Crítica | Godzilla vs. Kong
A Warner segue firme e forte lançando seus filmes no mercado internacional, quase sem concorrência, e a sua estratégia de lançar as suas principais produções simultaneamente nos cinemas dos EUA e no HBO MAX, superando todas as expectativas e se consolidando entre as principais arrecadações durante a pandemia, batendo recordes atrás de recordes.
O que torna um filme bom atualmente? Um roteiro super elaborado, fotografia esplêndida, uma trilha sonora inesquecível, atuações impecáveis ou apenas o puro e simples entretenimento? A cada filme do universo compartilhado de monstros da Legendary Pictures que é lançado, além de muitos outros de “gosto popular,” esses questionamentos reaparecem e para entendermos como isso está ligado a franquia, e até chegarmos a Godzilla vs. Kong, precisamos recapitular.
Quando lançado em 2014, “Godzilla” foi a porta de entrada para um universo compartilhado. A produção se tornou um enorme sucesso por sua trama mais parecida com um filme de catástrofe, e voltada para o ponto de vista humano sobre os ataques do grande monstro, o que acarretou em apenas 15 minutos de tela do monstro protagonista e dono do título do longa, gerando uma onda de críticas por conta disso e das cenas escuras que envolviam o mesmo. Mas apesar das reclamações, o público comprou a ideia e pediu por mais, e cerca de três anos depois tivemos o segundo filme do intitulado “Monsterverse”.
Em 2017, assim como o grande lagarto gigante e radioativo, Kong (o rei dos primatas, como conhecido por muitos) teve um filme para chamar de seu. Em um filme de época, situado nos anos 70, o filme aborda a viagem exploratória de uma organização para buscar informações sobre os temíveis Kaijus na Ilha da Caveira, lar do protagonista, assim como sua ascensão. “Kong: A Ilha da Caveira” garantiu a expansão do universos de monstros co-produzido pela Legendary Pictures e a Warner Bros. Depositando pequenas referências, ligando as tramas dos filmes e deixando mais para o futuro. E aqui mais um sucesso, garantindo mais um filme para expandir ainda mais a história das gigantescas criaturas e garantindo o confronto que todos esperávamos: Godzilla vs. Kong!
Muito diferente do primeiro filme, “Godzilla 2: Rei dos Monstros” decidiu deixar o núcleo humano em segundo plano e focar nos grandes monstros aterrorizantes. Aqui descobrimos que os Kaijus estão reascendendo e gerando destruição por onde passam, e podemos ver tudo isso mais ao ponto de vista dos próprios monstros e de todo o caos causado por eles. Tal decisão deixou o público dividido entre os que gostaram de uma trama voltada única e exclusivamente para pancadaria de monstros gigantes e os que preferiam ver uma trama mais elaborada, focando no ponto de vista humano. Porém, o publico pediu mais e devido ao apelo tivemos a confirmação de “Godzilla vs. Kong“.
“Godzilla vs. Kong” foi um dos muitos filmes que sofreu com as consequências da pandemia e teve diversos adiamentos, até finalmente ser lançado nos cinemas dos EUA e nos HBO MAX em 31 de março e no Brasil apenas em 29 de abril. Mas será que toda a espera valeu a pena?
Sinopse: Lendas entram em rota de colisão em Godzilla vs. Kong, quando esses dois adversários míticos se encontram em uma batalha espetacular e histórica, que coloca o destino do mundo em jogo. Kong e seus protetores iniciam uma jornada perigosa para encontrar seu verdadeiro lar. Com eles está Jia, jovem órfã com quem Kong criou um vínculo único e sólido. Mas, inesperadamente, eles cruzam o caminho de um Godzilla enfurecido, que tem deixado atrás de si uma trilha de destruição em todo o planeta. O confronto épico entre os dois titãs – instigado por forças invisíveis – é apenas a porta de entrada do grande mistério que reside nas profundezas do núcleo da Terra.
Alerta de spoiler!
