Crítica | Fate: A Saga Winx – Abandonando a nostalgia, 1ª temporada trilha um caminho diferente
Adaptações tornaram-se recorrentes no catálogo da Netflix, desbravando um caminho de oportunidades para livros e “live-action” de games e desenhos. Derivada de uma série animada, Fate: a Saga Winx, a nova releitura da líder dos streamings, busca independência do material original, entregando uma 1ª temporada morna e tímida.
Desculpa tocar nessa ferida, mas é preciso! Existem machucados no mundo das adaptações em live-action de desenhos que não cicatrizaram. Uma marca pungente que está adormecida na mente de alguns fãs por causa de títulos como Dragonball Evolution e O Último Mestre do Ar. Tais produções são usadas como exemplos do “que não fazer” e mostraram que recriar uma animação com personagens de carne e osso é uma missão arriscada. Para tal objetivo, todos os meios são possíveis e inserir um novo tom é a principal escolha na criação de Fate: A Saga Winx, que assume uma identidade diferente do poço que bebe.
Uma “pegada” sombria é bem-vinda, assim como a relação conturbada entre os personagens. No entanto, a 1ª temporada até tenta condensar tudo em um produto final díspar, mas não chega lá. Preso no mantra de “nada de cores, apenas sombras“, o show emula algo sinistro, falhando em criar uma ambientação que desperte, no mínimo, um friozinho na barriga.
Sobre a 1ª Temporada de Fate: a saga Winx
A história de cinco fadas que frequentam um colégio interno mágico no Outro Mundo chamado Alfea. Além de aprender a controlar seus poderes, precisam lidar com o amor, rivalidades e os monstros.
Em 2004, Iginio Straffi deu asas a sua imaginação e tirou do papel uma história intitulada O Clube das Winx, criando uma trama acerca de jovens garotas descobrindo poderes enquanto frequentam uma escola de fadas. A animação, de origem italiana, ganhou as telas do SBT, nas manhãs do Bom Dia & Cia. Com uma canção de abertura “chiclete”, muita cor e magia, a história de Iginio conquistou fãs, marcando a infância de muitos. Mais de quinze anos depois, o showrunner Brian Young (que tem no currículo Diários de Um Vampiro) entrega uma nova roupagem, deixando de lado quaisquer laços nostálgicos.
Caminhar pelo solo das adaptações é flertar com a incerteza; de um lado os fãs apegados ao material original, do outro, o público em potencial que desconhece a fonte. Agradar gregos e troianos é uma tarefa quase impossível, de fato, mas o que acontece no momento que escolhas criativas ignoram pontos importantes da obra primária, pecando na hora de inventar algo novo? Fate: A Saga Winx é uma sucessão de erros, com poucos acertos, colocando o espectador em uma jornada desequilibrada, cheia de solavancos. Não é a ausência de elementos nostálgicos que puxam a série para baixo, mas a tentativa de ser sombria e falhar, de ser diferente e cair em velhos clichês.
Logo, as cenas que vestem a máscara de “fantasia sombria” não convencem, tampouco são capazes de criar uma aura de perigo iminente como em Diários de Um Vampiro. Basta ver o primeiro contato com a trama, em que uma cena de abertura (previsível em todos os sentidos) expõe a fragilidade desse ponto em especial. Sabemos o que vai acontecer, inclusive a ordem dos acontecimentos. E quando ocorre conforme nossa previsão, torna-se apenas um momento esquecível. Apertar o play em Fate: a saga Winx é ter a impressão de que estamos numa versão alternativa do 1º ciclo de O Mundo Sombrio de Sabrina, sem a mesma atratividade.
Somado a isso estão itens que deixam o saldo final negativo. A fotografia escura, muitas vezes, cumpre a função de ocultar algum déficit nos efeitos visuais. Há cortes entre uma cena e outra que atrapalham o desenvolvimento dos personagens, impedindo os atores de mostrarem mais, de explorar outras dimensões de seus papéis.
O roteiro atira para todos os lados, acertando diversas temáticas ao mesmo tempo, porém trata todas com pouco capricho, vide o arco da Stella e sua mãe, que acontece às pressas e a trama de Bloom e o seu passado. Assim como subtramas que envolvem a amizade e a inimizade entre Fadas e Especialistas. Diálogos rasos enfraquecem o ritmo, mesmo a season 1 sendo composta por meia dúzia de episódios. As falas se resumem em um conjunto penoso: observações óbvias, intrigas infantis e conversas vazias. Claro que há diálogos aproveitáveis, mas o lado negativo prevalece, infelizmente.
Bloom é uma protagonista complicada, sofrendo pela falta de carisma durante toda a 1ª temporada. Compreender suas motivações é um trabalho árduo. Alguns podem conseguir, outros não! Arrogância e indiferença misturam-se para nutrir a personalidade de Stella, uma ideia interessante, porém justificada ligeiramente, deixando a personagem estereotipada.
Musa recebe um novo dom, o que lhe permite um relacionamento interessante com os demais, mas seus fones tornam-se fechaduras, isolando-a em seu próprio mundo. Na metade da série, Musa simplesmente vira outra personagem, indo de um ponto ao outro sem qualquer desenvolvimento. Aisha merecia mais tempo de tela, passando boa parte da narrativa como coadjuvante, sem dilemas ou conflitos individuais. Ela até mostra um controle considerável de seu poder no início, porém no andar da carruagem ela é enfraquecida, tentando manipular, com muito esforço, dois litros de água!
Terra é a única personagem que obtém um pouco da empatia do público nesta temporada inaugural. Indo contra padrões, ela transparece mais verdade e sua intérprete se sai bem, fugindo de um retrato caricato, entregando a única Winx que brilha mais que as outras.
Depois de concluir seis episódios, a sensação que perdura é o desapontamento. Ver o potencial e descobrir que a série foi incapaz de alcançar, é como um tapa de frustração difícil de esquecer. Ainda que tente simular fantasia com uma “pegada” mais “dark“, as coisas soam como um eco das produções recentes da Netflix voltadas para o público adolescente. Tudo acaba sendo superficial, corrido e caótico. Não temos tempo para comprar ideias ou assimilar subtramas (quase todas apáticas). O que resta é um ou outro momento bom, um ou outro personagem aproveitável. E só, lamentavelmente.
Talvez, Fate: a saga Winx tenha dado o primeiro passo, um tiro no escuro para descobrir o que funciona e o que não funciona, em prol de futuras temporadas. Saber onde errou e buscar um conserto pode ser um processo cansativo e quem sabe uma luz no fim do túnel.
Nota: 2/5
Assista ao trailer:
Veja também: Crítica | O Mundo Sombrio de Sabrina – Parte 4 (temporada final).
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