CRÍTICA | Heartstopper amadurece e ensina como lidar com as adversidades em sua 3º Temporada
Heartstopper se aproveita de todos os personagens estarem mais bem resolvidos consigo mesmos para conversar com o espectador sobre a importância da saúde mental.
Depois de enfrentarem o medo do preconceito para com o amor que sentem um pelo outro, Nick e Charlie encontram novas adversidades para enfrentarem, já que namorar não resolve tudo, e cada um vai amadurecer a seu próprio modo de acordo com o que o outro estiver passando, percebendo que em alguns momentos a única tarefa que resta é mostrar que está ali pela pessoa, algo que demanda muita força.
Como ficou claro só pela sinopse dessa terceira temporada de Hearstopper, os novos desafios encontrados pelo casal protagonista e sua turma não é daqueles que se vê habituado em assistir numa produção juvenil, principalmente uma que sempre manteve um tom mais leve, como se o mundo que se encontrasse fosse mais ideal do que aquele que estamos acostumados a ver. Contudo, a abordagem realizada aqui mostra que a criadora da obra que a série adapta, Alice Oseman, sabe sim em que mundo vive.
Ao final da 2º temporada, Nick começou a notar que Charlie estava apresentando problemas alimentares, problemas que estavam relacionados ao seu estado mental, e esse assunto se agrava aqui. Terapia, clínicas para doenças e como ajudar alguém que se importe mas está numa situação difícil de entender, são assuntos que ganham força, sendo abordados com um tom mais melancólico e sério, um tratamento cuidadoso para não despertar gatilhos, mas também não passar despercebido como se fosse uma gripe da semana.
Heartstopper | Netflix
O episódio “Jornada” entrega não só o melhor episódio da produção, como um dos melhores se tratando de abordar um tema sério com uma profundidade que dá inveja pras mídias que acabam passando dos limites ao retratar a dor ou se limitam à mensagens superficiais como se fosse algo fácil. A maturidade em falar sobre acontecimentos, e não mostrar, em falar que é um processo que pode ser para toda a vida e que algumas pessoas não melhoram esclarece que há um conhecimento por trás de quem aborda o problema.
E o bom, é que mesmo após um momento de angústia e tristeza, a narrativa continua a trabalhar os anseios adentrando na parte interna de cada um daqueles adolescentes que se completam com os amigos ao redor, indo do professor para o próprio namorado. Os jovens tem problemas, e assim como não devem lidar com eles sozinhos, também não precisam carregar fardos que não lhes pertence. As adversidades ficam mais fáceis de serem combatidas com o apoio, até mesmo as mais banais como o medo do sexo.
Ao trabalhar um assunto até então distante, já que a série sempre apresentou mais flores para com o seu universo, dando a sensação de que os personagens eram santos demais para falarem sobre as descobertas vindas na puberdade, Hearstopper encontra um modo de balancear a parte dramática com a parte divertida de estar na fase do colégio, que é se descobrir, descobrir aquilo que excita e agrada, tal como aquilo que não combina, ainda mais quando se trata do tempo que é dado para isso.
Heartstopper | Netflix
Felizmente, a série consegue transmitir segurança e maturidade sobre os assuntos que aborda, quase educando aqueles que assistem, pois desde o começo fala sobre a sexualidade, a auto-descoberta, as relações tóxicas, como conversar sobre assuntos que os outros podem não entender, e agora, sobre como lidar com doenças mentais e os desejos carnais que surgem conforme cresça.
A produção encontra um jeito respeitoso de se manter divertido, confortável, com episódios redondinhos apresentando problemas que são resolvidos neles mesmo, sem soar apressado ou superficial, e com a delicadeza necessária, entrega cenas introspectivas para mostrar uma forma de lidar com alguns problemas, dando tempo para os atores sentirem o que seus personagens pedem, muitas vezes tirando a trilha sonora para ganhar mais atenção daquele que assiste e num ritmo certeiro, aumentar uma música que vem com fluidez para entregar a emoção ideal que o momento anseia.
A 3º Temporada de Hearstopper é a melhor da série até agora, ela aproveita o afeto que o espectador criou para com os personagens e te quebra com uma narrativa real o suficiente para te atingir e fazer se enxergar naquela situação, para aprender o básico que muitas pessoas não se permitem ter noção, de que a saúde mental é a coisa mais importante e delicada que alguém pode ter e precisa de um cuidado, uma atenção, acima de tudo, sejam problemas familiares ou escolares.
Além de que, as pessoas com quem convive, conversa, que considera de coração, seja família ou não, farão o máximo para cuidar daquele que necessita. Mas é preciso que a pessoa com problemas permita esse auxílio, porque do contrário, pode acabar se afundando em um poço que ficará cada vez mais difícil de sair, podendo afastar e magoar aqueles que tanto ama e se importa. Então, se precisa de ajuda, busque. O mundo de certas pessoas não está preparado para viver sem você.
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