“Godzilla vs. Kong” é um daqueles filmes que deixam um gosto agridoce depois da sessão. Pode-se dizer que o filme é um dos mais fracos de todo o monsterverse até o momento, o que é uma pena, pois esse, com certeza, foi um dos filmes mais ‘hypado’ da franquia. Os problemas começam pela divulgação do longa, que sofreu com os adiamentos inevitáveis devido o atual saúde de saúde e sanitária, e que foram a causa do atraso do marketing. Muita coisa foi entregue desnecessariamente em diversos materiais de vídeo, como por exemplo a presença do Mechagodzilla e o excesso de novas informações dadas pelo diretor da produção.
Partindo para o filme em si, o roteiro prejudica demais e essa é a pior coisa a pontuar. É perceptível que a trama central do filme são os embates entre Goodzilla e Kong e que tudo além disso está ali unicamente para preencher o longa, não é atoa que esse é o filme mais curto do Monsterverse, e garanto que poderia ser mais. O núcleo humano é péssimo, mal desenvolvido e arrasta a história em um grau absurdo, causando desconforto e a sensação de pressa para que alguma cena de ação comece.
Os novos personagens são mal inseridos e os antigos reduzidos a absolutamente nada, o personagem de Kyle Chandler se tornou uma mera participação e a de Millie Bobby Brown um verdadeiro pé no saco. O alívio cômico foi deixado para o personagem de Brian Tyree Henry, que traz um personagem mais caricato que o necessário e com atitudes que não casam com os momentos. Um exemplo, é uma cena onde ele invade um galpão de instalação secreta e solta um grito para fazer eco – Não faz nenhum sentido. A única personagem que causa uma boa sensação em tela é a de Kaylee Hottle, que é uma fofura e com uma atuação perfeita.
Seguindo ainda pelas péssimas decisões do roteiro, está a parte científica da história que tenta elaborar demais e nem mesmo se explica. As informações sobre a Terra Oca, assim como a capacidade de um humano viajar para lá, mesmo depois de diversas falhas que acabaram em fatalidades, são jogadas para o lúdico, com interpretações que devem ser feitas pelo próprio espectador, e que muito provavelmente não se trata nem de interpretar, mas apenas aceitar o que viu e bola pra frente. A criação do Mechagodzilla é uma desculpa esfarrapada para um final clichê, que todos já sabiam. Uma das coisas mais irritantes para o espectador é não saber exatamente como o Kong foi capturado vivo e como ainda conseguem mantê-lo sob custódia, além de sua descendência que foi abordada, mas também não foi explicada. O final deixa claro, que muito disso poderá ser abordado em um próximo filme (se realmente tiver um).
Os pontos positivos estão certamente no que o filme é e foi prometido, nas lutas entre os titãs. Com embates épicos e bem produzidos, a cada luta é uma apreensão para saber quem sairá vitorioso. É tudo muito grandioso, estrondoso e violento. Uma das maiores surpresas é realmente ver que de fato temos um vitorioso explícito, sem necessário interpretações. A cena de Hong Kong é espetacular, o uso das cores neon abrilhantam literalmente as cenas. A trilha sonora deixa tudo ainda mais dinâmico e eleva consideravelmente a dinâmica de tudo que está acontecendo na tela.
Esse filme responde muito bem a pergunta sobre o que é necessário para se considerar um filme bom, e a resposta é muito simples: cumprir o que foi prometido, no mínimo atingir as expectativas, e sem a necessidade de elaborar um roteiro mais ou menos do que é necessário, que além de prejudicar a produção, acaba tirando a identidade do que ele realmente é. No caso desse filme especificamente, ele tentou ser mais do que podia e deveria ser. É nítido que “Godzilla vs. Kong” foi feito feito para ser assistido numa tela de cinema, e pra ser mais exato, em uma sala IMAX, porém no final você se questiona se ele realmente vale o ingresso.
Com tramas indigestas e que beiram a chatice e a cafonice, as decisões mal tomadas do roteiro pesaram demais sobre tudo de bom que o longa tem, e que são poucas. Ao menos temos a promessa cumprida de um embate épico e poderoso, com a destemida decisão de apresentar um vencedor de forma coerente. No fim tudo que sobra são questionamentos e o desejo que o próximo filme do “Monsterverse” seja tão bom quanto os três primeiros e que se redima por esse.
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