.
Problema que é em certa parte resolvido pelas atuações das personagens interpretadas por Jessie Buckley e Claire Foy(Mariche e Salome) que apresentam mais revolta, e as atuações mais fidedignas sobre oque as personagens passam e o dolorido de qualquer que seja a escolha de todas as mulheres que estão no debate. A performance das personagens tem uma mediação indireta das personagens mais velhas, sendo as personagens Agata e Greta(interpretadas por Judith Ivey e Sheila McCarthy), que conseguem, com o material que tem, marcar uma forte presença na obra. Provavelmente, as personagens que conseguem criar uma áurea de admiração aos espectadores.
A obra consegue fazer momentos bastante densos com cenas sangrentas, falando exatamente sobre o tema estupro(sem em nenhum momento mostrá-lo de forma explicita, oque é positivo), e consegue mostrar com atuação e montagem, a agonia de ser mulher naquele ambiente. Onde todas as personagens, até mesmo as muito novas, conseguem mostrar com os olhares o quão intenso e pesado é esse sentimento de viver em um lugar que sempre pode estar em perigo, independente da idade.
O personagem Melvin é trabalhado de forma bastante problemática. Mostrando basicamente que um estupro ocorrido foi como uma catapulta para se assumir um homem transexual. Oque não fazer o menor sentido, pelo simples fato de que a época retratada, provavelmente, ele seria descriminado facilmente pelas personagens protagonistas, que são cristãs fervorosas.
O cristianismo no filme não agrega de forma positiva no roteiro, mesmo sendo retrato de uma época onde a religião tinha uma forte potência. Mas o debate sobre perdão e moral aqui são elaborados de forma razoável, sendo debatido bastante durante a obra. Aparece, mas não é muito bem desenvolvido, algo que aparece de forma chamativa na obra.
Entre Mulheres é um filme que apresenta uma ideia necessária de debater no dia a dia, sobre um tema muito presente, e apresenta uma discussão sobre o peso da moral religiosa em uma sociedade. Mas é elaborado de forma funcional e mostra pouquíssima criatividade na sua execução.
Nota: 2,5/5
Assista ao Trailer:
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