Crítica | Hollywood – Minissérie mostra os bastidores da 7ª Arte
Não existem caminhos iguais, mas a estrada rumo ao estrelato não é fácil. A busca árdua pela fama é um pano de fundo recorrente em filmes e séries, que enxergam na metalinguagem uma oportunidade de transmitir a paixão em contar histórias. No cinema, longas como La La Land: Cantando Estações, A Invenção de Hugo Cabret e O Artista apresentaram uma visão sobre o mundo atrás das câmeras. Mas, por trás do luxo, dinheiro e notoriedade, existe uma infame sombra que a minissérie Hollywood se propõe a discutir.
Mesclando ficção e realidade, a força dessa série, sem sombra de dúvida, está na composição dos personagens. Cada um deles traz uma discussão diferente para nós, espectadores.
Sinopse da minissérie Hollywood:
Aspirantes a atores e cineastas em Hollywood, após a Segunda Guerra Mundial, lutam para conquistar o tão sonhado espaço na indústria do cinema. Entre disputas de papéis, roteiros, estúdios e muito ensaio, o destino de um grupo de desconhecidos é transformado, quando um filme, inicialmente intitulado “Peg”, ganha sinal verde para ser produzido no Ace Studios. Mas, alguns obstáculos como sistemas injustos, preconceito de raça, gênero e sexualidade surgem. Com isso, a pré-produção do longa precisa lutar para que o filme ganhe as telas dos cinemas do país.
Ryan Murphy é uma das grandes personalidades do mundo audiovisual. Seu nome está relacionado a grandes produções, tanto para o cinema, quanto para a TV. Ele já dirigiu as séries Glee, Pose, O assassinato de Gianni Versace – American Crime Story, a lista é enorme. Nos cinemas, ele já roteirizou longas como Comer, rezar e amar e Casamento sangrento. Recentemente, foi anunciado que Murphy firmou parceria com a Netflix, o que resultará em excelentes projetos; um deles é a minissérie Hollywood, que estreou no início desse mês.
Narrar uma história sobre contar histórias não é uma tarefa fácil, mas Hollywood faz isso com êxito. A forma como o roteiro apresenta cada personagem, desenvolvendo-os em jornadas individuais, que mais tarde se cruzam, transformam o show num espetáculo dos bastidores. Ver a câmera pela câmera, assistir a leitura de um roteiro em uma minissérie e torcer por um personagem que arrisca tudo num teste de elenco, tornam a série uma grande homenagem aos sonhadores da 7ª arte.
Mas, não é somente os sonhos que alimentam essa história. Podemos ver isso com os personagens que simbolizam o preço cruel que muitos pagam para ter seu nome nos créditos finais de um filme. Existe o outro lado; um lado mais ‘podre‘! Qual o preço da fama? A minha ideia, vale mais que o meu reconhecimento? Quanto custa produzir um filme que quebra os padrões da indústria cinematográfica, durante os anos de 1940? São estas e muitas outras indagações que o enredo vai destrinchando, enquanto os “monstros” que habitam esse meio aparecem.
A primeira grande sacada da produção está em sua abertura. Colocando os personagens para “escalar”, literalmente, o letreiro de Hollywood. Observamos como é difícil chegar ao topo e ganhar um espaço a luz do sol. É aqui que temos o primeiro contato com o otimismo, que mais tarde ganhará um peso maior no decorrer da temporada.
Com um elenco de peso, que destrói a cada cena, com certeza eu passaria horas e horas elogiando um por um!
David Corenswet (que interpreta o personagem Jack Castello) é o primeiro rosto, dentre os protagonistas, a ganhar nossa atenção. O ator carrega um carisma grande, que oscila entre o drama e o humor. Darren Criss (lembrado até hoje por fazer o Blaine em Glee) sempre mergulha fundo em seus trabalhos, e aqui não é diferente; ele consegue fazer os holofotes se direcionarem para os bastidores, dando vida ao diretor Raymond Ainsley. A atriz Samara Weaving constrói sua Claire Wood com naturalidade; ambiciosa, a princípio, ela vai ganhando novas nuances, mostrando um lado humano nos episódios finais.
O time de veteranos é um show à parte! Patti LuPone, Joe Mantello e Holland Taylor mostram como são feras da atuação. Mesmo em papéis coadjuvantes, eles roubam a cena toda vez que aparecem. É genuíno quando um roteiro sabe aproveitar ao máximo seu elenco, e extrair atuações a altura da carreira de cada um. E isso, Hollywood faz com maestria.
Viola Davis, ao receber um Emmy por seu excepcional papel na série How to get away with murder, disse o seguinte: “A única coisa que diferencia as mulheres negras de qualquer outra pessoa é a oportunidade“. Esse poderoso discurso retornou a minha mente, enquanto assistia Hollywood. Se em 2015, tais palavras precisavam ser proclamadas, imagina na década de 40.
Os personagens Archie Coleman (interpretado pelo ator Jeremy Pope) e Camille Washington (vivida pela Laura Harrier) se tornam figuras centrais, quando a série aborda o racismo enraizado no mundo do cinema.
Para Archie, a cor de sua pele é transformada em justificativa para que ele não receba os créditos por seu trabalho. Já Camille, mesmo sendo a melhor atriz em um teste, descobre que sua raça a impede de ser ‘protagonista de um filme‘. É no desenvolvimento destes personagens que Hollywood mostra como o racismo atua na frente das câmeras e nos bastidores. O que eleva ainda mais esse debate são as atuações de ambos os atores. Jeremy, com sua naturalidade que transborda, e Laura, cujo olhar transmite muito sobre o lado emocional de sua personagem.
Na composição técnica, a minissérie acerta e muito! Os figurinos sempre se destacam, assim como o cabelo e a maquiagem, situando nosso olhar para o período em que se passa narrativa. A fotografia, nas cenas que mostram os bastidores, tem o dever de filmar aquilo que está sendo filmado; e isso é feito com muito beleza; uma cena em especial, que envolve a letra ‘H’ do letreiro de Hollywood, expõe na tela a magia do cinema, perante os olhos dos espectadores. A trilha é como um ser onipresente, pontuando momentos chaves da história, inclusive nas cenas que mostram as “cenas gravadas“.
No fim, Hollywood abraça mais a ficção, do que a realidade, criando finais que não aconteceram no mundo real. Essa liberdade criativa, que pinta uma Hollywood como um quadro cheio de cores, apenas mostra que no olhar de Ryan Murphy existe um filtro chamado “positividade”. Está lá, ao longa de 7 episódios, o racismo, o assédio, a homofobia, a xenofobia e o machismo que imperou o mundo da fama. Acontece que a minissérie apresenta resoluções quiméricas para alguns conflitos.
O conjunto da obra, para alguns, pode soar como “fantasioso ao extremo”. Para outros, soará como uma representação de um “passado ideal” para o mundo da sétima arte. Não é pecado fantasiar uma estrada de tijolos amarelos para aqueles que lutaram por um espaço sob os holofotes e alcançaram a fama.
Nota: 4/5
Assista ao trailer:
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