CRITICA| Faltando o épico, Kaos é típica série NETFLIX
Ao retratar mitos gregos, Kaos tropeça na falta de rimo e coerência
De Charlie Covell, o mesmo criador de The End of The F***ing World, Kaos é uma série que reimagina mitos e personagens gregos para o século XXI de forma criativa, porém, em retrato tumultuado e inorgânico.
A série pega mitos gregos clássicos e os adapta para o século XXI. Histórias como Orfeu e Euridice, Ariadne e os 5 deuses do panteão grego que foram reservados para a primeira temporada: Hera, Poseidon, Hades, Dionisio e Zeus, são intercalados com outros personagens e histórias que vão de Ovidio à Homero.
Jeff Goldblum como Zeus/ Imagem divulgada pela NETFLIX
Enquanto acompanhamos estes núcleos, conhecemos diversos outros personagens que são jogados de escanteio após fazerem uma coisa que auxilia no andar da narrativa, as Fúrias são o maior exemplo, juntamente com Caronte. Ao final, os fãs de mitologia grega conseguem relacionar personagens que leram tantas vezes em livros, porém, tirando Euridice, Caenus , Ariadne e os deuses, poucos recebem destaquem ou valor por si só.
A mitologia grega é algo presente no imaginário popular e que atrai diferentes públicos, reimaginar isso para os dias atuais é uma mina de ouro, em alguns aspectos a série acerta: a representação de Zeus como um homem inseguro e frágil é o ponto forte da produção, porém, a partir de um problema de tom, a série se perde, e se perde muito.
A partir de uma desconstrução de mitos, deduzidos por Covell que seu público já tem ciência, é criado todo um universo que remete à The Boys e Deuses Americanos, mas, sem o carisma ou a força narrativa apresentada por estas séries, ao tentar adaptar muitas histórias de uma só vez, a série se perde dentro de uma narrativa inflada que se segura pelo carisma de um excelente Jeff Goldblum.
Por conta de uma fotografia e direção de arte típica de série da NETFLIX, ou seja, econômica e sem muitos destaques, momentos épicos se tornam pequenos. Durante toda a série acompanhamos o arco de Euridice no submundo, um lugar inteiramente em preto e branco, porém, a impressão em certos momentos é que somente colocaram um filtro de Photoshop e deixou por isso.
Aurora Perrineu em Kaos- Foto divulgada pela NETFLIX
O forte das séries do streaming acaba sendo as músicas, tendo sido responsável por ressuscitar Kate Bush na 4º temporada de Strager Things , e nisto a série não decepciona, porém, sua maior potência, vira seu maior problema em alguns momentos. Kaos usa a música para determinar sentimentos, seja ABBA como introdução para Dionisio, ou David Bowie para Zeus, porém, diversas vezes a música não bate com a cena e fica tosco, quase cômico, como se a narrativa servisse a trilha, e não o contrário.
Esquecível em sua grande parte, com um gancho para uma segunda temporada ainda maior, que talvez jamais ocorra, Kaos tem seu valor por conta da adaptação de histórias tão preciosas quanto os mitos gregos, porém, ao tentar se tornar algo épico, cai na mesmice e em algo genérico dentro de um serviço de streaming recheado de séries assim.
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