Crítica | Holy Spider: Como seria se Ted Bundy fosse iraniano?
O filme de Ali Abbasi, Holy Spider, consegue trabalhar o seu discurso político em conjunto com um thriller psicológico, de forma que o filme consegue fisgar o espectador e questioná-lo sobre oque tem ocorrido nesses últimos meses no Irã. Sendo mais audacioso em colocar vítimas que são prostitutas em um país com uma cultura extremamente machista e violenta.
O filme, mesmo sendo em um país com muito calor e com bastante claridade, o filme se passa em sua maioria nas noites de uma cidade do Irã. Além da utilização de uma iluminação esverdeada neon em contraste com outras de ambientação. A câmera e o som tem um trabalho bem coloquial, sem tentar se aventurar muito em movimentos ou uma edição rebuscada. Algo positivo para um filme que quer ser direto sobre o tema com o espectador.
É necessário falar também o trabalho de atuação de Zar AMir Ebrahimi e Mehdi Bajestani(que interpreta o personagem Saeed) que conseguem criar uma conexão com o espectador em momentos de suspense, angústia e de forte tensão. Separados, ou juntos, conseguem atuar de forma realista e delicada, sem se perderem em nenhum momento. O roteiro, em certas partes da narrativa, é oque atrapalha o trabalho da dupla em Holy Spider.
Holy Spider não saí, e nem tenta sair, de um convencional filme sobre Serial-Killers. Se espera algo de novo da obra que fuja do modus operandi sobre filme de assassinos em série produzidos, e dirigidos, em solo norte-americano, não será aqui que você irá encontrar. Além de algumas facilitações narrativas que estragam aquilo que o básico poderia entregar tudo que o espectador pede.
Sem contar o fato das cena de assassinato que são explicitas. Explicitas sem necessidade e de forma que caminha para um desrespeito às vítimas e às mulheres daquele país. Quase como uma ênfase infantil de mostrar o quão o antagonista é cruel, mesmo com o espectador sabendo disso logo de cara.
Porém, o roteiro consegue trabalhar a ideia do machismo religioso dentro do país de uma forma não muito orgânica, mas funcional para a obra. A ideia de como cada um vê o antagonista, como veem oque ele acredita como uma missão sagrada, e uma visão diferenciada para o ocidente ver algo nesse estilo na religião muçulmana.
A tentativa de tentar mostrar um lado mais humanitário do antagonista com sua família é algo que funciona na narrativa, e consegue criar camadas a mais até a quase resolução da obra. Além de também criticarem a polícia moral existente no país, algo que é construído na relação da protagonista Rahimi com o policial Rostami(interpretado pelo ator Sina Parvaneh).
Um personagem que tem uma forte utilização, mesmo aparecendo pouco em cena, é o filho e filha de Saeed. Mesmo sendo crianças em cena, conseguem entregar ao espectador o impacto do legado construído pelo antagonista e o como eles refletem de forma absurda nessa sociedade oriental específica.
Isso acontece na última sequência do filme, com uma estética audiovisual bastante diferente da estética de todo o longa. Sendo utilizada uma imagem com menos qualidade e mais granulada, como uma câmera manual, com fita, entre os anos 2000 e 2001.
Holy Spider consegue ser um filme satisfatório de thriller investigativo, mas falha em tentar transmitir a potência discursiva que o filme tenta trazer sobre pautas sociais, questões machistas e perturbadoras sobre a obsessão por trás da religião. Mas, mesmo com seus pesares, o filme ainda funciona para o entretenimento e discussão política depois da sessão.
Nota: 3/5
Assista ao Trailer:
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