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CRÍTICA | Entrevista com o Demônio é o filme de terror mais DIFERENTE do ano

Entrevista com o Demônio segue um percurso totalmente divergente do que Hollywood nos acostumou e é isso que o engrandece.

Entrevista com o Demônio apresenta um momento histórico e decisivo dentro de um programa de televisão que se via em constante decadência graças à vida pessoal do apresentador estar interferindo em suas ações no trabalho. Em época de Halloween, a ideia de aproveitar o lançamento de um livro que trouxe uma conversa com o satã parece vir na hora certa, porém, a busca pela volta por cima pode ser exatamente o que fará afundar tudo de uma vez.

Com isso, os diretores Cameron e Colin Cairnes trazem um conceito bem interessante que é colocar o espectador no papel dos verdadeiros espectadores que teriam visto aquilo acontecer ao vivo. Podendo ser sentido não só a viagem em direção à uma época ultrapassada, mas o suspense trabalhado aos poucos pensando como seria na televisão, vindo os comerciais em momentos instigantes, tal qual a divisão certeira de três atos com acontecimentos que vão ficando piores. O que leva este filme pra um caminho distante do que o cinema de terror acostumou seu público.

Entrevista com o Demônio | AGC Studios

Entrevista com o Demônio | AGC Studios

Entrevista com o Demônio não é um filme pra assustar ou necessariamente te deixar preso na cadeira desde o primeiro segundo como Um Lugar Silencioso (2018) faz. Ele quer te instigar aos poucos, como se você realmente tivesse ligado a televisão para ver mais um episódio divertido do programa que gosta e aos poucos, fosse percebendo que as rodas estão escapando dos trilhos. E isso, fica ainda melhor com as poucas vezes que saimos do programa e acompanhamos os bastidores, porque não quebra a ideia de ainda ser um telespectador.

A câmera, durante todos os momentos em que o programa foi para os comerciais, se locomove como uma pessoa que está de perto acompanhando tudo aquilo, mas de vez em quando precisa se esconder para não ser pega no flagra. Deixando a sensação de não só estarmos no olhar do público que estava vendo o programa ser gravado, como de uma pessoa da produção que está andando pelo estúdio buscando compreender o que tá acontecendo. E conforme a situação acentue, o enquadramento vai se fechando ainda mais nos personagens indicando a claustrofobia que cada vez mais sentem.

Além disso, a obra demonstra sabedoria em trabalhar não apenas o núcleo das pessoas que estão sendo entrevistadas, como a forma que vão reagir de acordo com a época em que se encontram. Ou seja, ao pensar que algumas coisas fora do normal podem acontecer, é inserido uma pessoa cínica que a todo momento estará levando a acreditar que pode ser mentira o que está sendo assistido. Da mesma forma, que as mulheres receberão menor credibilidade pelo que dizem ou fazem, como se não tivessem o mesmo direito de fala que os homens. Tudo isso auxilia para que o filme soe crível.

Entrevista com o Demônio | AGC Studios

Entrevista com o Demônio | AGC Studios

Em seu final, um exagero é demonstrado para com a parte assombrosa do longa-metragem, de tal modo que possa soar destoante do que estava sendo visto e tirar um pouco da imersão, entretanto, desde o começo certos acontecimentos passam a impressão de uma energia incomum pairar sobre o ar, então quando a energia vem com tudo, é preciso destacar que haviam dicas. Isso, porém, não significa precisar gostar do que foi visto. E felizmente, não desfaz o que foi construído, pois o clímax acaba se direcionando para algo mais introspectivo de um jeito que faça sua experiência soar completa.

Olhando pelo ponto técnico da obra, é preciso destacar o quão assertivo foi não só a escolha de elenco, priorizando atores menos conhecidos para passar ainda mais a sensação de estar vendo algo não-fictício, como pelo figurino, os penteados, a abertura do programa, o uso da trilha sonora vindo apenas da banda que movimenta o show, como se estivesse assistindo o Jô Soares, e a cenografia que te induz a respirar aquele ambiente, como se pudesse estar lá.

Sendo assim, Entrevista com o Demônio prova que ainda existem diversas formas interessantes de se contar uma história amedrontadora sem precisar cair para o banal, fazendo seus personagens soarem compreensíveis mesmo com as decisões mais bobas, tal qual deixando um ritmo tão preciso que nunca canse e deixe um gostinho de querer ver mais.

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