Crítica | Ilha de Ferro – 2ª Temporada eleva o drama dos protagonistas
Lá em 2018, uma série brasileira chamou atenção pela qualidade dos efeitos especiais e uma história ambientada numa plataforma petrolífera. Com rostos conhecidos, como Klebber Toledo, Cauã Reymond e Sophie Charlotte, Ilha de Ferro encerrou seu primeiro ano firmando sua narrativa nos conflitos emergentes e traumas de seus personagens. Dessa vez, a 2ª temporada, logo de cara, é uma explosão de ação, personagens novos e passados obscuros.
Esse texto pode conter spoilers sobre a primeira temporada da série.
Sobre a 2ª temporada de Ilha de Ferro:
Depois da prisão de Bruno (Klebber Toledo), Dante se tornou chefe da plataforma PLT-137, só que as pressões da vida o transformam numa pessoa controladora. Num ambiente isolado como seu local de trabalho, não demora muito para o clima de bomba relógio explodir, onde um incidente faz seu caminho cruzar com a psiquiatra Olivia (Mariana Ximenes), determinada a fazê-lo enfrentar os problemas. Para completar, Júlia (Maria Casadevall) retorna para balançar seus sentimentos e atrapalhar as ambições do irmão, Diogo (Eriberto Leão), presidente da Federativa.
Sempre será um grande desafio criar um novo ciclo de uma série. É preciso dar continuidade aos dramas dos personagens, evoluí-los e movimentar a trama de forma coerente. Disponível no serviço de streaming do Globoplay, a 2ª temporada de Ilha de Ferro conta com 10 episódios.
O novo capítulo de uma história é refém da expectativa dos fãs, assim como detém a obrigação de apresentar algo diferente. Mas, o que acontece quando o “novo” é apenas uma reformulação daquilo que já foi apresentado? Repetir fórmulas narrativas, em muitos casos, pode dar certo, claro! Mas, às vezes, pode ser um tiro no pé.
A todo custo, Ilha de Ferro briga para evidenciar tramas inéditas, quando na verdade elas acabam sendo uma releitura daquilo que já assistimos.
Começando com picos de ação, o primeiro contato com a nova temporada é a descoberta da passagem do tempo. Séries, filmes e novelas já utilizaram esse recurso, ora para engrandecer o roteiro, ora para criar desfechos sem propriamente “mostrá-los”. Portanto, uma passagem de tempo pode ser uma via de mão dupla, beneficiando ou prejudicando o enredo.
Em Ilha de Ferro, passaram-se, aproximadamente, três anos desde que a plataforma PLT-137 foi sequestrada e salva por Dante e os demais petroleiros. Paradoxalmente, tal passagem de tempo torna-se algo positivo e negativo para a trama.
Os anos decorridos acabam apagando os “porquês” de alguns personagens estarem em determinado ponto. Tentam até usar isso como forma de despertar nossa curiosidade, acerca de como eles foram do ponto A ao ponto B. No entanto, tudo soa como uma desculpa para criar uma falsa “evolução de personagem”. Mais uma vez, os coadjuvantes ficam à mercê dos protagonistas para terem importância. Outro ponto, é que a passagem de tempo não afetou em nada as coisas na plataforma, que está sob a direção de um Dante mais truculento que o “normal”.
Leona (interpretada por Sophie Charlotte) foi o grande destaque da 1ª temporada. Cheia de camadas, a atriz foi até o fim para entregar uma performance digna de aplausos. E o que acontece? O roteiro se desfaz da única personagem em terra firme que conseguia se destacar até mais que as figuras presas na plataforma de petróleo. Encerrando o arco dela com o cliché da “carta de adeus“, a trama continua, sem nem ao menos apresentar como isso se sucedeu.
Por outro lado, o salto de três anos apresenta uma nova face de Bruno, vivido pelo ator Klebber Toledo. A vida do ex-piloto de helicóptero, se resume a uma cela de prisão. Encarcerado e vestindo o “manto do arrependimento“, Bruno se torna um homem religioso. Deixando a ganância, a inveja e a sede por dinheiro para trás, o que alimenta sua esperança, além da fé, é conseguir o perdão de seu irmão Dante (que criou a própria sobrinha como filha). Mais uma vez, Klebber entrega uma atuação forte, mesmo com pouco tempo em tela.
O protagonista Dante, vivido por Cauã Reymond é domado por sua “agressividade”, transformando-se num líder antiético e violento; se é que podemos chamá-lo de “líder”! Vivendo sua vida no piloto automático, o personagem fica estagnado na linha do “macho alfa”. O pecado do roteiro é sempre colocá-lo para “salvar o dia”, rotulando-o como o herói da plataforma, mas suas ações se mostram tão tóxicas como uma porção de petróleo que cai no mar e afeta a natureza. A impressão que fica é que a essência do protagonista se perdeu no caos da narrativa.
O texto utiliza alguns momentos para pincelar discussões políticas, como a polêmica ao redor da privatização das empresas estatais. Com personagens berrando aos quatros ventos “O PETRÓLEO É NOSSO!“, fica claro a cutucada nas entrelinhas. A temática teve uma breve passagem na primeira temporada, a diferença é que desta vez ela ganha mais espaço através de Diogo (Eriberto Leão).
Destrinchando o pensamento de que “nenhum homem é uma ilha, completo em si próprio“, frase do filósofo John Donne, o diretor Afonso Poyart (cineasta responsável pelo longa Dois Coelhos) reforça na interação entre os personagens que, mesmo no isolamento, os seres humanos necessitam da convívio social. Até mesmo os moradores que utilizam a Ilha de Ferro como “refúgio”, dependem um do outro. No fim, são os traumas e as falhas que criam laços entre eles.
Novos personagens precisam ser exatamente o que eles são: novos personagens! Precisam vir acompanhados de novos arcos, conflitos e backgrounds. Por mais que existam diferenças entre algumas figuras da trama, o que se percebe é que o roteiro fez uma “substituição”. Olivia (Mariana Ximenes) está para Júlia (Maria Casadevall), assim como Playboy (Erom Cordeiro) está para Bruno (Klebber Toledo).
A previsibilidade é tão grande, que antes mesmo da Olivia conhecer o personagem de Cauã Reymond, fica nítido que os dois terão um relacionamento; sendo ela a nova “Júlia” na vida do estressado Dante.
Ilha de Ferro encerra sua 2ª temporada de forma cansativa. A impressão que fica é que as ideias chegaram ao fim perante a regra de ambientá-las na plataforma petrolífera. O segundo ano da produção entrega mais ação, mais dramas e conflitos, mas o custo disso é um desgaste na história.
Com um enredo que divide o tempo de tela entre a frenética e hostil plataforma de petróleo e a terra firme, focando em alguns poucos personagens, a nova temporada busca usar novos elementos, mas que no fundo são apenas uma “reciclagem” daquilo que já assistimos na temporada anterior. O que suaviza esse tropeço são as principais atuações, que salvam a história do começo ao fim.
Nota: 2,5/5
Assista ao trailer:
Confira a crítica da 1ª temporada clicando aqui.
Veja também: Crítica | O Poço – A Apoteose do Comportamento Humano.
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