CRÍTICA | FESTIVAL DE CINEMA DE VASSOURAS – Vermelho Monet mostra uma conexão entre paixão e pintura, mas tenta fugir de se assumir como um filme brasileiro
Vermelho Monet conta a estória de um pintor português falsário, que é casado com uma mulher debilitada. O pintor Johannes tem uma fixação por mulheres ruivas, mas nenhuma consegue ajudar a aguçar seu lado criativo para pintar. E por acidente, acaba focado em uma atriz ruiva, Florence Lizz, que tem um caso com uma antiga parceira de Johannes, Antoinette Léfèvre, e começa uma conexão entre os três em busca da criação da pintura perfeita.
O filme não foge da proposta de construir os planos fotográficos baseados em pinturas, algo que dá uma camada forte de beleza sobre a obra. Mesmo o filme sendo encharcado de uma construção de luz e sombra se resultando em uma pintura contínua, a obra peca por alguns pequenos aspectos que acabam resultando em muitos pontos falhos, mesmo não muito chamativos.
A trilha do filme, mesmo funcionando na maioria do tempo, acaba invadindo muitas cenas que necessita silêncio e cautela na percepção do som sobre pequenos movimentos que aparecem em alguns dos planos, principalmente quando acontecem pinturas, e a montagem paralela de cenas sexuais, e sensuais, com Johannes pintando suas obras. Além do excesso de cenas que são utilizadas apenas a instabilidade de vida e mental sobre o pintor, que mesmo bem feitas, acabam saturando o filme.
Não só esses pontos, como existe uma questão de uma fuga de identidade do filme parecer não querer assumir que é uma produção brasileira, contando que a personagem mais idealizada sexualmente e a única outra personagem brasileira é uma criminosa, torna o filme uma proposta meio problemática. Mas não são problemas que afetam tanto a obra a ponto de atingir de forma negativa a narrativa, mas que atrapalham a conexão do espectador brasileiro com a obra.
Sem contar que o filme conta com um problema de casting, pelo fato de que a atriz Samantha Heck Müller não tem uma atuação potente para estar em conjunto com a dupla Maria Fernanda Cândido e Chico Díaz, que dão uma aula de atuação e são os pontos fortes do filme se manter para não se afundar em algo monótono e indiferente. Algo muito positivo, mostrando que a direção não estava displicente em focar apenas nas construções pirotécnicas, fazendo a mise-en-scène ser executada de forma madura e plausível ao longo de suas duas horas de prática.
O filme mesmo tendo muita das construções de plano sendo conectados com pinturas, a direção não fica no conformismo em querer apenas focar na questão contemplativa da obra, mas faz questão de conduzir a obra com metalinguagem teatral e com a conexão dessa linguagem com a ação entre os personagens. É quase como se a relação dos personagens com os planos baseados em pintura fossem executados como uma dança, criando uma conexão poética para muitos espectadores, mas que pode entediar muitos aqueles que não tem interesse nesse jogo de linguagem e da forma que os personagens brincam com isso.
Falo a respeito de que o filme, por conta de uma trilha invasiva, uma atriz que não chega ao mesmo nível de seus dois parceiros e a ideia da falta de identidade do país de origem da produção faz o filme ter uma conexão seleta de conexão com aqueles que o assistem, pois muitos vão acabar se cansando com a narrativa que não é carregado de conflitos, mas de entrelinhas teóricas e poéticas.
Vermelho Monet é uma experiência sensorial e teórica envolvente, que as vezes falha por algumas escolhas. Mas a obra continua bela e potente em sua execução e em seu resultado belo, e melancólico.
Nota: 4/5
Assista ao trailer:
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